Discursos e Intervenções

Discurso proferido pelo presidente da República de Cuba, Fidel Castro Cruz, no ato de graduação do ensino fundamental das Escolas Primárias de Cárdenas, Matanzas, em 21 de julho de 2005

Data: 

21/07/2005

Caros graduados e familiares:

Caros compatriotas:

E compreensível que este seja um ato muito especial. Eu enxergava Elián e, certamente, sinto-me tão empolgado quanto ele ao vir a esta tribuna.

Não devo me estender muito, está muito calor e tivemos a sorte de que a chuva respeitasse o nosso ato.

Espero que não cortem a eletricidade (Risos), mas garanto-lhes que não vai faltar muito, senão o tempo necessário e podem estar confiantes, bom, a não ser que o mundo acabe, e eu acho que isso não vai acontecer.

Vem à nossa memória muitas idéias e lembranças: o furacão, o outro, o outro, o do ano passado, o que açoitou depois, esse que açoitou neste ano, o que passou perto de nós, e os que faltam. Nenhum deles será mais forte que nós. Um furacão ainda pior e mais poderoso, que tem também armas nucleares, pois o golpe que nos desferiu ao açoitar o país, lá na província de Granma e uma porção da província de Santiago de Cuba, foi visto do ar, e era muito parecido com um ataque nuclear, sem radiações, porém esmagou tudo. É impossível esquecer a imagem de Pilón, de Cabo Cruz e Niquero. E muitas armas nucleares, porque em cada 10 quilômetros deixa uma; as que nós vimos lá em Hiroshima e suas conseqüências foram terríveis, mas tinha um diâmetro de 10, 15 quilômetros, e arrasa tudo, mas um furacão a esta velocidade vai arrasando tudo por onde passar, ao longo de centenas de quilômetros.

Temíamos o que podia acontecer em Cárdenas, devido à direção, ao enorme diâmetro em que os ventos atingiam às vezes até 200 quilômetros. Felizmente, foi perdendo força, não foi como o do ano anterior, que entrou diretamente proveniente das Ilhas Cayman, fez sua trajetória pelo mar e atravessou diretamente a província de Havana e chegou à capital. Este entrou por onde quase entraram os mercenários da invasão da Baía dos Porcos e quase lhes aconteceu a mesma coisa.

Ao seguir esse rumo, e era uma questão que não sabíamos muito bem, vinha em direção a Havana, ficando no lado direito Matanzas, Cárdenas, Varadero. Há pouco cruzou o outro; o Michelle, que vinha do sudoeste.

Essa plantação de cítricos foi atingida em cinco anos por três furacões, e este ciclone tinha esse mesmo rumo, mas percorreu cerca de 300 quilômetros, foi perdendo força. Açoitou com força, e até com rajadas de 300 quilômetros por hora, mas foram perdendo velocidade os ventos e diâmetro e, embora mantivesse ventos de cerca de 200 quilômetros ao entrar na província de Havana, o diâmetro de destruição era muito menor. Entrou com categoria quatro e saiu com categoria um. Contudo, tem sido um dos que provocou maiores estragos materiais.

Quando o outro furacão fazia o mesmo percurso e estávamos atentos a ele, e adotávamos medidas prementes para apoiar a população, já estávamos tomando providências para o segundo furacão e estamos prontos. Posso-vos garantir que podemos resistir um, dois ou três e vamos aperfeiçoar os nossos mecanismos para que, como noutras ocasiões, não haja uma só vítima. Poderá destruir tudo, mas para a Revolução uma vida humana vale mais do que tudo aquilo que destruir um ciclone.

Espero que ninguém duvide o que estou afirmando.

Depois vieram as chuvas e as chuvas vieram depois de uma das mais longas estiagens, ou talvez a pior da história de nosso país. Centenas de milhar de pessoas receberam durante muitos meses a água por meio de caminhões-cisterna, tratores, quando o preço do diesel ultrapassa US$ 500 cada tonelada e a gasolina, US$ 600.

Esses que não se detêm a reparar muito nos detalhes, deveriam lembrar que o petróleo não é água, o diesel não é água, a gasolina não é água, nem cai do céu, não inunda, e que tal escassez afeta consideravelmente. É preciso investir somas avultadas em cada uma delas. Não caem do céu, é preciso suar as estopinhas para conseguir isso ou obtê-las com a energia e criatividade das cabeças.

Ainda temos muita coisa que aprender e asseguro-lhes que vamos aprender também.

Hoje, até a natureza presta homenagem a este dia, presta homenagem a Cárdenas, presta homenagem a esta história da qual nasceu tanta coisa, da qual a Revolução reorganizou forças, forças para travar uma batalha, para ganhá-la, frente ao soberbo e imenso poderoso, tão poderoso quanto cínico, tão poderoso quanto covarde, tão poderoso quanto miserável império, que não conseguiu asfixiar esta Revolução, apesar de seus ventos, talvez de 1000 quilômetros por hora ou 10 mil, não poderem esmagar a vontade e a resistência deste povo heróico. Heróico, sim, e vocês dão prova disso. Ninguém ficou desanimado, ninguém acovardou-se. Todas as vezes que foi preciso, esta escola se mobilizou e foi lá, em frente da Repartição de Interesses dos EUA, e assim tiveram lugar aquelas marchas de centenas de milhar de crianças, de mães, jovens, do povo, que batalharam incessantemente durante meses.

