Discursos e Intervenções

Discurso proferido pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, na Tribuna anti-imperialista pelo 40º aniversário da criação dos CDR, no "Palácio das Convenções", a 28 de Setembro de 2000

Data: 

28/09/2000

Queridos companheiras e companheiros:

Já muitas vezes disse que vou ser breve e quase nunca o cumpro (Risos e aplausos), e, apesar de numa ocasião como esta se poderem recordar muitas coisas, digo que vou ser breve e vou tratar de cumpri-lo (Aplausos).

A uma parte de nós deve ter acontecido o mesmo ao recordar o dia em que nasceram os Comités de Defesa da Revolução, quase a esta hora, um pouco mais cedo, há 40 anos, e quantas coisas acontecem em 40 anos, e que tempos tão diferentes eram aqueles.

Numa demonstração massiva frente ao Palácio velho, surge a ideia dos Comités de Defesa como uma inspiração repentina perante o estrondo de quatro bombas: uma aqui, outra ali, aquilo parecia um bombardeamento e eu pensei: quem pôs essas bombas e quem pode pô-las? Nessa época existiam 300 organizações contra-revolucionárias, criadas por quem vocês bem sabem. Pensei: Se todo o povo apoia a Revolução, como é possível que se possam mover com tal liberdade e colocar quatro bombas em questão de minutos?

Não foi a única coisa grave ou séria que fizeram. No mesmo lugar onde foram criados os comités eles tinham outras coisas organizadas, entre elas, um apartamento cheio de bazucas, metrelhadoras e tudo para tentar liquidar ali metade dos dirigentes revolucionários, e estiveram próximos, mas não atingiram o objectivo.

Naquela época triunfava a Revolução, não existia organização - o nosso pequeno exército dispersou-se numa multitude de novos combatentes que ocuparam as armas, ocuparam os quartéis e numa questão de semanas cresceu até 40 000 homens, digamos que o nosso exército cresceu dez vezes -, as multidões pelas ruas, aquilo era caótico. E o pior é que estava tudo por fazer.

Os nossos problemas então eram os 30% de analfabetos, a falta de escolas, a falta de assistência médica, a falta de previdência social, a falta de emprego, a necessária recuperação de todos os bens dos que roubaram durante sete anos.

Disse uma vez que aquilo se deteve a 10 de Março de 1952, data do golpe de Estado, porque se continuassemos para trás teríamos que ter confiscado metade da república e, nesses momentos iniciais da Revolução, não quisemos realmente pôr em práctica as medidas da recuperação como se poderiam ter posto desde que se criou aquela república fantoche em 1902, porque creio que nesse caso teríamos que confiscar bens a muitos bisnetos.

Houve, o que naquela época chamamos, uma espécie de amnistia do10 de Março para trás. Sem dúvida que isso não nos prejudicou grandemente porque muitos daqueles ladrões não se demoraram muito a ir para Miami deixando-nos de herança tudo o que tinham roubado; outros, cujas riquezas tinham outras origens, também se foram pensando que voltariam dentro de cinco meses, seis meses, no máximo um ano. Como é que eles poderiam prever o futuro? Eles viram apenas um grupo de loucos a fazerem coisas, ao lado de um vizinho tão poderoso, e que tal coisa não poderia durar muito tempo. Pois deixaram-nos também uma grande quantidade de bens; isto, para além das leis de Reforma Urbana, Reforma Agrária e muitas outras coisas revolucionárias daqueles tempos.

E quantas escolas tinha o país? Quantos professores? Sabíamos que 10 000 não tinham emprego e que havia uma percentagem elevadíssima de crianças que não tinham professores nem escolas.

Desde a primeira hora começou a política ianque de privar o país de profissionais, de médicos, de professores de escolaridade básica e superior, etc., centenas de milhares de pessoas que ansiavam pela oportunidade de viajar para os Estados Unidos para obter um emprego ou para viver em condições de vida superiores às que podiam aspirar a viver no nosso país ou às que o nosso país podia oferecer naquela altura.

Eram também tempos em que os carros de contrabando entravam às dezenas de milhares cada ano, compravam-nos lá em segunda mão, baratíssimos, a 300 ou 400 dólares, e vendiam-nos aqui por 1 500 ou 2 000; hipotecavam o país com uma quantidade fabulosa de necessidade de combustível, peças sobresselentes, etc., etc.

Menciono estes dados, porque naquela tarde de 28 de Setembro de 1960 esse era o panorama que tínhamos, mais as ameaças que começaram a surgir de imediato, bandos armados, recrutamento de mercenários para invadir o país e, algo que não falhou nunca, a derrocada de qualquer regime progressista ou revolucionário neste hemisfério, como aconteceu na Guatemala e em tantos outro lugares.

Era o que tínhamos e, assim, naquela noite, entre tantas outras coisas que aconteceram nos primeiros anos da Revolução e que ainda estão a acontecer, nasceram os Comités de Defesa da Revolução de uma ideia, uma visão, uma inspiração, porque o revolucionário tem inclusivamente que fazer o papel dos improvisadores de décimas que tanto admiramos. Eles encontram a palavra exacta, correcta, para expressar uma ideia e, a Revolução tornou-nos a todos, em parte, como os improvisadores de décimas: perante novos problemas, a necessidade de procurar - e muitas vezes de forma imediata - novas soluções, apesar de nós não lutarmos contra problemas novos, lutavamos contra problemas velhos, receitas velhas, as que o imperialismo costumava empregar em todo o lado.

Em Cuba, primeiro a sua guerra imperialista, intervencionista; após montes de anos fazendo todo o possível por impedir a independência de Cuba, capturando armas, capturando barcos, intervêm oportunisticamente numa guerra na qual não tinham adversários.

Quem conhece a história da esquadra de Cervera, que tinha inclusivamente algumas máquinas dos seus melhores navios por reparar, tinham canhões novos por montar, enviam aquela esquadra sem uma carvoeira. Em todo o lado os barcos, excepto os submarinos ou os porta-aviões nucleares, ainda hoje, têm barcos para o abastecimento de combustível e, aqueles senhores tão guerreiros, os políticos que dirigiam aquele país ou aquela metrópole, enviaram essa esquadra sem um barco que fornecesse carvão. Foi tudo improvisado, disparatado, fecharam-se em Santiago de Cuba; depois deram-lhes a ordem suicida de sair, quando podiam ter feito muitas outras coisas com os canhões daquela esquadra e com a infantaria da marinha que tinha defendido a cidade de Santiago de Cuba. Frente à estreita saída da baía, toda a esquadra ianque, com artilharia superior, blindagem incomparavelmente mais grossa, mais forte, simplesmente fuzilou um a um aqueles barcos, que cumpriram a ordem com grande valor, grande estoicismo, admirável valentia e heroísmo.

Aquela guerra não lhes custou nada. O Exército Libertador ajudou-os a desembarcar, cooperou com eles, combateu com eles na tomada do forte de El Caney, de El Viso, e depois na lomba de San Juan; morreram muitos cubanos naqueles combates e, como prémio por tudo aquilo nem sequer os deixaram entrar em Santiago de Cuba. Na história do nosso país o que eles fizeram foi horrível e, para além disso, apoderaram-se de tudo.

O mesmo fizeram durante este século, fizeram-no em São Domingo, fizeram-no no Haiti, fizeram-no na Nicarágua, fizeram-no onde lhes apeteceu, em mais de uma ocasião. Fizeram-no inclusivamente depois do triunfo da Revolução Cubana em 1959: intervieram em São Domingo quando a revolução esteve quase a triunfar; invadiram Granada, porque lhes apeteceu, sob o pretexto de que havia estudantes supostamente em perigo e vingaram-se de uma acção que ocorreu no Médio Oriente - creio que foi no Líbano - e que teve como consequência a morte de uns quantos fuzileiros navais norte-americanos. Eles vingaram-se contra a ilha de Granada; intervieram depois no Panamá; organizaram a guerra suja contra a Nicarágua; apoiaram um regime muito duro, um governo sangrento noutro país da América Central, em El Salvador; intervieram na guerra da Guatemala. Intervieram em todos os lados.

A nós, invadiram-nos por Girón, bloqueram-nos desde o início, estiveram a ponto de provocar realmente uma guerra nuclear. Viveu-se o perigo real de estalar uma guerra desse tipo, em consequência da política prepotente que exerciam desde antes da Primeira Guerra Mundial e depois da Segunda Guerra Mundial, e quanto mais ricos e poderosos se tornavam, maior propensão mostravam para a intervenção armada.

Todos sabemos o que fizeram no Vietnã, foi algo que custou a vida a 4 milhões de vietnamitas, e da mesma forma, montes de intervenções por todo o mundo.

Estavamos a lutar contra males antigos.

Parece-me que o notável da história da nossa Revolução é ter resistido a todas essas tentativas para destruí-la, e, nesse sentido, aquele dia no qual se fundaram os Comités de Defesa da Revolução foi um dia verdadeiramente histórico.

Qualquer um compreende que as nossas tarefas eram outras e que hoje a situação não é assim, o mundo não é assim. Então existiam duas super-potências poderosas, as tecnologias estavam menos desenvolvidas, não existia a Internet, não existiam os computadores, não existia nada; apenas a televisão tinha começado a funcionar, não existia um mundo globalizado ou um sistema mundial onde predomina a globalização neo-liberal, e o império do ponto de vista político, económico, militar, tecnológico e cultural, se chamarmos cultura ao veneno que espalham pelo mundo, não tinha o poder imenso que tem hoje.

Hoje é muito mais poderoso, o mundo é diferente. Essas são as novas condições sob as quais o nosso povo e a nossa Revolução devem levar a cabo a sua luta. Será por acaso mais difícil? Não, não é mais difícil. Era mais difícil quando a média de escolaridade da nossa população seria de, sei lá, dizer terceiro ou quarto ano parece-me muito. Ninguém fez um estudo profundo, e deveriam fazê-lo, de quantos cidadãos neste país, naquele tempo, tinham o sexto ano completo.

Eu estou convencido - não fiz as contas com muita precisão - de que hoje existem mais graduados universitários no nosso país que graduados do sexto ano antes do triunfo da Revolução.

Não havia uma educação geral, nem uma educação política, não existia uma cultura política e, no seio dessas condições surgem os Comités de Defesa da Revolução; e estas de agora são as novas condições em que têm que lutar os Comités de Defesa da Revolução, todas as organizações de massas e todo o nosso povo. São condições muito diferentes.

Um dia terá que falar-se, detalhadamente, de como foi possível a proeza do nosso povo de resistir estes 40 anos. Contino mencionou quatro décadas; mas entre essas quatro décadas esta uma muito difícil, a primeira década ou os primeiros anos da primeira década; e esta outra década que foi, em nossa opinião, a mais difícil de todas, que é a última das quatro décadas, esta que acaba de decorrer.

Que temos hoje? Hoje temos uma população com o nono ano como mínimo, hoje temos aproximadamente 700 000 profissionais universitários, hoje temos escolinhas nos cantos mais recônditos do país. Basta dizer que existem 600 escolas com cinco alunos ou menos e um professor; e nenhum canto da república sem uma escolinha e sem um professor.

Agora estamos a tentar resolver os problemitas que resultam de 1 962 escolas isoladas sem electricidade. Quantas escolas primárias existem? De aproximadamente 9 000 escolas primárias, 1 962 encontram-se em lugares tão distantes que, apesar de termos electricidade em mais de noventa porcento do país, estão ainda sem electricidade. Claro, com muito poucos alunos. O total de alunos dessas escolas é de 30 000, já estamos a pôr electricidade em 300 delas, e essas 300, que são as maiores, compreenderão 11 000 alunos; faltam-nos 19 000 alunos sem electricidade para se poderem utilizar os televisores e vídeos. Mas receberão em troca literatura especial, e a seu devido tempo, mediante células foto-voltaicas, terão electricidade suficiente para o televisor, o vídeo e dois candeeiros de luz fluorescente. Protegendo a natureza não gastaremos nem um centavo em combustível, e começaremos a levar uma nova técnica a muitos recantos do país e, com excepção dos 19 000 mencionados, existirão à volta de
2 400 000 alunos com electricidade e com os meios audio-visuais para a educação.

