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Fidel da América

Data: 

02/12/2016

Fonte: 

Prensa Latina

Autor: 

Mesmo para nós, que já somos velhos, é difícil lembrar de uma América Latina que não tivesse a marca de Fidel Castro e da Revolução Cubana.
 
Poucas vezes pode se dizer de maneira tão correta que todo um ciclo histórico esteja tão profundamente marcado pela inteligência, valentia, perseverança e audácia de uma única pessoa como é o caso da América Latina e Caribe e o autor do ataque ao Quartel Moncada em 26 de julho de 1953.
 
Ao derrocar Batista, a Fidel Castro foram abertos dois caminhos. Poderia ter escolhido a rota do reformismo, com o apoio das classes dominantes e o respaldo incondicional dos Estados Unidos. Os governos da região o teriam recebido com braços abertos e teria diante de si um comodíssimo futuro pessoal e político de sucessos ininterruptos, sem outra preocupação que a de administrar de maneira dócil os interesses dos Estados Unidos e das classes proprietárias naquela ilha superdotada pela natureza e tão tentadoramente perto da Flórida.
 
O caminho alternativo era bem mais atrevido, repleto de perigos, infinitamente mais difícil. Era o de impulsionar uma revolução social verdadeira, criando uma sociedade igualitária que fizesse da palavra democracia, não uma mera consigna, mas uma realidade social.
 
Mas não se trataria apenas de conseguir a criação do socialismo em Cuba, mas de ser promotores e aliados desses objetivos revolucionários em toda a América Latina e no resto do Terceiro Mundo.
 
A rota revolucionária implicaria o confronto aos Estados Unidos e se converter no alvo da ira e da agressão violenta daquele país.
 
Quando digo agressão contra Cuba, estou falando de invasões e ataques militares e, quando digo ira contra Fidel, me refiro às múltiplas tentativas documentadas de assassiná-lo. Mais de 50 anos durou o asfixiante bloqueio econômico.
 
Essa luta titânica por preservar a soberania de Cuba contra os Estados Unidos se converteu na luta pelo direito à soberania da América Latina e Caribe e sua livre determinação e independência, tantas vezes violentadas pelos Estados Unidos.
 
Até a África chegou o braço solidário da Revolução, onde as tropas internacionalistas cubanas em Angola foram decisivas para descolonizar a Namíbia e romper a coluna dorsal do regime do apartheid na África do Sul.
 
Na América Latina, não teve país no qual os lutadores pela dignidade e pela justiça social não tenham recebido de Cuba apoio, solidariedade e inspiração.
 
Tive a sorte de conhecer Fidel e estar com ele em várias ocasiões quando acompanhei Rubén Berríos a Havana; em duas delas, pudemos conversar os três durante muitas horas durante as quais nunca deixou de me surpreender seu conhecimento preciso sobre Porto Rico e a intensidade de seu compromisso com a causa de nossa independência.
 
À herança martiana, Fidel acrescentava seu profundo acervo geopolítico no qual estava marcada sua visão estratégica sobre nossa luta. Nunca duvidou da inevitabilidade de nossa vitória.
 
Quando uma vez agradeci o apoio da Revolução à nossa independência, me corrigiu dizendo que 'era Cuba que estava em dívida com o Porto Rico, pois enquanto centenas de porto-riquenhos tinham lutado na selva durante a guerra de independência, nenhum cubano tinha morrido pela independência do Porto Rico'.
 
Fidel nos deixou a todos um legado que não tem preço. A possibilidade de uma América Latina e Caribe unidos em liberdade e justiça - contrapondo os Estados Unidos imperialistas - está a nosso alcance se são cultivadas as virtudes de perseverança, dedicação e coragem que tornaram possível as conquistas da Revolução Cubana e que foram encarnadas pela liderança imortal de Fidel Castro. Aí estará o Porto Rico.
 
* Vice-presidente Executivo do Partido Independentista Porto-riquenho.