Discursos e Intervenciones

DISCURSO PROFERIDO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NO ENCERRAMENTO DO CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO DE JOVENS REBELDES, NO ESTÁDIO LATINO-AMERICANO, A 4 DE ABRIL DE 1962

Fecha: 

04/04/1962

Companheiros e companheiras: 
Este comício tem para nós uma significação especial, e nós, somos a geração 
—estamos falando de nós— da geração de revolucionários mais velhos, ou seja, a geração adulta de revolucionários. 
E para nós, simplesmente, os que temos uns poucos anos mais do que vocês, este ato tem especial significação, porque este ato é como uma cristalização do que a Revolução deseja, é como se se concretizasse a esperança da Revolução. 
Por que fazemos Revolução? Fazemos Revolução para nós? Não!, fazemos Revolução para vocês (APLAUSOS). Fazemos Revolução por nós? Não!, fazemos Revolução por vocês. Podemos fazer Revolução conosco? Não!, podemos fazer Revolução com vocês (APLAUSOS). 
A Revolução que estamos fazendo nós não é a Revolução que nós queremos; a Revolução que nós queremos é a Revolução que vão fazer vocês. A sociedade que nós vivemos não é a sociedade que nós queremos. A sociedade que nós queremos é a sociedade em que vão viver vocês. 
Coube-nos o privilégio ou o direito de começar a fazer esta Revolução; coube-nos a oportunidade de começar. A vocês lhes corresponderá o privilégio de levá-la adiante.  A nós nos tem correspondido talvez os momentos mais duros, os mais difíceis; nos coube o momento da Revolução em que as idéias têm que abrir-se passo por entre a floresta dos prejuízos, dos hábitos, dos costumes e das idéias da sociedade velha. 
 
Coube-nos lidar com toda a herança que nos deixou o passado. Mas em câmbio, confessamos que sentimos uma emoção profunda; sentimos uma compensação muito grande quando começamos ver em vocês, quando começamos ver neste contingente imenso de jovens, os frutos da Revolução que estamos fazendo. Quando começamos ver nesta multidão de jovens o povo do amanhã; quando começamos ver em vocês a imagem do porvir, quando começamos ver em vocês a justeza da obra da Revolução. 
Nossos jovens, os jovens cubanos têm um direito muito grande a todo o carinho do povo, à admiração do povo, ao respeito do povo. Nossos jovens, os jovens cubanos têm muitas razões para se sentirem orgulhosos, têm muitas razões para se sentirem satisfeitos. 
Por que olhamos para os jovens com admiração? Por que olhamos para os jovens com carinho?  Olhamos com admiração e com carinho para os jovens porque os jovens têm feito muito por esta Revolução nossa (APLAUSOS), porque os jovens têm escrito páginas de heroísmo muito grande nesta Revolução nossa; porque os jovens nos têm dado razões a mais em todas as ordens para ter fé nos jovens. Por tudo o que têm feito os jovens, por tudo o que têm feito na história da nossa pátria, por tudo o que têm feito na história da nossa Revolução; é pelo que acreditamos nos jovens, acreditamos nos jovens, acreditamos nos jovens —e repito— porque acreditar nos jovens significa uma atitude, acreditar nos jovens significa um pensamento. 
Acreditar nos jovens determina uma conduta, e nossa conduta, dirigentes revolucionários, não seria a mesma; se não tivéssemos fé nos jovens, se não acreditássemos nos jovens, nossa conduta e nossa atitude seria diferente; nosso trabalho com os jovens seria diferente e os resultados, caso não acreditar ou no caso em que se acreditar, seriam também muito diferentes. 
É necessário que acreditemos nos jovens.  Acreditar nos jovens não é ver nos jovens a parte do povo simplesmente entusiasta; não é ver nos jovens aquela parte do povo entusiasta mas irreflexa; plena de energia, mas incapaz, sem experiência. Acreditar nos jovens não é ver os jovens simplesmente com esse desdém com que muitas vezes as pessoas adultas olham para a juventude.
 