Comparem isto com o que havia. Não havia professores, 10 000 estavam sem emprego. Criamos 10 000 lugares e não pudemos cubri-los todos, porque nem todos os professores desempregados se encontravam na disposição de irem dar aulas nas montanhas, em lugares distantes; também existia o atractivo dos Estados Unidos que oferecia vistos a qualquer professor de ensino básico ou superior que quisesse ir embora, e naquele tempo, perante a alternativa de ir para as montanhas de Baracoa, Segundo Frente e Sierra Maestra, ou ir para Miami, uma parte daqueles que tinham sido formados naquela sociedade cujo princípio não era a solidariedade mas sim o individualismo, um número de professores escolheram este último caminho.

Os 10 000 lugares criados teriam sido suficientes; mas não existia pessoal. Tivemos que improvisar professores, estudantes de bacharelato, para que se tornassem professores, com cursos rápidos. Esses responderam, sim.

Tínhamos na frente a Campanha de Alfabetização. Essa é uma das grandes proezas, creio que nunca realizada por outro país, e foi realizada principalmente pelos estudantes, 100 000 estudantes, pessoas que se prestaram voluntariamente, e os professores do ensino primário e secundário dos quais dispunhamos então, que eram 25 000 ou 30 000, não tenho bem a certeza, alguém poderia averiguar melhor todos esses dados, e no meio da Campanha de Alfabetização os bandos armados por todo o país e, para além disso, a invasão de Girón.

Os bandos tinham levado um golpe forte no Escambray uns meses antes de Girón, prevendo-se o que aconteceu em Girón. A invasão de Girón em plena campanha. Nós apercebemo-nos, inclusivamente, que os jovens estavam mais seguros no campo e nas montanhas que aqui na capital se se produzia uma invasão em grande escala, uma guerra.

Todas essas coisas foram enfrentadas pelos Comités de Defesa, a Federação de Mulheres Cubanas, a União da Juventude Comunista, o Partido que se estava a organizar; porque o nosso Partido resultou da fusão de várias organizações revolucionárias, de jovens, de militantes do Partido Socialista Popular - o antigo partido -, os militantes e simpatizantes do Movimento 26 de Julho e do Directório Revolucionário. Uniram-se todos e criou-se a primeira direcção, mas os militantes estavam por se formar. Tivemos problemas de sectarismo, cometemos erros, erros que são inevitáveis.

Recordo que os Comités de Defesa da Revolução, criados publicamente, começaram a ser organizados clandestinamente - quase ninguém se lembra
disso -, mas uma organização de massas clandestina era uma loucura. Foram realmente erros de alguns companheiros e nós dissemos: Como é possível que seja uma organização clandestina? Isso é impossível! O próprio Partido organizava-se quase clandestinamente, até ao momento em que se introduziu o método de consultar as massas sobre cada militante.

Tivemos, como já disse, um período de sectarismo, ocorreram todos esses vícios e essas são coisas que acontecem em todas as revoluções, e que, felizmente, se foram superando.

Os sindicatos tornaram-se muito unidos, muito fortes. Os sindicatos que existiam quando triunfou a Revolução eram sindicatos dirigidos pelos chamados "mujalistas" que eram dirigentes oficiais; duraram pouco tempo, porque creio que acabaram mesmo no dia 1 de Janeiro, quando de Palma Soriano se convocou a greve geral revolucionária, paralisou-se o país por completo, e até os trabalhadores da rádio se sintonizaram com a Rádio Rebelde. A partir do dia 1 de Janeiro houve apenas uma estação de rádio, a Rádio Rebelde, que transmitia para todo o país, sem estar todavia definida a situação na capital, as últimas manobras do imperialismo para escamotear a Revolução; mas a resposta rápida, fulminante, a greve geral, a ordem para que todas as colunas avançassem sem possibilidade de tréguas, deu lugar a que após 72 horas todos os quartéis do país estavam ocupados. Não tiveram hipótese.

Desde então têm tentado encontrar uma oportunidade, buscam constantemente uma nova oportunidade; mas passaram 40 anos e a cada dia, asseguro-lhes, têm menos oportunidades (Aplausos). Atrevo-me a dizer, que menos oportunidade que nunca, devido ao que temos agora. É muito sério, e não me refiro exactamente à riqueza material, mas sim à riqueza que é essencial para qualquer mudança, qualquer revolução e, em especial, para uma revolução profunda, para uma grande revolução, que foi no que se converteu a nossa modesta Revolução que triunfou a 1 de Janeiro.

Nesse momento era uma Revolução modesta, realizada com recursos modestos e atravessando uma história que todos vocês conhecem. A guerra durou menos de 24 meses, se não contamos com a dispersão de Alegría de Pío e os problemas que tivemos até termos capacidade para sobreviver e acima de tudo, não pela nossa força, mas sim pelo treino que tinhamos, pelo nosso conhecimento das montanhas e pela aprendizagem acelerada que tivemos diariamente, por que éramos sete, depois uns quantos mais, chegamos a ser 17 no primeiro combate - 17 fuzís, pelo menos -, depois voltamos a ser menos, sofremos mais do que uma dispersão e voltamos a juntar-nos. Num determinado momento estivemos reduzidos de novo a 12 e depois tornamos a crescer e, passadas todas essas vicissitudes adquirimos a experiência necessária para que já não nos pudessem derrotar apesar de sermos poucos.

Digo que com recursos muito modestos se fez uma Revolução modesta que continuou a lutar, continuou a ganhar experiência, continuou a adquirir dimensão até chegar ao que é hoje. Hoje não se trata de um povo analfabeto, porque tem em média o nono ano, isso quanto ao grau escolar; quanto à cultura política poderíamos classificá-lo com 100 pontos com distinção. Digamos, não somos os únicos, existem outros países que realizaram grandes proezas; temos aqui conosco a representação da nossa queridíssima irmã, a República Socialista do Vietnã (Aplausos), que com a sua luta e a sua vitória tanto contribuiu, inclusivamente, para a segurança do nosso país.

Sim, porque os governos dos Estados Unidos, depois da Crise de Outubro, depois de o mundo estar à beira de uma guerra nuclear, meteram-se na guerra contra o Vietnã, cometeram uma grande loucura, custou-lhes mais de 50 000 vidas; mas, ao mesmo tempo, custou a vida a 4 milhões de vietnamitas, mais os que ficaram inválidos, mais os que ficaram doentes em consequência dos sofrimentos daquela guerra e do uso de produtos químicos, etc.

Poderiamos dizer, se se trata de uma revolução aqui, a 90 milhas dos Estados Unidos e no coração de um hemisfério que eles sempre dominaram, e no coração do Ocidente, pode-se dizer que o nível de cultura política da nossa Revolução obtém, no primeiro lugar, 100 pontos de classificação.

Qualquer pessoa diria que estamos contentes com os conhecimentos do nosso povo hoje, qualquer um diria que nos sentimos satisfeitos com a sua cultura política; não, digo o que se conseguiu em momentos decisivos da sua história.

Há que mencionar estas coisas, há que mencionar alguns acontecimentos, há que mencionar todas as organizações de massa, há que mencionar o nosso Partido e há que mencionar a nossa juventude para poder compreender como o país pode resistir durante essas quatro décadas, como o país conseguiu chegar a este 40o aniversário da fundação dos Comités de Defesa da Revolução.

E as etapas vividas foram diferentes. Quando os bandos armados foram derrotados e as 300 organizações contra-revolucionárias foram neutralizadas; quando a invasão de Girón foi esmagada; quando o país resistiu firme, de pé, ao risco da crise nuclear, e quando, depois de uma suposta solução, nos negamos a aceitar que inspecionassem este país ou coisa parecida, ou que os aviões militares dos Estados Unidos fizessem vôos razantes, ou a desmobilizar as nossas forças, depois de tudo isso e depois do grande susto que levou muita gente entre os nossos próprios adversários, então gozamos de um período um pouco mais calmo. Levamos anos todavia, como é lógico, a liquidar o último bando; podemos dizer repare-se bem, que, somos o único país revolucionário que conseguiu liquidar os bandos armados ao serviço do imperialismo. Entre outros factores, os métodos utilizados, o tipo de luta, a utilização exclusiva de combatentes voluntários nessa luta, porque eram todos voluntários como nas missões internacionalistas, permitiram-nos vencer e varrer tudo aquilo.

Os ataques piratas continuaram durante anos provenientes de lugares distintos, barcos-mães, ataques por um porto, por outro, por outro, por outro, introdução de explosivos, armas, sabotagens, lojas incendiadas, fábricas destruídas, dezenas de vítimas, centenas de vítimas, só os bandos armados custaram-nos mais de 400. Morreram mais combatentes cubanos na luta contra os bandos que nos combates que deram origem à vitória do Exército Rebelde; porque na última ofensiva que eles fizeram contra a Sierra Maestra foram menos de 50 as baixas mortais entre os combatentes rebeldes, e na nossa última ofensiva contra Santiago de Cuba, as duas maiores operações que realizamos, com um número considerável de combatentes, morreram menos de 50. Eu não tenho aqui as contas exactas; não conto os assassinados, conto os mortos em combate, e morreram mais nas lutas contra os bandos do que em todo o tempo que durou a nossa guerra.

Fizeram isso durante montes de anos, e, claro, o bloqueio férreo. Barcos de pesca seqüestrados, navios mercantes atacados, tentativa de sabotar o nosso açúcar, roubar-nos os mercados, disparos de canhão a barcos que iam e vinham, e uma guerra económica férrea. Planos de atentados, para que é que vamos falar disso, tomaria muito tempo e disse que ia ser breve (Risos).

Bom, toda essa história foi resistida pela Revolução, toda essa política; mas a mais difícil foi esta última, foi a que mais duro nos golpeou, o período especial, porque o período especial criou condições muito difíceis. Foi procedido de um bombardeamento ideológico, algo que vinha do "espírito santo". Eu utilizo este termo religioso porque me pareceu o mais adequado para explicar de onde procedia o bombardeamento. Esse bombardeamento provinha nada mais nada menos que da União Soviética na década de 80. Digo do "espíto santo", porque eram consideradas verdades absolutas, inquestionáveis, infalíveis.

A URSS desempenhou um papel muito importante na nossa Revolução, após um triunfo popular em Cuba que nem sequer tinha imaginado, e ofereceu-nos posteriormente uma ajuda decisiva. Se tivessemos tido que sofrer um período especial nos primeiros anos - 1960, 61, 62, 63 -, quando para além do petróleo nos retiraram as fontes de abastecimento, os mercados, retiraram-nos tudo, este país não teria estado preparado para resistir a um bloqueio tão feroz. Posso assegurar-lhes sim que este país estava preparado para combater e para morrer. Nós teríamos sido o Vietnã, teríamos que ter aguentado uma invasão ianque que tivesse sido derrotada, que ninguém duvide disso, porque já tinhamos centenas de milhares de homens armados e vinhamos não das academias militares mas sim das montanhas que foram a nossa escola e a gente sabia lutar, estava inspirada na sua experiência combativa da guerra irregular. Vinha do século passado, desde 1868, porque o nosso povo lutou com catanas contra o exército mais poderoso de então.

Posso assegurar-lhes que uma invasão dos Estados Unidos não poderia derrotar este país, as suas tropas teriam que retirar-se com baixas significativas ou liquidar todos até ao último patriota. A sorte do nosso país é que não houve tempo, ao destroçar a sua força mercenária sob o nariz de uma esquadra com porta-aviões e tudo, ao ser destroçada em 68 horas, de tal maneira que quando lhes deram ordem para apoiar, já não havia ninguém a quem apoiar. Mas se eles tivessem tomado aquele pedaço de praia, teriam iniciado uma guerra de desgaste contra o nosso país e teriamos tido um Vietnã em 1961. Estou seguro de que se teriam perdido centenas de milhares de vidas, porque conheço os cubanos, conheço os rebeldes, e não se rendem, lutam e tornam a lutar, têm imaginação, têm espírito criativo, toda a coragem necessária, e estavam criadas as condições no terreno político e militar se se produzisse uma invasão directa, mas realmente não para triunfar sózinha no terreno económico.

Acontece o período especial 30 anos depois do triunfo da Revolução, quando tinham desaparecido muitas coisas do passado. Já se tinha adquirido a cultura política para resistir a um período especial em tempo de paz. Nos primeiros meses da Revolução não havia todavia uma cultura socialista. O nosso povo tinha uma noção de classe, mais do que uma consciência de classe; odiava o roubo, odiava a corrupção, odiava a pobreza, odiava a desigualdade, odiava a injustiça.

