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Obrigado Fidel por ter sido, antes de tudo, humano

Em seu peito as crianças acharam sempre o abraço terno e cálido. Foto: Arquivo do Granma
Em seu peito as crianças acharam sempre o abraço terno e cálido. Foto: Arquivo do Granma

Data: 

13/08/2020

Fonte: 

Periódico Granma

Autor: 

Muitas pessoas perguntaram, ao longo dos anos, de onde provinha a energia inesgotável do líder histórico da Revolução Cubana. Como é que esse homem excepcional conseguia andar sem descanso, sem tréguas, com seu nobre pensamento colocado sempre em prol do bem-estar do seu povo, na possibilidade de um mundo em que todos coubessem, com direitos e oportunidades para todos.
A resposta a estas interrogantes não está em sua estatura, nem na sua compleição física nem na sua paixão pelo esporte, nem sequer na capacidade que teve de treinar seu pensamento e engolir para isso cada trecho da história de sua Pátria. Havia algo muito mais poderoso, algo que o levou a se entregar totalmente à humanidade, que o dotou da irrenunciável vocação que «fazer» para transformar e criar, é o dever mais sagrado de um homem. O que converteu Fidel em líder natural, em exemplo de humildade e desprendimento, em artífice desta obra imperecedoura, foi o maior presente que deixou José Martí para ele e para a sua geração: a sensibilidade humana.
 
Não florescem o talento nem a vontade, não crescem os sonhos nem os desafios são possíveis de atingir, se o coração não se comove. É preciso sentir, identificar-se com as causas nobres e tornar-se parte delas para que flua de verdade o destino de um homem. Quem não tiver a capacidade de sofrer a dor dos demais, de se colocar no lugar do mais desprotegido, de se dispor a agir em vez de ficar impávido, acreditando que nada pode ser mudado, não vai ter muito que legar à história.
 
A verdade é que aquele garoto, natural de Birán, desde muito jovem aprendeu do respeito, do valor de cada ser humano, de que as classes sociais ou a cor da pele não definem pessoa alguma e que, ao contrário, são os valores os que com certeza, definem aquilo que somos.
 
Mas tinha muitas diferenças superficiais aquela Cuba em que decorreu sua infância, adolescência e juventude. A pobreza negava os direitos humanos mais elementares, a humildade era equivalente a vexames e discriminação, a falta de recursos implicava poucas ou nulas chances de suprir as necessidades mais básicas.
 
Essas foram as razões que o levaram até os muros do quartel Moncada, que o puseram no caminho sem retorno de vencer ou morrer, para fazer justiça ao Apóstolo, ao povo de Cuba. Se alguém duvidou, em momento algum, da determinação que já o acompanhava, sua alegação de defesa foi o manifesto mais claro das razões pelas quais ele e seus irmãos tinham chegado até ali e para então, eles todos tiveram a certeza de que aquele ato de dimensões incalculáveis era um apelo de rebeldia que já não podia ser calado.
Naquele dia não houve nem palavras adocicadas nem argumentos manipulados pela capacidade de oratória do interlocutor, houve revelações muito duras, verdades deixadas a descoberto e lançadas com dignidade à cara dos tiranos. Verdades definidas pelo sofrimento de um povo que não tinha direito à terra, nem à saúde, nem à educação, que não podia sonhar com uma moradia digna, que enfrentava altos índices de desemprego. A partir desse momento e para sempre, Fidel Castro se converteu em muito mais que em seu próprio advogado, em muito mais do que o advogado daqueles que abraçaram a luta junto a ele, mas sim no advogado dos humildes e desprotegidos, aos que depois, a própria história lhe deu a oportunidade de reivindicar.
 
Porque aquele garoto que podia ter escolhido os lucros de um cartório de advocacia ou a pele de um fazendeiro, não nasceu para viver alheio ao mundo ao seu redor. Aprendeu a ter visão crítica, aprendeu a forjar as suas próprias opiniões, a construir critérios sólidos. Escolheu o lado do dever e desse lado transcorreu a sua existência, sem perder jamais a perspectiva de viver e sentir, como vivia e sentia seu povo.
 
Esses valores também foram os que lhe mereceram o respeito dos seus correligionários, porque sempre houve nele um elevado senso de lutar pelos outros, uma capacidade inigualável de considerar igual de importante desde o primeiro até o último dos revolucionários na Serra Maestra ou na planície. Escutou e defendeu sempre a mulher, e foi artífice de que as cubanas ganhassem, por mérito próprio, um lugar como protagonistas em cada uma das etapas pelas quais transitava o processo revolucionário. Respeitou, inclusive, aos inimigos e em muitas ocasiões, durante a luta armada, deu lições de civismo e de justeza.
 