Acreditar nos jovens é ver neles além de entusiasmo, capacidade; além de energia, responsabilidade; além de juventude, pureza, heroísmo, carácter, vontade, amor à pátria, fé na pátria!  (APLAUSOS), Amor à Revolução, fé na Revolução, confiança em si mesmos! Convicção profunda de que a juventude pode, de que a juventude é capaz, convicção profunda de que sobre os ombros da juventude se podem depositar grandes tarefas. 
Acreditar na juventude é ver na juventude a melhor matéria-prima da pátria, a melhor matéria-prima da juventude, da Revolução; acreditar na juventude é olhar tudo o que nossa juventude pode fazer; é ver nessa juventude os dignos continuadores da obra revolucionaria; é ver na juventude os melhores continuadores ou construtores da obra revolucionaria, melhores ainda do que nós próprios.
Acreditar na juventude é ver neles a geração do amanhã, uma geração melhor do que nossa própria geração, uma geração com muitas mais virtudes e muitos menos defeitos que as virtudes e os defeitos da nossa própria geração.
Porque acreditamos nos jovens, é porque temos uma determinada atitude perante os jovens. Mas é que os jovens do nosso país se ganharam essa fé; os jovens do nosso país ganharam esse direito à nossa admiração.
Nossa juventude, na luta contra a tirania deu todo seu esforço; nossa juventude rendeu, em prol da Revolução e da pátria, um altíssimo tributo de sacrifício, de sangue e de vida.  A história da Revolução, a história da luta do povo contra a tirania, está escrita com a lista interminável de jovens que tombaram nessa luta, está escrita com a lista interminável dos que morreram (APLAUSOS), rol interminável de heróis, rol interminável de combatentes que morreram, lutando frente aos opressores, nas cidades, nos campos, nas montanhas e em todas as frentes de batalha. 
Mas, essa mesma juventude não só escreveu páginas de heroísmo na luta contra os opressores e pela conquista do poder, mas que já no poder a Revolução, nossos jovens têm escrito páginas igualmente brilhantes e heróicas na luta defendendo a pátria frente ao imperialismo e na luta por levar adiante a Revolução. 
 
Foram jovens os que se inscreveram nos contingentes de mestres para ir ensinar às escolas das montanhas; foi um jovem, Conrado Benítez (APLAUSOS), o primeiro mártir na luta contra a incultura; e foi outro jovem, Manuel Ascunce (APLAUSOS), que deu sua vida heroicamente face aos bandos do imperialismo durante a Campanha de Alfabetização. 
Nossos jovens se têm distinguido singularmente na defesa da pátria. Foram jovens de 15 a 20 anos nossos artilheiros antiaéreos (APLAUSOS), que com tão extraordinário valor se enfrentaram aos aviões inimigos; foram igualmente jovens nossos artilheiros antitanques (APLAUSOS). E de novo, nos combates por defender a Revolução dos ataques do imperialismo, os jovens pagaram também um alto tributo de vidas. Mas, não só no combate, não só na guerra, mas também que nossos jovens nas tarefas pacíficas, na obra criadora da Revolução, têm escrito também uma das tarefas mais gloriosas, que foi sua contribuição de 100 000 brigadistas para erradicar o analfabetismo em nossa pátria em um ano (APLAUSOS).
E que página mais formosa que esta, que tarefa mais útil que esta?!: o fato de que 
100 000 jovens cubanos, em um país relativamente pequeno, tenham respondido ao chamamento e tenham marchado às montanhas, e tenham permanecido ali durante longos meses, e tenham cumprido a tarefa que lhes foi encomendada, e que justifica todo o prestígio da nossa juventude e toda a fé que nós temos nos nossos jovens. 
Quisemos sublinhar esses feitos, porque precisamos que a juventude cubana seja ciente disso, necessitamos que a juventude cubana tenha uma grande fé em si própria e que a juventude cubana tenha uma grande consciência de sua extraordinária responsabilidade. Tudo o que temos dito não significa senão que temos uma grande juventude, que temos uma grande matéria-prima, que nessa base, nessa matéria-prima tem de trabalhar a Revolução. 
A Revolução precisa que cada jovem tenha em si mesmo uma grande confiança, a Revolução precisa que cada jovem tenha em si mesmo um alto sentido da responsabilidade, a Revolução precisa que cada jovem tenha um alto nível de preparação política, que cada jovem encerre um grande entusiasmo, que cada jovem tente se forjar um carácter, que cada jovem tente fazer de si mesmo um grande revolucionário. Com todas essas virtudes, com todas essas características da nossa juventude, devemos trabalhar. 
Tudo o que temos dito significa por acaso que cada jovem deva sentir-se já um revolucionário? que cada jovem se considere já um grande revolucionário? que cada jovem se considere já um revolucionário formado, um revolucionário completo? Sim ou não? Cada jovem já se considera um revolucionário completo? (GRITOS DE: “Não!”)  Não!  Porquê, companheiros, porquê ainda não se pode considerar nenhum jovem um revolucionário completo? Porque o revolucionário tem que se fazer, o revolucionário tem que se forjar. Mas é muito importante que tenhamos uma visão clara do que deve ser um jovem revolucionário. 
E quem terão direito a se chamar Jovens Comunistas? É por acaso um extremismo batizar a organização juvenil com o nome de União de Jovens Comunistas? Não! Não!  Porque, precisamente, a função dessa organização é formar jovens que tenham uma atitude comunista face a sociedade e face a vida; de formar jovens que hão de viver em uma sociedade nova, em uma sociedade diferente, em uma sociedade muito diferente da sociedade em que temos vivido. A missão dessa organização é formar jovens capazes de construir essa sociedade e de viver nessa sociedade. 
Nossa atual geração não está capacitada para viver nessa sociedade, nossa atual geração não está preparada para viver nessa sociedade. Nossa atual geração é uma geração que cresceu e se educou sob a sociedade capitalista. 
A sociedade capitalista era a sociedade da exploração, em primeiro lugar, a sociedade do privilégio, a sociedade da discriminação, a sociedade da desigualdade, a sociedade do egoísmo, a sociedade em que o homem era o inimigo do homem. Nessas idéias, nesses costumes foi educada nossa geração, com toda a seqüela de prejuízos, de privilégios, de desigualdades e de egoísmos que no carácter e na mente de cada cidadão tinha que gravar essa sociedade. 
 