As leis revolucionárias foram o factor fundamental que contribuiu para transformar a consciência política, saturada de todo o veneno do "macartismo" e da propaganda anti-comunista exercida sobre o nosso povo durante montes de anos, e de uma dependência que tinha mais de meio século; desde que desembarcaram e ocuparam a nossa pátria em 1898, formaram professores lá, escreveram uma história de Cuba na qual apresentavam o país libertado pelos Estados Unidos e começou a americanização de Cuba por todas as vias possíveis. Pela escola, pelos meios de comunicação de então, fizeram crer a muita gente nesta ilha que os Estados Unidos eram o salvador.

Quem lhes ía falar de imperialismo? Lenine ainda nem sequer tinha escrito o seu livro sobre o imperialismo. Lenine toma aquela guerra de 1898 como exemplo da primeira guerra imperialista no sentido moderno da palavra. Apoderaram-se de tudo: de Cuba, de Porto Rico, das Filipinas, consolidaram o seu domínio sobre o hemisfério, ocuparam Cuba durante quatro anos, desmantelaram o Exército Libertador, dissolveram o Partido Revolucionário de Marti e trouxeram as suas receitas que tão caro custaram aos cubanos e tão caro custaram a todos os outros povos da América Latina. Nós, felizmente, já estamos livres das receitas do imperialismo; as receitas que quiseram tornar a trazer para cá, e que nunca mais poderão voltar a trazer (Aplausos).

A obra da Revolução, mais a prédica da Revolução, mais o exemplo da Revolução, foram criando uma consciência política socialista, comunista. Nos tempos que antecederam o triunfo de 1959, mencionar a palavra comunismo era como mencionar o inferno, como mencionar todos os demónios juntos, aquela palavra que encerrava precisamente a ética mais pura, os mais elevados sentimentos humanos.

Se se estudar as religiões, se se estudar o cristianismo, encontrar-se-á que já naquela época, há 2000 anos, em sociedades completamente diferentes e sob o domínio do império romano, houve quem pensasse nisso e chamou-o amor ao próximo, fazer o bem aos outros, sentimentos de solidariedade para com os pobres. Dei muitas vezes como exemplo o próprio fundador do cristianismo que, não procurou os donos das terras nem os comerciantes para fundar uma doutrina, procurou os pescadores que não sabiam ler nem escrever.

Era realmente uma prédica humana. Não estou com isto a contradizer nenhum sentimento ou critério religioso diferente, limito-me apenas, utilizando a nossa linguagem, a dizer que era, a partir de um sentimento religioso, uma prédica profundamente humana; mas é o marxismo, é o socialismo, é o comunismo, partindo de um conhecimento profundo do sistema capitalista e de uma análise histórica, económica e social da exploração do homem pelo homem ao longo da sua existência, que eleva ao seu mais elevado expoente o espírito humanista, o espírito de solidariedade entre os homens e o espírito internacionalista entre os povos.

Há 2 000 anos não podia ter surgido algo semelhante. O pensamento marxista surge com a classe trabalhadora que se desenvolve nos países ocidentais e concebe-se logo, desde o início, como algo que era inseparável do internacionalismo, porque a existência do socialismo e do comunismo não era possível sem o internacionalismo. Parte da premissa de um mundo desenvolvido, com uma elevada capacidade das forças produtivas para criarem as riquezas suficientes para alimentar, vestir, calçar e criar as condições de vida necessárias para o homem, e não apenas de vida material - este é um ponto muito importante -, mas também de vida espiritual, riqueza espiritual para a humanidade de então que atingiria aproximadamente 1 000 milhões de habitantes.

Não existiam muitos dos problemas de hoje; naquela época pensava-se que o factor limitante para o manancial de riquezas capazes de satisfazer as necessidades do homem era social e não material. No entanto, ainda não se tinha descoberto o uso do petróleo, nem se tinham desenvolvido as tecnologias fabulosas que existem hoje. Se Marx tivesse conhecido essas tecnologias teria sido ainda mais marxista e mais comunista porque os avanços da ciência e da tecnologia tornam possível conceber esse manancial de riquezas capazes de satisfazer necessidades como as dos alimentos, o calçado, o vestuário, a habitação, a educação, a assistência médica, o recreio, a cultura e outras, perfeitamente assessíveis ao homem.

No tempo de Marx não existia o automóvel, nem existiam muitos dos produtos actuais. Refiro o automóvel porque creio que é um dos instrumentos que, em poder das sociedades capitalistas, se converteu num dos factores fundamentais da destruição do meio ambiente e dos recursos naturais.

O desenvolvimento tecnológico foi utilizado pelo capitalismo para explorar mais os povos menos desenvolvidos e para explorar mais os povos que eram colónias até quase metade deste século e que depois foram convertidos em neo-colónias e hoje em algo pior que colónias ou neo-colónias. A tecnologia foi utilizada como instrumento de domínio. A tecnologia militar entre uma guerra imperialista e outra adquiriu un desenvolvimento cada vez maior até descobrirem a arma nuclear, e muitas destas armas modernas, como as armas inteligentes que não existiam no início deste século, utilizaram-nas para se imporem.

As tecnologias de uso civil, como a indústria mecânica, a electricidade, as comunicações, a energética, tudo, simplesmente serviram para criar a sociedade de consumo, com o qual introduziram, a meu ver, na história da humanidade, um dos elementos mais perigosos e mais agressivos contra os recursos naturais e o meio ambiente indespensável para a sobrevivência da espécie humana.

É verdade que os fertilizantes permitiram recuperar a capacidade produtiva das terras virgens, elevar a produtividade por hectare; os avanços da genética tradicional permitiram também desenvolver variedades de plantas de muito maior rendimento; os tractores e as máquinas permitiram elevar consideravelmente a produtividade do trabalho agrícola. Isto é, a humanidade foi realmente criando os instrumentos adequados para satisfazer as necessidades indispensáveis do homem.

Se se pensa o bem-estar do homem como a soma de todas as riquezas materiais necessárias para uma vida material decorosa, que se sabe em que consistem, e a criação ilimitada de riquezas culturais e espirituais, penso que essa é a única concepção com razão de ser relativamente à ideia racional de como deve ser o mundo do futuro.

As riquezas espirituais são sub-estimadas porque as sociedades de consumo tendem para a total sub-estimação de tudo o que não seja um bem material de luxo. Existem casas com cinco televisores, famílias com seis automóveis e outras coisas do género.

Vemos constantemente a riqueza espiritual e o seu valor. O que disfrutamos hoje aqui chama-se riqueza espiritual. No poema de Neruda, que foi para mim uma surpresa agradabilíssima, pareceu-me ver um profeta pelo que escreveu em 1960 sobre o ano 2000, e eu dar-lhe-ia inteira razão. No entanto, se tivesse sido no 30o aniversário, não, se tivesse sido antes deste período especial, se tivesse sido há 20 anos, não, mas hoje digo que sim porque estamos ao lumiar de uma época para Cuba como a que pareceu sonhar Neruda nesse dia (Aplausos). Mas para não exagerar, contrariamente ao seu valor, vou dizer ao lumiar de uma etapa que Neruda nem sequer podia ter sonhado nesse dia (Aplausos). Digo-o e posso, inclusivamente, demonstrá-lo.

Quando Neruda escreveu esse poema não podia imaginar que este país resistiria quarenta e um anos e meio de bloqueio, todo o arsenal de procedimentos sujos que criou o império ao longo da sua história e, ainda, um período especial; não é a mesma coisa um período especial quando metade da população tinha electricidade e quase ninguém tinha mais do que um rádio ou algo semelhante - nem dispunha massivamente de televisores, nem muitos artigos electrodomésticos, desde máquinas de lavar roupa até muitas outras coisas -, do que um período especial onde um país fica sem combustível, onde mais de 90 % das casas tinha electricidade e onde haviam milhões e milhões de rádios, televisores, máquinas de lavar roupa, ferros eléctricos, etc.

Recordo que na minha casa não houve electricidade durante muito tempo e nunca houve o suficiente para um ferro eléctrico pois aquilo dava para o televisor - quando existiu, eu nunca vi o televisor ali - e para o rádio que era bem monopolizado e administrado pelo meu pai que não permitia que o ligassem, com razão, para tomar conta dele, e eu tinha que ligá-lo quando já todos se tinham ido deitar para ouvir a bola ou para ler (Risos e aplausos).

Nunca tivemos um ferro eléctrico na minha casa, sendo o meu pai dono de uma boa quantidade de terra, e tendo outra boa parte de terra arrendada; entrava dinheiro, ali havia de tudo, e estavamos a quatro quilómetros da fábrica de açucar mais próxima, a Marcané - como se chamava então -, hoje chama-se "Loynaz Hechevarría", muito justamente, por aquele líder operário, comunista, daquela central, assassinado pela tirania. Em minha casa nunca soubemos o que era um ferro eléctrico.

Que família, 30 anos depois do triunfo revolucionário não tinha um ferro eléctrico nas cidades, no campo, em qualquer lugar; uma ventoinha, um televisor e montes de artigos electrodomésticos, lâmpadas, etc? Ir da escuridão para a luz é fácil, ir da luz para a escuridão é terrível (Risos e aplausos).

Já estou a começar a faltar à minha palavra (Risos).

Não falei dos frigoríficos. Quando o período especial começou podia faltar a luz durante 14 horas e descongelava-se tudo e estragava-se uma parte das quantidades modestas de alimentos que podiam existir nesses frigoríficos.

Os televisores também se apagaram, apagou-se tudo; eram a preto e branco, gastavam 180 watts e não existiam peças; esses que existem hoje em todas as escolas gastam 80, são de 20 polegadas e a cores.

Sabemos muito bem quanto sofreu o abastecimento de bens materiais à população. Até sapatos, para já não falarmos de pasta de dentes, escovas de dentes, sabão; para não falar das quotas que foram reduzidas consideravelmente, não porque quisessemos mas porque não havia; sem mercado e sem divisas, sem nada, sobretudo naqueles primeiros quatro ou cinco anos.

O país fez face ao período especial quando já tinhamos alcançado um determinado nível de conforto material que caiu abruptamente. Faz face ao período especial e, de repente, encontra-se sob um duplo bloqueio. Que duplo bloqueio? O dos ianques e o desaparecimento do mercado de todo o bloco socialista europeu, dos abastecimentos e do mercado da URSS primeiro e depois da Rússia.

O comércio com todos aqueles países acabou-se praticamente. Existia por vezes troca de açúcar por petróleo, mas era açúcar a preços do mercado mundial que era um terço do que tinha sido quando existia o bloco socialista e a URSS, que se reduziu quase a zero, acabou-se o fornecimento de peças e de montes de outras coisas. Num país como Cuba, que já tinha a agricultura mecanizada com 80 000 tractores dos 5 000 que existiam no ano do triunfo; que já tinha o corte de cana mecanizado; o transporte já não se fazia com carros de bois mas sim com camiões, com tractores a puxarem atrelados, gruas carregadeiras que levantavam, centros de armazenamento que separavam a palha; elevadas produções de leite, de ovos, de carne avícola e suína, dói muito lembrar quão duro foi o golpe e quanto se perdeu nessa situação.

Em Havana: 30 000 viagens de autocarro diariamente - tivemos que ir a correr comprar bicicletas a crédito, pedimos à China crédito para um milhão de bicicletas para a capital, foi necessário começar a usar bicicletas -, reduziu-se a 5 000 o número de viagens; houve que conseguir novas colocações para os trabalhadores, enfim, quantas coisas tivemos que fazer. Como manter o litro de leite para as crianças até aos 7 anos; como conseguir o combustível indispensável para que as ambulâncias e alguns serviços funcionassem.

Não se pode conceber uma situação mais terrível que a que o nosso país atravessou. Nenhum outro país deste hemisfério - para não falar do resto do mundo - teria resistido a 15 dias de período especial. Mais, os governos, os sistemas, o que fosse, teriam caído um mês antes só de pensar que vinha aí. Nenhum!

Todo o mundo esperava a queda da Revolução numa questão de 24, 48 ou 72 horas, duas semanas, ou no máximo três meses. Em Miami já estavam a fazer as malas: Agora acabou-se! Viam que na Europa caía um após o outro. E até na URSS, que era o mesmo que dizer: O Sol vai desaparecer.