Fidel sentiu a dor dos camponeses, e aos camponeses deu a terra que sempre trabalharam e à que nunca puderam aspirar, soube ler a frustração e o desamparo nos olhos dos analfabetos e encorajou a Campanha de Alfabetização. Rechaçou de maneira enérgica a exploração e por isso fundou um país baseado no trabalho justo, nobre, onde o operário sempre fosse escutado e gozasse de representação. Foi esse mesmo Fidel o que deu impulso à nacionalização da indústria como passo imprescindível para que Cuba deixasse de ser dessangrada do Norte, o que declarou ao mundo o caráter socialista da Revolução Cubana, radicalizando assim a postura da sociedade que para o bem de todos estava sendo construída na Ilha.
 
Comandante-em-chefe da verdade, dos princípios mais elevados, da transparência. Subiu a um tanque em Playa Girón porque sabia que os milicianos estavam combatendo e dando a cara ao inimigo e ele devia estar ali, ninguém conseguiu pará-lo. Também ninguém conseguiu pará-lo quando a força da natureza com nome de furacão Flora, fazia estragos no território nacional e arriscando sua própria vida, saiu para dirigir pessoalmente as ações de resgate e salvamento do seu povo, desse povo que confiava tanto nele. Quanto amor para seu pessoal tinha aquele homem imenso, que percorria os hospitais, quando a dengue hemorrágica tirava vidas.
 
Compartilhou sempre a dor das famílias cubanas cheias de luto pelos atos terroristas mais cruéis, e com suas palavras inflamadas transmitiu, em cada um desses momentos difíceis, a confiança e a segurança de que cada vida tirada era um motivo para abraçar-nos, cada vez com mais força, à livre determinação que como povo tínhamos para escolher nosso caminho, e converteu cada tribuna, nacional e internacionalmente, em um palco de denúncia, para tirar a máscara daqueles que, sob a pele de salvadores do mundo, ocultavam o ódio infinito àqueles países capazes de se livrarem de séculos de dominação.
 
Vemo-lo abraçar as crianças de Tchernóbil, abrir-lhes as portas deste país, a fim de dar-lhes a chance de recuperar, mais do que sua saúde, seus sonhos, seu sorriso, após o terrível acidente nuclear.
 
Fidel nos ensinou que um povo não pode viver somente para ele, que somente é verdadeiramente grande uma Pátria que é capaz de se entregar ao mundo, ou o que é o mesmo, à humanidade. Mostrou-nos que a solidariedade é um princípio iniludível para todo aquele que sabe que é revolucionário, e sob esse princípio contribuímos para derrotar o apartheid na África do Sul, e com batas brancas temos percorrido o mundo, devolvendo a esperança após fenômenos naturais, atendendo nas consultas a milhões de pessoas sem acesso aos sistemas de saúde privatizados, enfrentando doenças como o Ébola ou a terrível pandemia provocada pela expansão do novo coronavírus.
 
A maturidade que a história e a luta diária deram àquele jovem impetuoso lhe permitiram compreender, como sempre defendeu o Apóstolo, que Cuba devia ser um farol para a América Latina toda. Por isso nunca faltou o apoio desta Ilha aos líderes progressistas do continente, e também não a denúncia oportuna quando as tortuosas arremetidas imperiais promovem o crime, a perseguição, os golpes de Estado e tudo aquilo que represente a intromissão nos assuntos internos de um país soberano.
 
Assim enfrentamos agressões de toda a índole: econômicas, políticas, midiáticas. Elas todas acabaram se estatelando contra a couraça moral desta nação, que gravou em seu peito o nome de Fidel, que optou, sem dúvida alguma, pela continuidade, nunca por sua morte, que se uniu de maneira irreversível porque também dele aprendemos que dividir um povo é a maneira mais fácil de vencê-lo.
 
Por isso agosto é e será sempre o mês do seu aniversário natalício, o mês em que, sem se importarem os anos que passarem, vamos comemorar sua vida, porque desaparecer é uma palavra que nada tem a ver com a sua existência tão pródiga, com um legado que transcende o tempo, a carne e os ossos.
 
Muito diferente seria o mundo se os doentes de poder tivessem se identificado tão só com um pouco do seu pensamento preclaro. Hoje seríamos mais fortes, mais capazes de enfrentar aquelas situações que ultrapassam as nossas diferenças políticas, ideológicas ou sistêmicas, e pensaríamos mais em salvar essa espécie que, segundo seu alerta certeiro, está em perigo de desaparecer: o ser humano.
 
Mas embora não possamos esperar mutações de consciência que, claramente, não vão acontecer enquanto o capital domine os destinos de milhões de pessoas no mundo e as utilize como um simples combustível para movimentar sua implacável maquinaria, nós podemos fazer nossa parte, e a vamos fazer, sim, em sua honra e em nome de todos aqueles que deram suas vidas pela nossa.
 
Parabéns, Comandante-em-chefe, e não só por mais um ano de vida multiplicada, mas por ter sabido ser, antes de tudo, humano. Por ter tido sempre os pés colados à terra, ter sido os olhos do seu povo, o coração batendo pelo bem comum.
 
Aqui estamos em pé, por nossa própria vontade, porque este, o povo de Fidel, jamais vai se render, porque não tem dúvidas acerca do caminho a escolher, porque acreditamos que um mundo melhor é possível e não abrimos mão de fazer nossa parte para que isso ocorra.