A existência de classes exploradas e de classes exploradoras trouxe consigo essa tremenda pugna de interesses, essa tremenda luta de classes, esse choque de interesses, esse choque de classes que deixa também marcas profundas na mente e no carácter dos cidadãos. 
Todos sabemos, inclusive, de casos de famílias divididas, onde o pai ou a mãe tinham uma posição perante a Revolução e o outro cônjuge tinha outra posição. Todos sabem de casos de famílias divididas em que a mãe ou o pai se encontram no estrangeiro, e às vezes os filhos separados dos pais, ou uma parte da família no estrangeiro e outra parte no país. Todos sabem que esse choque de classes, esse choque de interesses, deixou suas marcas, inclusive no seio de muitos lares. Essa é a conseqüência inevitável do que era a sociedade capitalista, a sociedade de exploradores e explorados. 
Isso não voltará a acontecer jamais em nossa pátria. Jamais no futuro existirão esses choques; jamais no futuro se dividirão os pais entre si nem os pais dos filhos, porque no futuro terão desaparecido para sempre as causas que motivaram essas tremendas e dolorosas divisões, as causas que originaram essas feridas. Porque no futuro não voltará a existir jamais, não voltará a existir jamais em nossa pátria, e no futuro existirão cada vez menos no mundo, sociedades de exploradores e explorados, de privilegiados e discriminados! Desaparecerão essas causas econômicas e sociais que originam esses antagonismos no seio das sociedades humanas. 
A sociedade do futuro será uma sociedade sem antagonismos sociais, uma sociedade sem exploradores nem explorados, uma sociedade sem privilegiados nem discriminados. 
E que bem vale a pena todo o sangue que foi derramado e todos os sacrifícios que foram feitos para poder dizer isto: que nossa sociedade será uma sociedade sem exploradores nem explorados, sem privilegiados nem discriminados!  (APLAUSOS.) 
E cada cidadão terá o hábito de olhar seus semelhantes não como seu inimigo, senão como seu irmão, não o homem fera, contra o qual tenha que se defender, mas o homem verdadeiramente humano, no qual tem um irmão, no qual tem quem lhe ajuda; não verá em seus semelhantes o superior ou o inferior, verá em seus semelhantes seu igual; e não verá privilégios, senão méritos, visto que o mérito há de ser o que distinga um cidadão de outro, visto que o mérito será a única regra que poderá ser aplicada a cada cidadão. 
Viveremos em uma sociedade sem egoísmos; viveremos em uma sociedade sem ódios; viveremos em uma sociedade onde todos estarão trabalhando para cada um e onde cada um estará trabalhando para todos (APLAUSOS). Esse mundo será muito melhor; esse mundo será muito mais feliz. 
Na sociedade capitalista o homem era um ser isolado, um ser encurralado; se ficava sem trabalho ninguém o ajudava; se adoecia, ninguém o ajudava; se morria não podia esperar que ninguém ajudasse seus filhos, seus filhos seriam pés-rapados, seus filhos andariam descalços, seus filhos passariam fome, seus filhos seriam igualmente explorados. 
Na sociedade capitalista o homem não podia esperar nada dos seus semelhantes, como não fosse o mal, como não fosse prejuízo. 
Na sociedade socialista e na futura sociedade comunista que vier depois, cada homem, cada criança, cada mulher, cada jovem, cada idoso, terá a ajuda e o apoio de milhões dos seus semelhantes. Todos os braços se movimentarão para vestir e calçar uma criança órfã! Todos os braços se movimentarão para alimentar essa criança desvalida, para alimentar o idoso, para alimentar o doente, para alimentar e ajudar o inválido!  Cada cidadão poderá contar com a energia e com os recursos de todos seus semelhantes, de toda a sociedade, para alimentá-lo se tiver fome, para curá-lo se padecer alguma enfermidade, para ajudá-lo se for um desvalido, para sustentá-lo se já não pode trabalhar. Essa é a sociedade socialista, e ainda mais perfeita será a sociedade comunista!  (APLAUSOS.) 
Todos trabalharemos para todos; todos trabalharemos quanto seja nossa capacidade para trabalhar, e todos receberemos quanto sejamos capazes de necessitar; essa será a sociedade comunista; essa será a sociedade em que hão de viver vocês; essa será a sociedade pela qual haverão de lutar e haverão de trabalhar vocês (APLAUSOS). 
 