Pois, sim senhor, um dia amanhecemos sem o Sol. Uma coisa muito estranha, não é verdade? Porque todos tinham em mente a proeza soviética, a primeira revolução, as suas guerras heróicas, a intervenção exterior na primeira etapa revolucionária, a Segunda Guerra Mundial, os 20 milhões de mortos, a derrota do fascismo, onde esse país desempenhou um papel fundamental. Isso demonstra-o a matemática, a história, tudo. Não podem fazer que ninguém acredite que foram uns barquitos carregados de abastecimentos materiais que salvaram a situação. É verdade que chegaram alguns abastecimentos, mas isso não foi nada. Quem conheça bem os dados, quem leu bem a história dessa guerra terrível, e os tanques que fizeram, e como os fizeram, e como produziam armas lá na Sibéria, no pico do Inverno, em oficinas que não tinham tecto, sabe exactamente como é que o fascismo foi derrotado.

Hoje não, hoje isso nem se menciona. E não estou a defender nenhum dos erros, porque eu era consciente de muitos dos erros que se cometeram e se cometia na URSS; mas as proezas que se cometeram lá não podem ser minimizadas por ninguém, e por isso é que aquele país tinha tanto prestígio.

Recordo que nos primeiros anos da Revolução cubana nós encarregamo-nos de imprimir os livros heróicos: A estrada de Volokolamsk, Os homens de Panfilov, Dias e Noites, tudo aquilo; recordo-me porque fui eu mesmo que tratei de tudo para imprimir todos esses livros, porque era literatura heróica e este povo tinha muita falta de literatura heróica, porque podia ocorrer uma invasão por Girón, uma invasão directa, tanta coisa. O facto é que a literatura heróica ajudou a tomada de consciência, e também ajudou a pensar que toda a verdade vinha de lá, toda a experiência. O nosso povo tinha muito respeito.

Pela parte que me toca, posso dizer-vos que sentia uma grande admiração e respeito, mas uma admiração crítica e um respeito crítico, e sempre fui arredio a copiar mecanicamente as experiências de outros países por muito boas que fossem. Porque se estudou a história de Cuba, e se sabe o que se fez bem e os erros que se cometeram na história de Cuba, e na Revolução Francesa, que foi a primeira grande revolução social dos tempos modernos, e o que aconteceu noutras revoluções.

Agora, também é verdade, um dia vi, a partir da destruição da história desse país que vinha com aquela literatura, que começaram a transformar em cinzas a história, a dignidade, a honra desse país, o qual estavam a desarmar espiritualmente. Era necessário reparar esse país, mas não destruí-lo. Cabe-me o previlégio, porque não vou dizer o mérito, de o ter dito dois anos antes do desaparecimento da URSS em Camagüey, apesar de correr o risco das pessoas pensarem que eu tinha perdido o juízo, porque dizer que se um dia a URSS cai continuaremos a lutar e a construir o socialismo, significava duas coisas: primeiro, que vimos o perigo; e segundo, que confiavamos no nosso povo, que apesar dessas difíceis condições éramos capazes de continuar essa luta.

E aconteceu, de repente o Sol não apareceu mais sob o horizonte, e foi também num dia atlético, desportivo, não era olímpico, era pan-americano, quando aquilo começou a cair, sei lá, um movimento dentro de alguns sectores desse país que promoveram uma mudança à força - não vou julgar isso, tomaria muito tempo -, foi no dia que se encerravam os Jogos Pan-americanos. E o que veio depois: a dissolução, e essa disolução acontece com quatro pessoas numa "dacha" nos arredores de Minsk; nada menos do que em Minsk onde Lenine fundou na década de 90 do século passado o Partido Comunista da Rússia que creio que tinha - não me lembro - uns 15 ou 20 delegados que foram os que ali se reuniram para criar esse partido.

Bom, se Lenine criou, com 15 ou 20 delegados, o que foi depois um partido enorme, no final bastaram quatro pessoas, sob a vigorosa influência de uma famosa aguardente quase transparente, para alguns muito agradável, para mim um pouco insípida - reparem bem o que é a história -, uns quantos copos ou várias boas garrafas, mais sabe-se lá quanto (Faz um gesto com a mão que significa dinheiro) - digo-o: quanto - (Risos e aplausos), concordaram, numa noite infausta, em dissolver a União Soviética. Sei isto porque me foi contado por quem tem direito a saber o que aconteceu e como aconteceu ali, vejam lá que coincidência, que casualidade!

Algum de vocês, mais versado nos manuais de instrução política, sabe em que dia, em que mês e em que ano Lenine fundou o Partido Comunista, então chamado Social-democrata, em Minsk? Aqueles que sabem, levantem a mão. Imagino que tenham esquecido a data exacta. Eu sei que foi depois de Martí ter fundado o nosso primeiro partido, o Partido Revolucionário Cubano, para dirigir a Revolução em 1892. Bom, quando é que a URSS desapareceu? Quando é que a dissolveram em Minsk? Mais ou menos um século depois. E, digo-vos já, se ninguém aqui o sabe, teremos a certeza dentro de uma hora porque o vamos averiguar, isso não é muito difícil (Aplausos).

Sim senhor, quatro pessoas, é preciso pensar muito sobre isso. De que perigos se tem que precaver uma revolução? Do perigo de que quatro indivíduos a possam destruir numa madrugada. Claro que não foram apenas quatro, foram montes deles, porque houve os percursores, os que se encheram de ilusões e começaram a sonhar com coisas estranhas, que não sabiam nada da realidade política. Posso assegurar-lhes que um grupo de pioneiros nossos, dos que temos visto brilhar nas tribunas, teriam tido maior capacidade para entender o que era preciso fazer ali do que aqueles que fizeram o que se viu.

Agora, houve um que começou o pandemónio, apoiado por outros, cuja história não se conhece. A CIA deve ter uns segredos bem guardados! E eles devem saber mutio bem quem, quem, quem e quem assessorou o detonador da destruição daquela história e dos méritos desse país e desenvolveu as ideias peregrinas que conduziram ao desarmamento espiritual e moral desse Estado multi-nacional que tinha escrito uma das páginas mais heróicas da nossa época, para além da tentativa de estabelecer o socialismo em condições em que nem sequer Marx teria alguma vez imaginado; porque foi a audácia de Lenine, mais marxista que o próprio Marx, no sentido de que era um discípulo genial de Marx, que desenvolveu as suas ideias e decidiu, perante a alternativa de render-se ou continuar a lutar, a construção do socialismo num único país, que para mais, não era a Inglaterra, nem a Alemanha, nem a França, como aquele sonhava, mas sim o país industrialmente mais atrasado da Europa - com a vantagem de ser por si só um mundo, porque a URSS com os seus 22 milhões de quilómetros quadrados era um mundo -, tentou-o e conseguiu-o. Conseguiu o que outros não foram capazes de sustentar; conseguiu o que um grupo de ingénuos puderam destruir. Não penso, inclusivamente, que o autor - e não vou mencionar nomes, porque não gosto de fazer lenha das árvores derrubadas, mas vocês entendem-me -, aquel que era o centro do partido nesse instante, tivesse a intenção deliberada de fazê-lo.

No meu foro mais íntimo, partindo das minhas mais íntimas convicções, apesar de dizerem que o autor declarou há pouco tempo que se propôs destruir o comunismo, eu não o creio; deveu-se muito mais à ilusão, à ingenuidade, do que ao propósito de destruir a URSS. Os outros fizeram o seu papel, o Ocidente com os seus agrados fez o seu, e foi assim que se criaram as condições que precederam a madrugada de Minsk; porque tudo aquilo foi um processo - não se esqueçam disso -, um processo de desmoralização, de amolecimento e destruição daquele gigantesco e poderoso Estado que nasceu de uma revolução proletária.

Nós não éramos um satélite que girava em torno do Sol, nunca o fomos; pelo contrário, discutiamos muitíssimo e depois da Crise de Outubro estivemos sabe-se lá quantos anos a discutir. Não se conhece a história daqueles 30 anos de relações da nossa Revolução com a URSS, nem se conhece a política de Cuba, e talvez não tenha chegado ainda o momento de fazê-la ou de escrevê-la.

Vocês falam dos 40 anos dos Comités de Defesa; nós podemos falar dos 41 anos da história da Revolução. Em cada um dos momentos críticos, terão talvez que se guardar os papéis para que se saiba qual era a nossa política e as nossas ideias em relação à América Latina, a nossa política e as nossas ideias em relação às missões internacionalistas cumpridas por Cuba.

Eu posso-lhes assegurar que existe muita honra e muita glória nessa história e que podem ajudar a compreender o porquê, apesar de haver um número de porquês; podem fazer-se muitas perguntas, porque é o somatório das respostas a um número de porquês que podem explicar que a Revolução tenha chegado até aqui. Mas o período especial foi o mais difícil. Os dados que apresentei foi para situarmos relativamente às condições em que se realizou a proeza.

Alguém aqui falou de coisas diversas: Ana Fidelia referiu que tem havido grandes alterações nas técnicas desportivas, até o desporto se referiu aqui, e outros falaram do seu trabalho durante todos estes anos.

O maior trabalho que realizaram todas as organizações de massas, e o que fizeram é objectivamente grande, foi o de ter salvo a Revolução (Aplausos), sob a direcção do Partido e da UJC, com base na forte aliança da Revolução com o povo e uma união forte. Querem que renunciemos ao que nos deu a vida, ao que preservou as nossas conquistas e o nosso futuro: a união. Querem que fragmentemos este país em vinte pedaços (Exclamações de: "Não!"), a resposta é apenas uma com sete pontos de exclamação a seguir (Faz gestos). (Risos) Nunca!! (Aplausos). Sem essa unidade, sem essa força, como teríamos podido resistir e travar as batalhas que realizamos? E fomos-lhes ganhando com muito esforço e continuaremos a ganhar sempre a todos os que querem dividir, dividir para fazer mal; o nosso lema é unir e irmanar para fazer bem (Aplausos).

O período especial não trouxe, no entanto, apenas danos materiais. Quando foi aqui mencionada a cifra de 574 320 doações de sangue, eu fiquei a pensar em que condições é que se atingiu esse recorde, e lembrei-me, certifiquei-me disto com alguns companheiros, que nesse período especial as doações de sangue continuaram a aumentar. Antes do período especial eram mais ou menos 400 000 e chegaram a 574 320 no ano 2000. O escutei há pouco pela primeira vez e nunca mais o esquecerei (Aplausos), porque jamais poderei esquecer que com o bloqueio duplo, com a queda do bloco socialista e da URSS, o consumo médio diário de calorias da nossa população que era de 3 000 baixou para 1800, e que o consumo de proteínas - mais ou menos bem distribuído, como foram as coisas - baixou de 80 gramas para 50 gramas sem sequer ter a mesma estrutura ou qualidade. Hoje ainda não alcançamos as 3 000, estamos um pouco acima das 2 400, foi o que recuperamos, 600 calorias, e já conseguimos recuperar uma parte das proteínas. Quer dizer, este período especial afectou a alimentação da população e deu origem a uma série de medidas de todo o tipo.

Esses 30 milhões de quintais de vegetais que hoje se produzem nas hortas das cidades não se produziam antes do período especial, existiam extensões de terra cultivada com tomate e com outros vegetais, mas apenas nos campos agrícolas, não dentro das cidades; isto é uma parte do esforço que se fez, de uma forma ou de outra, para tentar garantir o auto-abastecimento e procurando que não faltassem os mais essenciais, especialmente para as crianças. O mesmo se pode dizer dos medicamentos.

Espero que algum dia se escreva a história de como o país pode realizar esta proeza. Mas uma coisa posso afirmar antes que se escreva essa história detalhada: isso foi possível graças ao espírito de sacrifício, ao patriotismo e à consciência revolucionária do nosso povo! (Aplausos prolongados). Não podemos dizer ainda que o período especial acabou, o que podemos dizer é que o pior do período especial já passou; que continuamos a fazer sacrifícios, muitos sacrifícios, mas vamos ganhando terreno, de modo firme, com uma fortaleza maior do que nunca, juntamente com uma experiência mais rica do que nunca.