A sociedade socialista é ainda imperfeita, leva consigo muitas imperfeições ainda, contudo, é muito superior à sociedade capitalista. 
Nosso povo nem sequer está vivendo ainda em uma sociedade socialista; nosso povo tem empreendido o caminho do socialismo e está construindo uma sociedade socialista, mas essa não é mais do que uma etapa incontornável de trânsito, uma etapa que não se pode pular. Nossa geração viverá nessa sociedade socialista, e vocês viverão na sociedade comunista (APLAUSOS). 
Naturalmente que nesta etapa de trânsito devemos ter sempre muito presente isso, que é uma etapa de trânsito, e todas as posições que possamos ganhar para construir o futuro, para construir essa futura sociedade comunista, devemos ganhá-la; quantos avanços de maneira realista possamos fazer, devemos fazê-lo. 
Essa deve ser nossa norma: construir realistamente o presente, prever audazmente a construção do futuro. 
E vocês têm uma grande responsabilidade na construção desse futuro. 
Com este comício fica encerrado o Congresso. Neste Congresso já foi adotado um nome, União de Jovens Comunistas.  Ora bom, serão necessários requisitos muito especiais para pertencer a essa organização; serão necessários requisitos muito especiais para pertencer a uma célula da União de Jovens Comunistas. 
E qual será o critério? Acaso um critério sectário? Não. O critério será, simplesmente, a qualidade e o mérito de cada jovem. Nisso não pode influir nenhum tipo de afeição, nenhum tipo de falso companheirismo; não devem influir critérios subjetivos.
Para pertencer à organização é preciso dar provas contundentes e indubitáveis que se trata em todo caso de um jovem verdadeiramente modelo, de um jovem verdadeiramente digno de ser chamado Jovem Comunista. 
Não será fácil, não será fácil, porque ser Jovem Comunista não significará privilégio de tipo algum, senão tudo o contrário: ser Jovem Comunista significará sacrifício, significará renunciação, significará abnegação; ser Jovem Comunista significará que por sua conduta, onde quer que estiver esse jovem, poderá contar com o reconhecimento e com a admiração de todos os demais jovens, com o reconhecimento indiscutível e a admiração ilimitada, por sua conduta, de todos os demais jovens. Não será, de maneira nenhuma, que conte com o reconhecimento porque alguém o tenha assinalado a dedo, porque alguém o tenha nomeado a dedo ou porque alguém o tenha situado em um cargo determinado. O princípio, agora e sempre, terá que ser o princípio da qualidade e do mérito. Não será uma autoridade transferida, não será a autoridade que a organização lhe dê a esse jovem, senão que a autoridade desse jovem deve proceder, essencialmente, do seu comportamento, da sua conduta e dos seus méritos perante as massas. E não será, como às vezes acontece, que a organização dê prestígio e dê autoridade ao jovem, senão precisamente ao contrário: que o prestígio e a autoridade que esse jovem tenha perante as massas seja prestígio e autoridade que esse jovem transfere a sua organização (APLAUSOS). 
Achamos que isso é bem claro. Não se trata de que algum jovem diga: “tenho autoridade diante deste centro de trabalho, diante deste centro de estudo, porque sou Jovem Comunista”, mas “sou Jovem Comunista, porque tenho autoridade, mérito e prestígio perante todos”, que são duas coisas muito diferentes (APLAUSOS). 
Assim tem que ser hoje e assim terá que ser sempre. Porque a partir de hoje, em tudo, devemos ir forjando normas de organização, a partir de hoje temos que ir aplicando uma política de métodos corretos e de princípios revolucionários; quando não se aplicam os métodos e os princípios, mais tarde ou mais cedo saem as conseqüências. 
Todos não poderão ser Jovens Comunistas. Jovens Comunistas poderão se chamar só aqueles que, por sua conduta e por seus méritos, sejam credores de pertencer a essa organização. 
E o quê fazer com um jovem que tem primeiro uma boa conduta, uma grande conduta, um grande mérito, e ao cabo dos anos ou passado certo tempo começa a deixar de ter essas virtudes e esses méritos?  Pois, simplesmente, é preciso dar-lhe baixa da organização, porque o fato de ter adquirido esse direito não significa um direito vitalício, um direito perpétuo, mas que esse direito ganho por seus méritos tem que saber mantê-los uma vez que tem sido nomeado membro da organização. 
 
Somos partidários de que as normas sejam rígidas, porque só isso será o que lhe dê verdadeira qualidade, e, sobretudo, companheiros e companheiras, porque é muito importante que quando ao povo lhe digam “esse é um Jovem Comunista”, todo o povo saiba que se trata de um jovem pleno de méritos e um jovem pleno de virtudes.  Porque o pior que nos pudesse acontecer é que um jovem membro da organização se comporte incorretamente, se comporte indevidamente, porque então não só desprestigia a Revolução e desprestigia a organização, mas que, inclusive, desprestigia o comunismo (APLAUSOS). 
E desde agora é preciso cingir-se a normas que garantam que o povo possa ter absoluta fé nos membros da União de Jovens Comunistas, ou seja, nos Jovens Comunistas. 
O jovem que em virtude de que no Estado lhe seja destinado algum cargo, um cargo de confiança, bem remunerado, que sem ter família que sustentar, sem ter grandes necessidades, recebe um salário de $500.00 e fica tão tranqüilo e começa a desfrutar desse salário, superior a todas suas necessidades, esse jovem não poderá ser um Jovem Comunista, não poderá chamar-se um Jovem Comunista (APLAUSOS). 
Ninguém está chamado, ninguém está chamado ou está obrigado a pertencer à União:  é uma associação absolutamente livre de jovens revolucionários, mas que não significará privilégios em nenhum sentido, senão sacrifícios, para que se saiba que aí nessa organização vai se procurar sacrifício, abnegação e renunciação. 
Quer dizer, que é preciso ter febra para ser um Jovem Comunista, é preciso ter carácter para ser um Jovem Comunista, é preciso ter abnegação para ser um Jovem Comunista, é preciso ter vocação para ser um Jovem Comunista, é preciso saber cumprir. Se for um estudante, é preciso ser inexoravelmente bom estudante; se for trabalhador de uma fábrica, é preciso ser operário modelo nessa fábrica; é preciso ser exemplo de bom companheiro, é preciso ser exemplo de sacrifício, é preciso ser exemplo de vontade; hão de ser os primeiros em tudo, no trabalho, no estudo, nos esportes, na vida de relação com os demais companheiros. 
 