Aqui estou eu a falar dos bens materiais, esses que eu digo que são indespensáveis para a vida; hoje ainda não temos tudo o que é essencial. Quanto à habitação sabemos como estamos e não podemos fazer grandes promessas, apenas recordar que tinhamos capacidade para construir 100 000 habitações por ano, passamos anos a trabalhar para alcançá-la, já a tinhamos na mão e, quando não amanheceu, aquilo ficou então sem poder realizar-se. Todos aqueles investimentos feitos, todas as fábricas, muitas novas, a capacidade de mais de 4 milhões de toneladas de cimento por ano, as capacidades de ferro nervurado, loiça sanitária, azulejos, de todo o material necessário para construir 100 000 habitações novas e reparar outras 100 000, e vimo-nos repentina e abruptamente sem essa possibilidade.

Hoje temos que acudir aos esforços que se realizam, como o que se vem realizando na capital desde antes do último ciclone e que foram incrementados depois do mesmo, porque as casas que na capital desabavam ou estavam em ruínas e se tornavam inabitáveis eram mais do que as casas que se construiam. Hoje temos, pelo menos, planos para reparar dezenas de milhares por ano, com o sitema Cayo Hueso, em habitações de pouca altura; um número de brigadas a reparar, pouco a pouco, as 25 000 edificações de altura mediana que existem na cidade e outras a trabalhar nas 500 mais altas da capital.

Existem uma série de planos, algo ao qual não se fez muita publicidade porque não podemos abranger todo o país e tivemos que começar pelos pontos mais críticos. É um costume habitual da Revolução, o que se começa aqui estende-se progressivamente ao resto do país. O mesmo aconteceu com tudo. Agora vamos dando pouco a pouco passos firmes, adquiriu-se uma grande experiência e avança-se em muitos campos.

Eu queria diferenciar o material daquilo que chamo as riquezas infinitas e que têm um enorme valor humano. Cito um exemplo: o cinema é considerado um avanço na recreação da sociedade, desde o tempo dos filmes mudos. Produzir desenhos animados para crianças e filmes de grande qualidade, criar obras musicais de valor universal, pintar quadros que se tornarão famosos, escrever livros para Cuba e para o mundo, constituem riquezas imensas que não se medem em toneladas e apenas contribuem para as cifras macro-económicas dum país. A humanidade, no entanto, e em especial o nosso povo, não poderão nunca viver sem elas. Isso significa nível e qualidade de vida.

Outro exemplo: Nestas olimpíadas, Cuba foi praticamente o único país do mundo que transmitiu ao vivo e a qualquer hora, desde o meio-dia até às 6:00 ou 7:00 da manhã seguinte, centenas de horas dos sempre fabulosos espectáculos olímpicos que produziram na mente e nos corações do nosso povo emoções e lembranças inesquecíveis. Atrevo-me a perguntar se há aqui alguém que nestas madrugadas não amanheceu nem uma única vez a ver televisão. Que levante a mão se há aqui alguém (Ninguém levanta a mão). Pois eu baixo as duas, porque não sei quantas horas passei a ver essas transmissões. E tudo a um custo mínimo e sem nenhum anúncio comercial (Aplausos). Esse previlégio, esse bem-estar espiritual colossal, para todos os que medem o nível de vida humano pela medida vulgar da macro-economia, não significa nada relativamente ao nível de vida de um povo.

E já agora digo que não me desanimaram nada algumas das coisas que aconteceram em Sydney. Estou de acordo com o que disse aqui Ana Fidelia, que a competição é cada vez mais cerrada, cada vez participam mais países, é necessário lutar boxe com mais gente para chegar à final, correr contra mais gente, saltar contra mais gente e realizar combates contra mais gente. Para além disso, comercializou-se o desporto de uma forma atroz, arrancaram-lhe as suas melhores virtudes e as suas melhores qualidades.

Hoje somos os únicos amadores do mundo que lutam contra profissionais (Aplausos), com patriotismo, com honra. Os nossos atletas representaram-nos com muita dignidade. Reparem que não existe praticamente um desporto onde não esteja representado um ou dois cubanos, seja em taekwondo, seja na luta livre, seja na luta greco-romana, no boxe, na esgrima, nos desportos colectivos; não existe um onde não estejam presentes. Por isso é que a televisão pode transmitir durante tanto tempo, apesar das tentaivas de nos roubar atletas e de alguns bons atletas que nos roubaram em cada ciclo olímpico, apesar de em Sydney não o terem conseguido com nenhum. As pessoas puderam ver pela televisão como é este tipo de olimpíada.

Não vou juntar mais sobre isso, porque talvez mais tarde seja necessário falar deste tema. Apenas digo que não nos desanima nada, os nossos atletas representaram-nos com honra, e tivemos uma derrota, uma derrota duríssima. Os telegramas que diziam que Cuba ontem estava de luto tinham toda a razão. Hoje já não está tão de luto; mas amanheceu sim de luto por duas coisas: pela derrota que sofremos perante à equipa dos Estados Unidos, não estamos habituados a isso; e estamos profundamente amargados porque no desporto inventado por eles e no qual quase sempre ganhamos ouro, desta vez ficamos com prata. Para nós, no desporto nacional, como na honra, o que vale é o ouro (Aplausos). Sim, queriamos ouro e todos sofremos muito. Mas não faz mal, quando é que esta Revolução perdeu o ânimo? Nunca!

Creio que foi um general norte-americano a quem atribuiram uma frase famosa, quando teve que abandonar uma fortaleza poderosa situada em Manila numa embarcação pequena e veloz, dizendo: Voltaremos! Pois bem, dizemos aos nossos vizinhos a Norte, e dizemo-lo amistosamente, sem ódio nenhum, porque estivemos em Baltimore onde ocorreu um jogo de cavalheiros entre profissionais norte-americanos e amadores cubanos, e houve aqui antes outro encontro de cavalheiros o qual eles ganharam, e tiveram todo o respeito da nossa educada população, e até o aplauso; mas voltaremos e encontrar-nos-emos com os profissionais. Espero que levem um dia o dream team, a equipa de sonho, sei lá (Risos). Espero que sim, porque nós talvez tivessemos ganho a medalha de ouro um pouco tristes porque estavamos a lutar contra profissionais, muitos deles da "Triple A", e será uma honra maior quando eles formem a dream team - é óbvio que o meu inglês precisa de ser revisto (Risos e aplausos), vou ter que participar no curso da televisão -; que tragam a dream team com os "home-runners" e o melhor das grandes ligas, levem-na onde queiram e vamos a ver.

Temos de tirar a lição correspondente ao que aconteceu com o nosso desporto, e analisá-la bem. Vocês sabem que neste país toda a gente sabe de beisebol, e sabem mesmo! Isso nem se discute. Tudo isso deve ser submetido a uma análise rigorosa; porque lhes posso dizer que tinhamos todos os recursos para a preparação, meses a fio, desde o jogo de Baltimore, desde que a equipa se preparou para Baltimore onde obtivemos a vitória, e todas as províncias têm hoje a maquinita para medir a velocidade, as máquinas para lançar, têm tudo. Temos instrutores, temos todas as bases para formar e desenvolver atletas, agora é preciso analisar o que é que se passa. Por exemplo, porque é que não existem lançadores canhotos? É uma perguntinha. Como é que está a formação dos atletas, não apenas dos de beisebol, que por vezes monopoliza demasiado os atletas de talento? Temos necessidade de atletas para todas as modalidades, menos para o hipismo e coisas do género, porque isso é um desporto exclusivamente burguês, e custa mais dinheiro manter e enviar um grupo desses cavalos que mandar os 250 atletas para lá (Aplausos). Oferecemos-lhes alguns desportos que são só para milhonários, mas até competimos por lá em barcos à vela pequenitos.

No ciclismo, quem ganhou os primeiros lugares? Os que vivem da profissão de montar bicicletas, de participar nas competições europeias por dinheiro.

Prostituiram terrivelmente o desporto; mas mesmo assim temos que continuar a lutar. Estamos mais fortes do que nunca em muitos aspectos, temos 34 000 professores de educação física e desportos e, no mês que vem, inaugura-se uma escola internacional de educação física e desportos (Aplausos).

Não temos apenas instructores, Cuba é o país que, no mundo, mais colabora para o desenvolvimento do desporto do Terceiro Mundo; o número de instrutores contratados que trabalham em países irmãos realizando um excelente trabalho aumenta, e continuamos a inscrever novos alunos e futuros instrutores. Os nossos instructores formam atletas que competem com os nossos, a alto nível, e continuaremos a fazê-lo.

É necessário falar do tema do desporto, mas não agora; que ninguém se desanime pois as perspectivas são maiores e melhores do que nunca. Temos o capital humano necessário.

Doeram-nos muito os três ou quatro combates de boxe que nos arrebataram descaradamente, três ou quatro, não todos. Ter-se-á que analisar cada uma das decisões tomadas, porquê este, porquê o outro; e existem erros evidentes, que ninguém tenha dúvidas, todos têm que ser analisados. Agora, não são facadinhas, são punhaladas o que utilizam contra os nossos atletas de boxe. Já lhes disse que eu amanheci, como muitos de vocês, mais do que uma vez. Talvez durma hoje porque já só há uma luta às três da madrugada (Risos). Amanhã é outra coisa, porque amanhã é o final do boxe e a mafia é o que me preocupa, já demos um golpe à mafia, acusamo-la e vamos continuar a acusar. Eles querem vingar-se de nós (Aplausos).

Perdemos alguns, temos que saber porquê; outros roubaram-nos. É preciso ver esses vídeos e analisá-los com microscópio electrónico: cada passo, cada golpe, cada táctica, e discutir com todos os que seja necessário discutir tudo o que esteja relacionado com esta questão.

A realidade é que vão nos tirar algumas medalhas de ouro, mas também as competições estão mais duras.

Tivemos proezas como a de Iván Pedroso, admirável (Aplausos). Toda a gente sabe que os maiores saltos dele são os primeiros, nunca os últimos, e ontem puseram-no contra a parede, 49 a 44, quero dizer, 8,44 contra 8,49. Fez o que fez no último salto quando já quase não havia esperança.

E eu conheço melhor o Iván, conheco-o melhor porque fui vê-lo ao hospital mais de uma vez quando teve uma ruptura terrível nuns músculos essenciais para o salto, e houve um erro terrível de um médico auto-suficiente e um treinador, a meu ver completamente irresponsável. Sabem porquê? Porque começaram a tratá-lo sem terem feito um exame profundo da lesão e foi preciso esperar 11 dias pela operação de Iván Pedroso, onze dias, quando os músculos se atrofiam e enrigecem. Foi operado no hospital "Frank País". A delicada operação foi realizada por Alvarez Cambra; o dano provocado pela lesão foi tal e o tempo que se perdeu foi tanto, algo que devia ter sido feito imediatamente, que eu não podia imaginar que ele voltaria a saltar.

Eu sabia que ele pensava nos nove metros e perguntava-me: será que ele o conseguirá, com aquela terrível lesão? Se ele não tivesse sofrido aquela lesão, e se não se tivessem demorado tanto tempo para tratá-lo devidamente, há muito que tinha atingido os nove metros. Sem aquela lesão o Iván Pedroso saltaria mais de 9, salta 9,20, 9,25, não sabemos o que poderia saltar porque que tem a vontade necessária e condições excepcionais. Demonstrou-o ontem à noite quando se comportou como um herói frente a 100 000 espectadores ao realizar o último salto no qual uma simples falta teria deitado tudo a perder. Ele realizou um de 8,80 pelo menos, mas fez falta; creio que esse foi o segundo ou terceiro salto. Ter ganho com o sexto salto foi um mérito incrível, frente aos 100 000 espectadores que apoiavam o seu rival, um atleta da casa. Creio que é uma das grandes proezas do nosso desporto, e eu aprecio-a mais quando recordo tudo o que ele sofreu, e a razão pela qual ele apenas pode participar em Atlanta. Esse é o atleta que deu uma medalha de ouro ontem ao nosso país. Não excluo a possibilidade de ele um dia realizar o seu sonho de chegar aos nove metros.

As moças do volei portaram-se como verdadeiras campeãs: no quarto set estavam quase 16 a 8; 16 a 9, aquela vantagem parecia insuperável; recuperaram a diferença e ganharam esse set para ir ao time-break famoso e ganharem. Falta amanhã, temos que confiar nelas.