O jovem orgulhoso não pode ser um Jovem Comunista. O Jovem Comunista há de ser, antes do mais, um companheiro modesto, porque a modéstia é uma das primeiras virtudes do revolucionário (APLAUSOS). Aquele que se julgue superior aos demais, ou que trate os demais com espírito de superioridade, não pode ser um Jovem Comunista; aquele que lhe esfregar a outro suas presumíveis virtudes, não pode ser um Jovem Comunista; aquele que negar a outro o companheirismo, aquele que negar a outro a ajuda, aquele que negar aos demais o braço generoso para ajudá-lo, quem deseje afundar um jovem, esmagá-lo, em vez de ajudá-lo, não pode ser um Jovem Comunista (APLAUSOS). Porque o Jovem Comunista tem que ser um apóstolo de suas idéias, um predicador de suas idéias, e tem que predicar, em primeiro lugar, com o exemplo; tem que conquistar jovens e não afastar os jovens. 
Aquele que afastar jovens de si com seus métodos despóticos, com seu desprezo e com sua falta de generosidade para com os outros jovens, não pode ser um Jovem Comunista.
O Jovem Comunista tem que ganhar-se os demais jovens, conquistá-los para sua causa; ganhá-los com seu exemplo; atrai-los às fileiras da Revolução; ajudá-los, ensiná-los, dando-lhes oportunidade de aprenderem, dando-lhes oportunidade de retificarem. Um Jovem Comunista não pode albergar ódios; o ódio do Jovem Comunista é para com os exploradores, para com os inimigos da Revolução, para com os exploradores da humanidade, para com os imperialistas, para com os amadores das guerras. 
Para com o jovem companheiro de estudos não pode, não deve sentir ódio; deve sentir afeto, deve tentar ganhar, deve somar. É bom sublinhar isto, porque tem pessoas que teve o sistema de afastar gente da Revolução em vez de atrair; estender a ponta do pé aos demais, em vez de estender-lhes aos outros a mão; ganhar inimigos para a Revolução, em vez de atrair amigos à Revolução.
O dever da Revolução, o dever de cada revolucionário, é ganhar, somar, e não perder, não restar. Acercar à Revolução e não afastar da Revolução. Mas se essa norma é correta para qualquer revolucionário, o é ainda mais para os jovens. É preciso que entre os jovens exista respeito, é preciso que entre os jovens exista lealdade, é preciso que entre os jovens existam normas de relações humanas. 
Companheiros, é muito importante saber manter normas de relações humanas; ajudar um companheiro quando está deprimido, não desencorajá-lo, não zombar dele, não fazer gracejos às custas dele. É muito importante que se temos uma opinião de um companheiro sobre um defeito, não andar falando com mais cinqüenta companheiros e fazendo aos demais uma opinião negativa desse companheiro. O correto é ir diretamente ao companheiro e assinalar o defeito (APLAUSOS). 
Não fazemos nenhum favor a um jovem quando saímos por todas partes falando mal de seus defeitos; fazemos-lhe um favor verdadeiro se vamos ter com ele e falamos do assunto. Quando em vez de assinalá-lo pelas costas o fazemos na célula, ou na assembléia da aula, ou na assembléia da fábrica ou no nível onde corresponda. 
Assim faremos críticas positivas; assim faremos um favor aos demais. Temos dito em uma ocasião: guerra ao sectarismo; ora bom, digamos agora: guerra à intriga, guerra à fofoca, guerra ao boato pelas costas, guerra à incivilidade (APLAUSOS), guerra à mentira, guerra à hipocrisia, guerra à insinceridade! 
O que tenha de ser dito de um companheiro, é preciso falá-lo para ele e não a outros; é preciso dizê-lo de frente e não pelas costas!  (APLAUSOS.) 
Mas, além disso, é preciso ser compreensivos, é preciso ajudar e não fulminar um jovem; é preciso dar-lhe oportunidade de retificar, é preciso dar-lhe oportunidade de educar-se, é preciso dar-lhe oportunidade de mudar. 
É claro, nos estatutos está que o jovem que não seja modelo de trabalhador não pode ser Jovem Comunista; que o jovem que desaprove o curso, o jovem que não passe de ano, não pode ser Jovem Comunista (APLAUSOS). 
Bom trabalhador, bom estudante, bom esportista. A organização tem seus militantes profissionais, seus quadros que se dedicam o tempo todo ao trabalho. Bom, mas aquele que estuda na Universidade, que estuda nas escolas tecnológicas, ou nos centros pré-universitários, ou em qualquer centro, tem que aprovar seu curso. Se não aprovar o curso, automaticamente deixa de ser membro da União de Jovens Comunistas (APLAUSOS). 
 
O Jovem Comunista, além disso, tem que estar disposto a dar sua vida pela Revolução e pela pátria sem hesitar (APLAUSOS). Essa é condição essencial de todo Jovem Comunista. E assim o carácter e o conceito do Jovem Comunista tem que ir formado de todos esses atributos, de todas essas qualidades, de todas essas virtudes, de maneira que ser Jovem Comunista constitua o mais alto, o mais assinalado e o mais prezado galardão de todo jovem. 
Já não se trata apenas de nós; trata-se de que nossa juventude deve também ser exemplo para a juventude revolucionária na América Latina; trata-se de que nossa juventude marcha à vanguarda. 
América Latina é um continente convulsionado pela onda revolucionária que se desata. Os imperialistas tentam deter essa onda, tentam conseguir o impossível de impedir o avanço dessa onda revolucionária; porém mais do que uma onda revolucionária, é uma verdadeira tromba-d’água revolucionária que varrerá com o imperialismo nos nossos povos da América Latina (APLAUSOS). 
As contradições se agudizam cada vez mais, o desprestígio do imperialismo é cada vez maior e se enreda cada vez mais nessas contradições.
O que acaba de acontecer na Argentina é um verdadeiro exemplo. Perderam a “folhinha de parra”. Sua democracia representativa acaba de ser alvo de um dos mais desvergonhados atos de violência e de força. Até os próprios fantoches do imperialismo sucumbem perante a agudização das contradições, perante a violência da reação pró-imperialista. 
Assim vemos que em umas eleições, as forças populares obtêm a vitória e no outro dia intervêm aqueles Estados ou províncias onde tinha sido derrotado o regime pró-imperialista. Aos poucos dias pela força demitem o que estava exercendo como Presidente Constitucional. 
Faz verdadeiramente muita graça ver o estupor dalguns farsantes. Os fatos na Argentina colocam tão ao desnudo o imperialismo que o governo imperialista dos Estados Unidos luz verdadeiramente desconcertado diante dos acontecimentos, que não são mais do que o fruto de sua própria política intervencionista. 
Enquanto isso, por outra parte, o quê faz o senhor Rómulo Betancourt? Como age o senhor Rómulo Betancourt? O senhor Rómulo Betancourt retira seu embaixador da Argentina, ruborizado diante dos fatos, quer dizer, simulando estar ruborizado, porque quem é o senhor Rómulo Betancourt, senão um agente reacionário do imperialismo, assassino de operários e estudantes, assassino de camponeses, encarcerador de milhares de cidadãos, que a sangue e fogo mantém um regime de concessões e de entrega aos monopólios imperialistas? E agora, como reage perante o caso da Argentina? Pois, reage, simplesmente, como uma prostituta ruborizada (APLAUSOS). 
São as contradições do imperialismo na América Latina. 
O quê ocorre em Equador? Em Equador ocorre o mesmo que na Argentina. Todo o mundo sabe que em Equador o senhor Arosemena chegou ao poder apoiado pelos operários, pelos camponeses e pelos estudantes. Ao chegar ao poder nomeia um gabinete de reacionários, onde não tinha um só estudante, um só operário, nem um só camponês. Não obstante, mantinha-se firme no propósito de manter relações com o Governo Revolucionário cubano. As relações com Cuba eram a prova definitiva de sua atitude como governante, de sua postura como governante. 
Bastou uma visita de um general ianque, chefe das tropas ianques no Comando do Caribe; bastou uma visita à cidade de Cuenca, em Equador, o quê tinha lá na cidade de Cuenca? Na cidade de Cuenca estavam treinando uma tropa anti-guerrilha. Oficiais ianques estavam treinando uma tropa anti-guerrilha na cidade de Cuenca. 
O chefe das forças ianques no Caribe visitou essa tropa na cidade de Cuenca e dali mesmo, aos poucos dias saiu o ultimato ao Presidente da República para que rompesse com Cuba. Esse ultimato chegou e contou com o apoio imediato do Primeiro Chefe e do Segundo Chefe das Forças Armadas, que eram elementos conhecidamente reacionários. 
Tínhamos certas notícias de Equador, algumas delas desencorajadoras. Sabíamos que o gabinete era reacionário, sabíamos que o Primeiro Chefe e o Segundo Chefe do Estado-Maior do Exército eram elementos pró-imperialistas e reacionários. Sabíamos que o senhor Arosemena passava o tempo completamente embriagado desde segunda-feira até o domingo, nalgumas ocasiões. Sabíamos disso.  Sabíamos que o Presidente desse irmão país se tinha entregado à bebida de uma maneira desenfreada. Disso sabia também todo o povo do Equador, é claro; os reacionários aproveitavam isso, os reacionários se encarregavam de fazer fotografias deste senhor no meio de pândegas e no meio de bebedeiras. De maneira que aa perdendo cada vez mais sua autoridade, contudo, Arosemena dizia, e repetia uma e outra vez, que não romperia com Cuba, que a ele ninguém o poderia obrigar a romper com Cuba; que ele não era Frondizi; que tinham que matá-lo, que ele seria capaz de qualquer coisa antes que romper com Cuba. 
E nós confiávamos em sua firmeza de propósito. Não o tínhamos por um homem covarde, não considerávamos que fosse um homem covarde. Todo o contrário, considerávamos que teria valor para se opor aos militares. 
Em seus momentos de cordura, como em seus momentos de lazer, e em seus momentos de embriaguez sempre repetia que ninguém o faria romper relações com Cuba. Tudo indicava que teria ao final uma postura digna, que teria ao final um gesto. 
Não sabemos se terá ou não terá na última hora um gesto, talvez reaja, mas infelizmente regerá tarde demais. A partir do momento que aceitou a imposição dos militares, a partir do momento que aceitou a exigência dos militares para romper com Cuba, Arosemena deixou de ser o governante de poder. Desde esse momento renunciou a sua investidura em favor dos foros militares; desde esse momento será um prisioneiro dos militares, porque essa ação marcou seu divórcio total com as massas populares, seu divórcio total com as massas operárias, camponesas e estudantis. 
A partir do momento que renunciou a esse apoio, mal poderá encarar doravante a exigência dos militares, mal poderá liberar-se das ataduras, mal poderá liberar-se das cadeias do militarismo. Porque antes tinha povo, antes pôde mobilizar os operários, os camponeses, os estudantes; agora não, agora está sozinho com os reacionários; agora está sozinho com os militares e lhe farão ao final o mesmo que a Frondizi. Qualquer dia, em uma dessas bebedeiras o apanham e o levam para uma embaixada. Qualquer dia acorda em uma embaixada. 
 