Não basta aplaudir os nossos atletas quando chegam com as medalhas de ouro; é preciso recebê-los com afecto de irmãos, é preciso recebê-los como quando obtêm a vitória. Eles não são atletas profissionais, são atletas que lutam pela honra do nosso país, como o fizeram já tantas vezes (Aplausos prolongados).

Já 250 deles, incluindo treinadores e pessoal auxiliar, se encontram no ar, supõe-se que estejam aqui amanhã por volta da uma da tarde, apesar de saber - e isto digo-o para os familiares de Iván, vi-os pela televisão - que o Iván não viaja neste primeiro avião, alguns ficaram para a segunda viagem; porque ele acabou a competição de madrugada, terminou tardíssimo. Isto é o que podemos dizer sobre o desporto.

Já vou em mais de duas horas, faltando à minha palavra e devido aos temas (Dizem-lhe algo). Muito obrigado, isso consola-me um bocadinho, talvez termine antes das duas (Risos), antes das duas da manhã não; antes de duas horas (Risos), não se assustem (Aplausos).

Pois, vejo como aplaudem essa promessa (Risos). Não, é que estão à espera dos companheiros que prepararam a festa dos comités.

Queríamos ter podido dispôr do teatro "Karl Marx", não foi possível. Utilizamos a capacidade do "Palacio de las Convenciones" e algumas áreas contíguas a esta sala principal; e agora vem um tema que vou tentar concluir antes da meia-noite. Apesar das 24 horas do aniversário já se terem quase acabado, vamos aproveitar o que resta do 28 (Aplausos).

Quero dizer-lhes uma coisa, talvez a coisa mais séria que vos tenho para dizer é que a Revolução inicia uma nova etapa. Fizemos muitas coisas mas a nossa Revolução tem que se aperfeiçoar, o nosso trabalho tem que se aperfeiçoar. Já falei sobre o dano material e até o dano moral que o período especial nos causou, sobretudo pelo que lhe precedeu; mas soubemos impôr-nos, fomos capazes de consegui-lo.

O período especial trouxe também desigualdades, muitas desigualdades, coisas tristes, coisas dolorosas, às quais fomos obrigados pelas circunstâncias. Não tivemos outra alternativa, tivemos que recorrer a uma série de medidas. Essa foi a dôr moral adicional que tivemos que sofrer. Criaram-se desigualdades no rendimento, as pessoas que recebiam dinheiro do exterior e as muitas que não recebiam nada; as fábricas ficaram sem matéria prima apesar de nenhum trabalhador ter ficado sem o mínimo necessário para comprar nem que fosse o que recebia pela "caderneta de abastecimento". Ficamos sem autocarros e, aqui em Havana, tivemos que recorrer à bicicleta; as cidades do interior também ficaram sem autocarros, foi preciso recorrer às carroças e aos cocheiros; surgiram uma infinidade de trabalhadores por conta própria, alguns com toda a lógica, outros nem tanto pelos preços abusivos que cobravam.

Acreditem que também era doloroso recordar as pessoas a quem a Revolução lhes entregou uma casa, que não eram todas iguais, umas viviam em apartamentos ou casas modestas e outras em mansões, porque eram as que foram ficando quando os sectores mais ricos se foram embora. Desenvolve-se o turismo e com ele o aluguer de quartos ou de casas completas em divisas convertíveis. Não, não o vamos proibir, podem estar sossegados, o que fizemos foi regulamentar essas actividades, pedir-lhes que paguem o seu impostozito, que o paguem; que cumpram com a lei, que cumpram a sério.

Hoje não nos preocupa que os que mais dinheiro têm - porque existem pessoas que têm bastante dinheiro -, vão ficando com as melhores casas deste país, de uma maneira ou de outra. Conhecemos bem alguns descarados, os que tomam conta dos idosos, que quando vêm que numa casa grande vivem apenas dois idosos e algum doente - já vi casos destes -, fazem passar-se por bons samaritanos, tornam-se indispensáveis, vão de um lado para o outro, lavam, ajudam, fazem tudo e, quando os dois idosos morrem, ficam com a casa, que são muitas vezes verdadeiras mansões, e com tudo o que existe lá dentro.

Dei apenas um pequeno exemplo, poderia citar muitos outros: ilegalidades com a habitação, falcatruas de papéis, suborno de funcionários que se dedicam a isso. Não pensem que nós não sabemos, a lista pode ser assim (assinala) sobre todas as técnicas de corrupção ou de suborno - para baixo, é muito difícil que isso aconteça a partir de um certo nível, muito difícil! -, mas às vezes falta um papel, um documento, troco, e ocorre muito descuido relativamente à questão da habitação. Temos o dever de exigir que a lei seja cumprida, e se as leis não se cumprem, aplicar sanções (Aplausos). Se uma pessoa tem um apartamento e tem um primo, um familiar, e quer alugar o que é seu, que o alugue, mas deve cumprir as normas legais estabelecidas.

No futuro, o Estado terá também todas as condições adequadas, as casas necessárias. Já vieram muitos representantes de empresas estrangeiras, pessoas que têm relações comerciais conosco, e não pudemos fornecer-lhes as habitações que requeriam; muitos deles chegam e alugam casas particulares: mil dólares? Mil dólares, e mil dólares são mil dólares! Equivalentes a pelo menos 20 000 pesos por mês.

Quero dizer-vos apenas uma coisa: há muita gente neste país, muita - quando digo isso não quero dizer que seja um milhão, nem 500 000, nem 100 000, nem talvez 10 000, haveria que pensar nisso -, umas quantas centenas e possivelmente uns quantos milhares, que com o que ganham num mês se pode pagar o salário dos 35 chefes dos organismos centrais do Estado. O salário destes é de 450 pesos.

As pessoas têm tendência a pensar que os ministros vivem muito bem, isso é um reflexo condicionado de há muito - não digo que mendigam nem que vivem na miséria; mas temos o dever de conhecê-los porque os vemos muitas vezes. Bom, um ministro aqui recebia o alojamento para uma semana de férias. Há dois anos decidiu-se que não seria apenas o alojamento mas também a alimentação para essa semana de férias. Sabem porquê? Porque havia ministros que não tinham dinheiro para pagar essa semana de férias. E não estou a defender os ministros, porque o que faço é criticá-los sempre que posso; mas sim, fazendo-lhes justiça, devo dizer isto, e dou-o como exemplo.

Há pessoas aqui que cobram 3 000 ou 4 000 pesos em menos de uma semana por fazerem um trabalho qualquer; quer dizer que houve um abuso, devo dizê-lo, no que cobram a uma família por um serviço particular. E o Estado que não cobre caro senão todos lhe caem em cima, e com razão, o nosso Estado não tem nada que cobrar caro, mas não aplaudam; o nosso Estado deve manter um equilíbrio financeiro, porque quando esse equilíbrio financeiro se perdeu nos primeiros anos do período especial, com 1 dólar compravam-se 150 pesos, e hoje com 1 dólar só se podem comprar 20, 21 ou 22 pesos, varia um pouco dentro de limites apertados.

Cuba é o único país do mundo, o único país do mundo, escutem bem, que conseguiu valorizar a sua moeda sete vezes em quatro anos e meio e pôr o peso ao nível que tem agora relativamente ao dólar. É necessário mantê-lo, não podemos começar a distribuir pesos pela rua e voltar a cair numa inundação de pesos, porque o trabalhador que guarda o seu dinheiro necessita que se preserve o valor da sua moeda e do salário que lhe pagamos. Por isso, apesar das muitas necessidades, aumenta-se o salário selectivamente. Os professores estiveram anos sem um aumento, chegou um momento em que foi necessário melhorar os salários dos professores como foi feito noutros sectores. Houve pirataria, foi necessário melhorar os salários nas universidades, não muito, porque até tinham sido reduzidos. Sim, porque é que acontece a pirataria: uma determinada empresa, porque o sitema empresarial apresenta determinadas vantagens, são empresas estatais, mas alguns dos presidentes das empresas gostam de piratear trabalhadores.

Olhemos para o que aconteceu recentemente com os "Joven Club": dos duzentos e tantos trabalhadores que existiam inicialmente apenas 10 ficaram que completaram os 13 anos. É muito fácil alguém formar um professor de computação e depois aparecer um hotel, esta ou aquela empresa e pirateie o trabalhador. Isso não deve ser feito por uma questão de ética.

Também já estavam a piratear os professores das universidades. Decidimos lhe dar tratamento especial, porque não dispensamos um único professor universitário durante o período especial; pelo contrário, vamos aumentar o número de cursos por outros motivos e temos esse corpo de professores.

Como é que conseguimos fazer uma escola latino-americana de medicina? Porque tinhamos o corpo docente. O edifício do MINFAR, que tinha reduzido os gastos e o pessoal da defesa, foi necessário arranjá-lo e, aí está, funcionando com a capacidade máxima. Falo de uma instituição que goza já de um prestígio mundial gigantesco.

Não podemos resolver os nossos problemas desesperadamente retrocedendo das posições que assumimos. Hoje muitas famílias guardam o dinheiro no banco e recebem determinados juros.

Actualmente temos três moedas: o nosso peso normal; um peso convertível, com o qual se estimulam determinados sectores de trabalhadores, mais de um milhão de trabalhadores recebem algum estímulo nessa moeda, e existem os dólares. Existem contas em dólares, contas em pesos convertíveis e contas em pesos normais. Foi criada toda uma situação de ordem financeira muito favorável e que nos pode ajudar muito, por isso digo que não podemos retroceder em relação a nenhum dos feitos alcançados.

Conhecemos as opiniões sobre os temas mais diversos porque recolhemos milhares de opiniões espontâneas todos os dias. Usamos esse termómetro para medir as opiniões mais variadas, alguns dos critérios são evidentemente erróneos, equivocados, isso indica-nos que é necessário explicar melhor algumas coisas. Todas as opiniões são úteis; às vezes algumas são de carácter extremista, a minoria, vocês não imaginam o quanto mudaram, quanto aprendeu o povo nestes últimos dez meses, foi uma aprendizagem acelerada. A batalha da criança seqüestrada e a batalha pelos objectivos de Baraguá aumentaram de maneira notável os conhecimentos da nossa população. Isso vê-se inclusivamente nos inquéritos sobre temas complicados: o que é o Banco Mundial, o que é o Fundo Monetário Internacional, o que é a dolarização, o que é isto, o que é aquilo, temas complicados, e à medida que os nossos especialistas se foram habituando a que não estavam a falar com académicos, mas sim com a população em geral, as suas palavras foram tornando-se mais inteligíveis.

Falo disto por uma razão muito simples: o nosso país vai dar um salto gigantesco na área da educação e da cultura, e irá mais devagar na área material.

Podem crer, ouvimos opiniões sobre as tribunas abertas, as mesas redondas e muitos outros temas. Alguns até perdem a paciência porque não as podem ver todas e dizem: "Façam-no duas ou três vezes por semana". Recolhemos todas as opiniões, milhares, e depois faz-se uma amostragem das opiniões recolhidas, e as que são mais duras ou mais críticas estão em primeiro lugar, mesmo que sejam três. Se três pessoas em três lugares dizem algo, mesmo que seja um disparate, recolhe-se essa opinião, às vezes é apenas uma em milhares e recolhe-se.

Seria necessário ter todas as provas e todos os detalhes para que vocês podessem ter uma ideia do quanto avançou a educação geral e a educação política da nossa população, que já domina temas que muitos profissionais doutras partes do mundo não dominam.

Posso dizer-lhes, no entanto, que o que fizemos em educação não é nada. E digo-o apesar de que, por exemplo, agora que estivemos a falar das olimpíadas, há uns meses, os países de toda a Bacia do Caribe levaram a cabo uma olimpíada de matemática, e nessa olimpíada Cuba ocupou o primeiro lugar com uma medalha de ouro e uma de prata (Aplausos).

Já referi noutras ocasiões que numa investigação da UNESCO os índices de conhecimentos das nossas crianças eram quase o dobro da média da América Latina, isso não é difícil de provar porque vocês viram-no. Da escola de Los Palacios, de onde levaram uma criança de 13 anos que quase perdeu a vida, falou um menino na tribuna aberta e fez um discurso tão brilhante quanto todos os que se proferem nas tribunas. Uma professora dessa escola faz um discurso excelente. O mesmo acontece em todo o lado.

Outra olimpíada - esta teve lugar enquanto se efectuava a de Sydney, de 16 a 24 de Setembro -, uma olimpíada ibero-americana de matemática: os nossos alunos foram - chegaram tarde devido a problemas com a viagem, as passagens -, tinham que fazer uma prova num dia e noutro dia outra, num só dia tiveram que fazer as duas provas e receberam três medalhas de prata (Aplausos). Essa foi na Venezuela.

A última, há poucos dias - estas notícias chegaram ontem -, uma olimpíada de física em Espanha, de países ibero-americanos: os nossos jovens ganharam duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze, com as quais ocuparam o primeiro lugar dos países participantes (Aplausos). De modo que ao dizer que na educação não fizemos nada, isto pode servir para dar uma ideia do que pensamos que pode ser feito na educação, que está nas nossas mãos poder fazê-lo e que já o começamos a fazer.

Se vamos ter um povo verdadeiramente culto, vamos ter um povo massivamente culto.

Vejamos, antes o Ministério da Educação dava um seminário durante a semana das férias escolares ao qual assistiam 300 que depois davam o mesmo seminário a outros, e por aí até a base. Este ano lectivo, na primeira semana de férias daremos seminários a 200 000 professores. Vejam que salto: de um seminário para 300, dar um seminário simultaneamente a 200 000; e para além disso, qualquer cidadão poderá assistir a esse programa. Através dos media, o que vamos conseguir é, muito simplesmente, o que se poderia chamar o infinito. Uma equipa de 10 ou 12 professores podem dar a matéria em primeiro lugar para os alunos, e também para os professores e para toda a população que esteja interessada no tema.

O primeiro curso começa já nos primeiros dias de Outubro, era para os jornalistas mas agora vai ser para todos os professores, e para os alunos avanzados, porque vão receber um curso de técnicas narrativas nos televisores, com o respectivo vídeo, que estão nas escolas. Isso é útil até para a pessoa que quer escrever uma carta. E recomendo-o a todos que o possam ver, especialmente aos professores. Este vai ter uma duração de 20 horas e o material de estudo já está escrito. Aqueles para quem o curso é dirigido terão o material, os outros que o querem seguir poderão comprá-lo nos postos de distribuição da imprensa.

Algumas pessoas pensam que algumas coisas que se vendem são caras. Alguns disseram que a colecção dos suplementos das mesas redondas estava cara, vendeu-se a 10 pesos. Pois, se a tivessem comprado e guardado seria menos. Quero apenas dizer-lhes que 10 pesos não chegam para cubrir os gastos de papel dessa colecção. Notem bem.

Pensamos em muitas formas de imprimir livros a custo reduzido, e já se pode imprimir um livro em qualquer município do país. As casas da cultura têm computadores; não vou falar disso agora, porque se terá que falar disso mais tarde.

No outro dia já explicamos o que estamos a fazer em computação, um tema muito vasto; estamos na era dos computadores e o ensino generalizado de computação a 2 400 000 estudantes, incluindo primária e pré-primária, aos que, como se sabe, se deve ensinar, jogos educativos e não apenas os violentos que se vendem como producto comercial; serão programas seleccionados, recreativos, educativos.

Inauguramos duas escolas: uma já foi referida aqui, da qual falou um aluno, de jovens que se graduaram do bacharelato e que não puderam entrar na universidade. Que escola de estudo intensivo para um trabalho de tão grande importância! Não lhes vou falar disso, mas quero dizer-lhes que abre um mundo e uma perspectiva de verdadeira justiça para a nossa sociedade, onde persiste ainda a marginalização herdada do capitalismo.

Não é verdade que existe igualdade de oportunidades para todas as crianças neste país. Pensamos que construindo muitas escolas, levando a cabo tantos programas, investindo uma elevada percentagem do nosso Produto Interno Bruto em educação, que somado ao da saúde é uma cifra considerável, que tinhamos criado igual possibilidade para todos.

Estamos a aprofundar o estudo de uma série de aspectos que vão desde o delito, as fontes de delito, até à marginalização que existe na nossa sociedade. Alguns estão relacionados com o problema material da habitação; mas, apesar disso, e apesar de não podermos prometer que se vão a começar a construir todas as habitações de que necessita o país, posso-lhes assegurar que apesar das condições actuais, pode-se fazer muito para combater a marginalização e criar a verdadeira igualdade de oportunidades.

Já disse que algumas pessoas ganham por mês o suficiente para pagar o salário aos 35 membros do Conselho de Ministros. Pois digo-lhes que há gente que tem dinheiro, que ganham muito por isto ou por aquilo, trabalhadores por conta própria, donos disto e daquilo, os que alugam casas em dólares - já disse, não o vamos proibir, não , não, não o vamos proibir, não se assustem; o que eu disse é que íamos aplicar a lei, não de repente, mas da forma que sabemos como se devem aplicar as leis -, que pagam a um professor o dobro do salário que o Estado pode pagar actualmente a um do nosso imenso colectivo de educadores, para dar algumas horas de liçoes particulares à criança, estando já essa criança em vantagem sobre outra de uma família de trabalhadores que vivem amontoadas em quartos. Com isso roubam professores e, para além disso, criam privilégios, dado que, como tudo é por escolha, segundo as notas e segundo os exames, as crianças que vivem em condições marginais, ou não provêm de núcleos com maior cultura, não têm acesso às mesmas possibilidades. Tenho dito.

Por trás disto está um mundo gigantesco que temos vindo a descobrir e que recentemente, no meio da batalha, acabamos de descobrir e que se, conscientes disso, não o abordamos como deve ser abordado - e creio que o estamos a abordar bem -, não nos poderemos chamar um país socialista. Podemos chamar-nos um país socialista por tudo o que temos feito, enquanto desconheciamos toda a justiça que ainda falta.

O período especial criou muito mais desigualdades e, conseqüentemente, menos oportunidades para os que têm menos recursos, e nós temos que lutar para que cada criança deste país possa ter a mesma oportunidade de passar no sexto ano, na secundária, no bacharelato, ir para uma escola vocacional, a universidade, o que seja (Aplausos).

Não são apenas os que têm mais dinheiro que disfrutam de mais possibilidades. temos 700 000 profissionais, os profissionais têm uma determinada educação, muito superior à de famílias que vivem em zonas marginais, apesar de existirem graduados universitários nalgumas dessas zonas.

Mobilizou-se uma tropita; digo tropita que neste momento são apenas 600. Já estamos a organizar a segunda brigada de estudantes universitários - estou-vos a contar isto adiantado - para realizar um trabalho de grande importância aos sábados, é que temos que investigar muitas coisas de ordem social, para desenvolver, ainda no seio das desigualdades, um socialismo muito mais justo do que o que temos actualmente, e asseguro-lhes que o vamos conseguir porque estamos a empregar a experiência de muitos anos, a experiência acumulada nestes 40 anos.

Dissemos que íamos resolver o desastre da capital. Que desastre da capital, na educação? É que nas provas feitas pelos centros de investigação, a capital apresenta metade dos resultados que os alunos da primária em Santiago de Cuba, que estão em oitenta ou oitenta e tanto, e Havana em quarenta e tanto. A culpa é dos professores? Não! Não existem professores mais heróicos noutro lado - atrevo-me a dizer isto -, apesar de todo o país estar cheio de professores heróicos porque aqueles que dão aulas onde não há electricidade, não há nada, são heróis; mas professores que aqui têm que dar aulas a 40, a 42, 45 alunos cinco dias por semana, e estão na escola desde as sete da manhã até depois das seis da tarde, ir para casa e cuidar dos familiares, muitas vezes lavar, passar a ferro, cozinhar - isto todos os dias, incluindo sábados e domingos -; licenciadas em ensino primário, que muitas vezes não têm sequer uma máquina de lavar, são heroínas. E digo heroínas porque são principalmente mulheres.

Nós, que sabemos tudo isso, temos que tentar aliviar essa carga docente excessiva; vamos fazê-lo com fórmulas simples. Daqui a dois anos não existirá uma classe com mais de 20 alunos em "Ciudad de la Habana" (Aplausos).

É claro que, quando vêm o sacrifício dos professores, os primeiros a recomendar aos filhos que não estudem pedagogia são os pais, porque conhecem a tragédia em que vivem.

Antes do período especial também tinhamos um plano excelente para a construção de escolas, já estavamos a eleborar os projectos. Com mais três ou quatro anos teriamos feito algo considerável em matéria de edificações escolares novas. Sabemos como estão muitas delas na capital, já vi salas que teriam inveja da pequena salita numa casa de madeira onde eu fui, em Birán, à escola pela primeira vez, era como uma pré-primária porque me mandaram para lá com mais ou menos 3 anos; aqui na capital estão a abarrotar, dificuldades em muitas escolas, somos conscientes. Vamos a tomar conhecimento de tudo, radiografia de cada uma, não com a promessa de repará-las imediatamente ou de construir novas, porque não se devem criar falsas expectativas; mas saber sim o que está a acontecer e onde a situação é mais crítica, para actuar.

E disse: um professor para 20 alunos. Confesso-lhes que estou a ser conservador e que talvez sejam um bocadinho menos que 20 alunos, isso podemos assegurar-vos.

Há alguns dias inauguramos uma escola de ensino intensivo, de emergência; uma para trabalhadores sociais e outra de formação de professores; estão a funcionar muito bem e temos que inaugurar umas quantas mais noutras disciplinas. A experiência de muitos anos ensina-nos a resolver grandes problemas com poucos recursos.

Por acaso esquecemo-nos de que quando centenas de milhares de estudantes aprovavam o sexto ano cada ano não havia escolas nem professores do ensino secundário e tivemos que construí-las e formar um destacamento pedagógico para que fossem estudar e ensinar? Graças a isso temos os 700 000 profissionais universitários. Como é que agora vamos nos afogar num copito de água? Como é que vamos permitir que na nossa capital, onde temos mais problemas, mais dificuldades e mais problemas sociais de todo o tipo, não haja vocação para ser professor.

E isto que existem muitas outras opções, claro, porque se se fala de turismo, 100 levantam a mão; se se fala de professores, levantam a mão três ou quatro. Já existem 14 escolas pré-pedagógicas para promover a vocação na cidade de Havana.

É preciso resolver esse problema. Claro que essa não é a situação no resto do país.

Não quero estender-me em detalhes, prefiro que se vá falando das coisas que se vão fazendo, à medida que se vão fazendo; digo-lhes que se abre um mundo para a nossa Revolução e vamos multiplicar, sem realizar um esforço extraordinário e a um custo insignificante, o trabalho educativo. Nessa e noutras coisas.

Não conto mais. Vamos multiplicar os conhecimentos da nossa população, vocês vão ver. Em Novembro começam o curso de espanhol e duas aulas por semana de inglês, e depois um terceiro idioma, são três; bem conhecidos e necessários, entre outros o espanhol, a gramática. Se faço um exame a alguns de vocês de certeza que não se lembram de 90 % de alguns conceitos que aprenderam no sexto grau; não vou fazê-lo porque sou vosso amigo (Risos), já o fiz a graduados universitários.

Vamos multiplicar os conhecimentos e a cultura da nossa população, vamos multiplicar as riquezas espirituais a um ritmo nunca antes visto na história de nenhum país. Não porque sejamos melhores, mas porque, por termos tido que lutar e lutar e querer aperfeiçoar as coisas, fomos descobrindo possibilidades.

Vamos desenvolver um socialismo muito mais justo; vamos garantir a possibilidade de que todas as crianças que nasçam neste país, qualquer que seja o nível cultural do núcleo familiar, o lugar onde vivam, a marginalidade de que sofram, tenham todas exactamente as mesmas possibilidades. Isso está nas nossas mãos, temos a força para alcançá-lo.

Digo isto hoje neste 40o aniversário, o Contino disse-o a vocês dos Comités de Defesa; digo-o com mais convicção da que expressou Neruda no seu poema, digo-a com uma segurança total e responsabilizo-me pelo que estou a dizer (Aplausos).

É por isso que se inicia uma etapa transcendental, conquistamos essas possibilidades lutando, resistindo, combatendo.

O privilégio será o de termos um povo com um tal nível de conhecimento e de cultura que o seu futuro estará políticamente assegurado para sempre. Nós queremos um povo de milhares de cabeças pensantes e uma revolução com uma apólice de seguro com cobertura total, para que uma revolução não possa ser destruída por 1, nem por 2, nem por 10, nem por 100, nem por 1 000, nem por 100 000; porque a partir da experiência histórica é óbvio, óbvio, óbvio, que deve ser a consciência da nação a que hoje, amanhã e sempre, mande e decida.