Se calhar os militares atuem com ele pior do que com Frondizi, porque ele tem sido mais covarde que Frondizi, porque ele resistiu menos que Frondizi, porque Frondizi faz muito tempo que não tinha povo, faz muito tempo que não tinha nem podia ter apoio de operários, de estudantes e de camponeses; e Arosemena podia ter e teria tido o apoio das forças populares para resistir a pressão dos militares, tendo força  para resistir, não resistiu, resistiu menos que Frondizi, foi mais covarde que Frondizi. O que dizia que não era Frondizi, tem resultado ser menos do que Frondizi, e o pontapé, que ao fim e ao cabo lhe darão os militares, será um pontapé maior que o que lhe deram a Frondizi (APLAUSOS). 
Aí têm os jovens latino-americanos o que significam as escolas de oficiais anti-guerrilhas, o que significam os treinos de tropas anti-guerrilhas, aí têm: tropas para impor-se pela força aos governos, para arrastar os governos a posturas cada vez mais e mais reacionárias.
Mas, o quê significa isto? Significa, acaso, que se afasta a possibilidade revolucionária?  Não!, significa que se aproxima. Significa, acaso, que desaparece nas condições objetivas da revolução latino-americana? Não!, significa que essas condições objetivas para a revolução latino-americana se apresentam em grau cada vez maior e cada vez mais evidente; significa que as forças se polarizam, que as contradições se agudizam, que a onda revolucionária da América Latina cobra altura, que o imperialismo pressiona os governos e se entrincheira nas posições mais reacionárias, e mobiliza os setores mais reacionários, aos militaristas, aos latifundiários, aos exploradores e a todos os elementos mais negativos, para enfrentá-los aos povos. 
Esses treinos de forças anti-guerrilhas significam que poderão esmagar os povos?  Não!, porque contra a revolução, contra a rebelião dos povos não se tem inventado ainda nenhuma tática eficaz; contra a luta dos povos por sua liberação não se tem inventado ainda nenhuma tática, nenhuma escola. Os fracassos do imperialismo no Vietnã do Sul, país pequeno em população e pequeno em extensão, demonstra que os imperialistas, por muitas escolas anti-guerrilhas que organizem, não poderão impedir a luta dos povos por sua independência. E o fato de que se tomem tanto interesse em organizar escolas anti-guerrilhas revela o temor do imperialismo às guerrilhas revolucionárias, revela o temor do imperialismo à tática que tornou possível o triunfo da Revolução em nossa pátria, revela o medo do imperialismo às condições que tornariam invencível a revolução latino-americana se sabe aproveitar a experiência da Revolução Cubana, se sabe recolher e utilizar, com espírito criador aplicado às condições objetivas de seus respectivos países, as táticas da Revolução Cubana. 
O fato é que ao cabo de um ano de “Aliança para o Progresso”, os próprios jornais imperialistas já a estão chamando de “Aliança que não progride”, e em realidade tem sido a “Aliança do retrocesso”, a “Aliança do fracasso”. 
Cada vez é mais forte o sentimento revolucionário dos povos da América Latina, cada vez são maiores as contradições, cada vez é maior o desprestígio do imperialismo, cada vez é mais evidente a fraqueza da reação. O quê quer dizer tudo isto?  Quer dizer que estamos perante um grande minuto, uma grande hora revolucionária; que estamos  no limiar da grande revolução latino-americana, que os povos da América Latina têm empreendido o caminho de sua libertação e nada nem ninguém os poderá deter; que estamos diante de um continente que acorda, que estamos diante de grandes massas de operários, de camponeses, de estudantes, de jovens que se erguem para lutar pelas mesmas coisas que temos lutado nós, para fazer —igual do que nós— suas revoluções contra o imperialismo, contra o feudalismo e contra a exploração. 
É importante que nossos jovens tenham presente que sua obra, seu exemplo, não só será útil à pátria, senão que será útil também a todos os povos da América Latina, que nossas experiências servirão também aos povos irmãos da América Latina, aos jovens da América Latina. Por isso é tão importante a missão que vocês têm, a missão de serem não só abandeirados do futuro, da sociedade mais perfeita, da sociedade comunista; não só de serem os abandeirados das idéias do porvir, senão serem também o exemplo —como o é nossa Revolução— dos jovens da América, serem também os abandeirados dos ideais de todos os jovens da América Latina.
 
Viva a União de Jovens Comunistas!  (GRITOS DE:  “Viva!”)
 
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)

VERSÕES TAQUIGRÁFICAS