Tal é a fé que temos na justiça de uma revolução, tal é a fé que temos no que se pode fazer com o ser humano, por isso é que não tenho a menor dúvida que o conseguiremos. E não será apenas para o bem dos 11 milhões de cidadãos deste país, asseguro-lhes que o que o nosso país faz hoje pode ser para o bem, e começa a ser para o bem, de centenas de milhões de pessoas no mundo.

Martí disse: "Pátria é humanidade", é uma das coisas mais belas e mais profundas que alguém alguma vez disse. Pátria é humanidade quer dizer que defender esta Revolução, a mais justa, a mais humana, a mais limpa, a que têm mais moral, porque em 40 anos não foi uma revolução de ladrões nem uma revolução de vira-casacas, nem uma revolução de corruptos, nem uma revolução de traidores, mas sim de cada um de nós que está nesta Revolução, uns há mais tempo que outros, e os que nos seguem, serão uma garantia desta linha que seguimos durante 40 anos.

O prestígio destes 40 anos de luta é já algo indestrutível, posso assegurar-vos, é, para mais, crescente, assim como a força de que dispomos para nos defendermos, os meios, as ideias que defendemos. E já não são apenas ideias, fizemos promessas: escolas deste ou daquele tipo para o nosso país e para cooperar com outros em questões vitais. Não pensem que o país se arruína, notem bem - aprendemos a fazer as coisas a um custo mínimo -, porque já tinhamos as edificações, tinhamos os professores, tinhamos os demais trabalhadores. Se vissem os outros gastos, que temos exactamente calculados, a nossa população espantar-se-ia com minímos que são.

Dispomos abundantemente de algo que se chama capital humano, nenhum povo teve capital humano na medida em que nós temos actualmente. Neste período especial, apesar da redução dos alimentos que recebiamos, aumentamos todos os anos as doações de sangue, hoje que é mais difícil, hoje que é muito mais importante.

Países que são riquíssimos não têm outra forma de conseguir sangue sem ser pagando-o a qualquer preço, porque com a extensão de doenças novas, como o SIDA, ou antigas, como a hepatite e outras, que se transmitem pelo sangue, não se sabe o valor do sangue actualmente. Há um país que não tem que pagar um centavo por sangue a alguém, é o sangue generoso, o sangue solidário dessas centenas de milhares de compatriotas que o doam.

Isso não é novo, não se disse aqui, por exemplo, que aquando do terremoto no Perú, em 1970, recolheram-se em dez dias à volta de 105 000 doações de sangue (Aplausos). Mostrem-me outro povo que tenha feito o mesmo, estou a falar de uma consciência de há 30 anos, e demos-lo mais de uma vez. Também o demos para o Irão, demos-lo para a Arménia quando ocorreram os terramotos.

Convertemos um acampamento de pioneiros em centro para as crianças vítimas de Chernobyl, por onde já passaram mais de 15 000 adolescentes e crianças, e se a sua capacidade máxima não foi utilizada não foi por culpa nossa, sem cobrarmos um centavo. É que temos os médicos, temos os trabalhadores, temos o capital humano para fazer isso.

Falamos nas Nações Unidas na necessidade de salvar nações inteiras, de salvar um hemisfério, e intimamos, ou apelamos - vamos utilizar um termo mais diplomático - aos países ricos e industrializados para que contribuam com os medicamentos que nós podemos criar a estrutura para distribuí-los, para aplicá-los, porque os representantes dos países de Africa, numa reunião há várias semanas em Durban, quando os capitalistas ricos aterrorizados com o que pode acontecer nesse continente com o SIDA, começaram a falar de negociações com as multi-nacionais para que reduzissem o preço dos medicamentos, que hoje custam 10 000 dólares por indivíduo por ano, apenas para que sobreviva, e eles falavam em baixá-los até ao seu custo real, que é de aproximadamente 1 000 dólares, os africanos disseram: "Mesmo que nos oferecessem, não temos a infra-estrutura para aplicá-los". Essa infra-estrutura é fundamentalmente de carácter humano.

Eu disse-lhes então: "Cuba pode criar essa infra-estrutura num ano" e disse-lhes que estava a ser conservador, porque a podemos criar em menos tempo. Temos o capital humano para isso; os Estados Unidos e a Europa juntos não têm o capital para criar tal infra-estrutura, nós podemos fazê-lo com menos de 10% do capital humano de que dispomos no campo da saúde pública. Quê, o que é que eu estou a dizer? Estou a exagerar: com apenas 6% do capital humano de que dispomos. Eles, juntos, esses países industrializados, não dispõem desse capital humano com o qual um único país pequenito e bloqueado conta para fazê-lo (Aplausos). Essa é a obra de 40 anos de Revolução, essa é a vossa obra.

Havia de chegar o dia em que diriamos: Cuba pode ajudar o mundo. E agora já não estamos a falar de salvar 100 crianças, estamos a falar de salvar nações inteiras condenadas, é certo e sabido, a desaparecer; um hemisfério inteiro condenado, é certo e sabido, a desaparecer. Já é quase tarde para começar a fazê-lo.

Isso foi muito bem acolhido nos Estados Unidos. Lá pudemos reiterar aos nossos amigos do Caucus Negro, que representam 35 milhões de afro-norte-americanos, a propósito de alguns deles nos terem explicado que nos seus distritos não tinham médicos, que nós podiamos enviar-lhes um número de médicos. E mais, que podiamos receber um número de estudantes desses distritos para que estudem no nosso país. Demonstraram um interesse impressionante. Se pedem para enviar algum médico para algum desses lugares, porque o solicitem, terão as autoridades desse país moral para proibí-lo, quando enviam bilhetes para o sorteio aos médicos que estão no Zimbabwe, um país que ficou quase sem médicos e onde os índices de determinadas doenças são altíssimos? Se enviam os bilhetes para lá, para o sorteio, para que desertem, poderiam proibir que nós mandemos médicos para alguns dos distritos negros dos Estados Unidos? Eu disse-lhes: Vocês são o Terceiro Mundo dos Estados Unidos". Oferecemos-lhes bolsas de estudo, 250 bolsas anuais para jovens dos distritos desses legisladores para estudar em Cuba um curso que nos Estados Unidos custa 200 000 dólares. Agora é que vamos ver quem é que defende as ideias mais justas, faremos uma análise profunda de tudo.

Citei-lhes um exemplo de entre centenas, de entre milhares. Para minorias indígenas, hispânicas que eles têm, até oferecemos 250 bolsas adicionais através da delegação parlamentar cubana, presidida por Sáez, o Primeiro Secretário do Partido na província de Havana, que visitou os Estados Unidos a convite dos parlamentares negros. Lá trataram muito bem a nossa delegação. Não deixaram ir Alárcon, mas aos outros disseram que sim, e os outros foram - chegaram um bocadinho tarde -, é impressionante o que contam do seu encontro com os deputados do Caucus Negro, como o chamam, que são 38 membros do Congresso dos Estados Unidos; as deferências que tiveram com eles, a atenção que lhes deram num almoço para 5 000 convidados.

Sim, porque é que o nosso país pode fazer isso actualmente? Porque nestes anos de período especial e como herança do que tinhamos, das 21 faculdades de medicina criadas pela Revolução, incorporamos nas nossas comunidades 30 000 médicos nestes 10 anos de período especial.

Fomos reduzindo o número de vagas nesse curso e agora vamos admitir 2 750 alunos cubanos este ano, 3 000 no próximo, não é necessário mais. O nosso país conta hoje com recursos humanos, capital humano para prestar grandes serviços ao mundo, e não é apenas prestar ao enviar tanta gente ou formar tantos estudantes, fá-lo com o seu exemplo. Como é que um país bloqueado durante 40 anos, hostilizado durante 40 anos, e por fim submetido a um bloqueio duplo durante 10 anos, pode afirmar o que eu vos estou aqui hoje a afirmar?

A nossa tarefa já não será a de ver, como no dia da fundação dos Comités de Defesa da Revolução, o que é que um contra-revolucionário terrorista infiltrado estava a fazer, apesar de nem de perto ter sido isso o que vocês fizeram; a partir da primeira etapa vocês dedicaram-se a trabalhar ao serviço da população. Seria necessário fazer as contas de quantas dezenas ou centenas de milhares de vidas os Comités de Defesa da Revolução salvaram, apenas com o programa de doação de sangue, que, esse sim, é um direito humano (Aplauso).

Podia perguntar-se que cidadão vocês assassinaram, ou a Federação de Mulheres Cubanas ou outras organizações de massas, ou os jovens comunistas, ou os estudantes; que cidadão assassinou um soldado das nossas Forças Armadas Revolucionárias; que cidadão foi assassinado por um dos nossos combatentes do Ministério do Interior, e ninguém poderá encontrar um único caso em 40 anos de luta, de hostilidades e de bloqueio, um país que lutou aqui e fora das suas fronteiras.

Mostrem-me um soldado racista sul-africano prisioneiro, assassinado por um combatente internacionalista cubano, lá ou em qualquer outro lugar onde estiveram, em qualquer dos países que ajudaram, naquele hemisfério ou noutro - isso nunca se poderá dizer de um combatente cubano, de um revolucionário cubano, em 40 anos, que não são quatro dias, nem quatro meses, nem quatro anos, mas sim quarenta vezes um ano; e veja-se o que fizeram os treinados pelo império -, e verão os anos que durou a Revolução cubana sem um único torturado. Digo-o e repito-o cem vezes. Seria muito difícil não sabermos se um cidadão tivesse sido torturado.

Nunca! Aqui nunca ninguém ouviu essa palavra. É por isso que muitas vezes dizemos: "Falem com o povo e perguntei-lhe". É por isso que nós temos moral e autoridade, que ninguém tem, quando em lugares como a Argentina houve 30 000 desaparecidos, 3 000 assassinados no Chile, mais de 100 000 na Guatemala, dezenas de milhares noutros lugares, não se sabe quantos mortos ou desaparecidos.

Marx disse que o capitalismo veio ao mundo a escorrer sangue da cabeça aos pés. A história do imperialismo em todo o mundo, no Vietnã, em Angola quando armaram tropas ao serviço do "apartheid"; quando sabendo que a Africa do Sul tinha sete armas nucleares, albergaram a esperança de que as lançassem contra nós quando avançavamos em direcção à Namíbia, quando se decidiram problemas cruciais da Africa, demonstram as cruéis, hipócritas e sanguinárias entranhas do imperialismo em qualquer parte do mundo.

Que moral tem o império? Não existe moral nenhuma, existe a mentira, única e exclusivamente a mentira, porque a injustiça e o crime apenas se podem edificar sobre a mentira. Para assassinar 4 milhões de vietnamitas tiveram que dizer ao povo norte-americano que era para salvaguardar a segurança dos Estados Unidos e a paz no mundo; e os vietnamitas o que queriam era governar o seu país, não ser uma colónia, produzir arroz e alimentos para o seu povo, ser independentes. O povo norte-americano descobriu a verdade um dia e actuou decididamente contra aquele crime monstruoso.

A moral da nossa Revolução, devido à sua conduta, é irrepreensível, muito elevada, muito forte, e nós sabemo-lo porque temos contacto com muitas pessoas de todo o mundo.

Muitos daqueles que pensavam que esta Revolução desapareceria numa questão de dias, actualmente admiram ainda mais a Revolução, que não foi apenas capaz de resistir, mas também de realizar a obra que realizou. E ninguém nos poderá acusar de chauvinismo, porque o verdadeiro internacionalista nunca é chauvinista. Os que trabalham para o mundo nunca poderão ser acusados de chauvinistas.

Sentir orgulho por um povo que realizou esta proeza não é chauvinismo, é reconhecimento justo e merecido. Isto não são auto-elogios. Nós cubanos somos cidadãos priviligiados que tivemos oportunidade de fazer algumas coisas, de contribuir com um processo revolucionário, não dizemos nem uma única palavra para dar glória a nenhum dos nossos. O que disse, e o que repito e repetirei, é para conseguir a glória merecida do nosso povo.

Pátria ou Morte!

Venceremos!

(Ovação)

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