Garanto-lhes que ganhamos também aquela batalha, porque o espírito de luta não desmaiou, nossa firmeza não desmaiou, nossas armas pacíficas, porém eficientes não desmaiaram, nossas verdades não desmaiaram, as nossas mensagens ao mundo não pararam. Daí surgiu aquela frase: Batalha das Idéias, porque foi uma verdadeira batalha das idéias.

Lembremos que uma das questões que elevam aqueles acontecimentos ante nosso olhar e a história da pátria foi que nesse momento se deu início a essa batalha das idéias, que durará muito tempo e continuará colhendo vitórias, continuará derrotando adversários.

É evidente o fato de que, apesar de todas as dificuldades e adversidades, a verdade abre caminho, as idéias mais justas multiplicam-se e milhões, dezenas de milhões e centenas de milhões estão se incorporando às filas da verdade, e essa verdade ou essas verdades acabarão esmagando o império, e não só de fora, mas também de dentro, pois jamais esqueceremos que, no fim daquela batalha das idéias, por volta de 80% dos estadunidenses apoiaram nossa causa, apoiaram nossa luta e tornaram possível aquele fim. No entanto, como se afirmou então, aquele era um primeiro passo e faltavam muitas batalhas por travar, e estão sendo travadas.

Agradeço, pois, à natureza ter cooperado com este ato, está fresco e vejo as lâmpadas acessas, como pregoeiras de muitas outras que sempre iluminarão.

Dizia-lhes que, felizmente, Cárdenas ficou intata; Varadero quase intato; a capital da província, quase intata, independentemente de aproximadamente 180 mil casas danadas pelo furacão, com dezenas de milhar delas arrasadas, à parte dos milhares de armazéns e estabelecimentos de todo o tipo estragados.

Garanto-lhes também uma outra coisa: Jamais se tinha encetado uma luta pela reconstrução como esta que agora estamos travando. Eis um dado:

Quando do furacão Michelle, se entregaram, segundo me informaram, cerca de 80 mil telhas de zinco — foram entregues para o programa de reparação — e há dois dias, se entregaram 250 mil. E isso é apenas um adiantamento  para as forças e os meios que virão.

Referi-me a alguns destes assuntos, porque ficamos preocupados. Lembro-me que, nessa manhã, falava com o secretário do Partido da província: «Onde você está? Responde: «Estou em Cárdenas». E pergunto-lhe: «Como está Elián? Ele é o símbolo de Cárdenas». Falou: «Bom, eu não tenho visto Elián, mas disseram-me que ele esbarrou». «Como é isso que Elián esbarrou?!» — nesse mesmo dia 8 pela manhã. Aí está. Está rindo. Diz: «Fizeram-lhe uma sutura de três ou quatro pontos».

Falou: «Como é que esbarrou? O que se passou?» O furacão ainda não tinha açoitado, estava entrando em Cienfuegos e dizem-me: «Acontece que» — não quero acusá-lo — «o outro, o do sorriso luminoso, aquele que conquistou naquela tarde meio mundo em Nova York» — diz — «o empurrou. Sim, ele esbarrou e fizeram-lhe uma sutura de três pontos». Falo: «Não diga! Agora não vamos anunciar que Elián foi suturado». Pode se dizer, pois não se vê nada, nem sinal, como prova da qualidade de nossos médicos, não é?, que está na mesma. Digo: «Onde está o ferimento?» Nada, não se percebe nada. Mas o empurraram, reparem em que momento, no dia 8 de manhã. E bom, perguntei depois em várias ocasiões e ele estava bom. Eu achava que o furacão tinha entrado cá ou perto daqui.

Ora bem, já sabemos que é o mais prejudicial. Os estragos provocados, como explicamos..., falou-se em US$ 1,4 bilhão, são ainda superiores; mas nós sabemos como reparar os danos. Faz falta dinheiro, faz falta matérias-primas, faz falta muitos materiais. É necessário investir centenas de milhões de dólares, mas não US$ 1,4 bilhão. Se dispomos das matérias-primas, nós fazemos o restante com o trabalho, com o povo.

Portanto, quando se afirma: Perderam-se tal, ninguém pode recuperar as colheitas de cítricos que se perderam em Jagüey e outras muitas. Contudo, com as matérias-primas disponíveis vamos produzir o que perdemos com o furacão e muito mais; o que se perdeu com este e, se açoitar outro, o adicionaremos, e se passar mais outro, isto é, três ciclones, o adicionaremos.

Garanto-lhes que, com nosso esforço e com os recursos que o país pode mobilizar, vamos eliminar todos os danos e ainda mais. Já veremos os resultados daqui a um ano, nesta mesma data, e o que estará acontecendo no país, com furacão ou sem ele.

Fica demonstrado, que, como as formiguinhas, podemos fazer muita coisa, e tal qual as formiguinhas, temos feito muitíssimas coisas em muitos lugares. Cá, em Cárdenas, há inúmeras: A escola «Marcelo Salado» é nova, não se parece em nada com a que visitamos pela primeira vez; há um novo museu maravilhoso, belo, acho que o chamam de Museu da Batalha das Idéias. Vejam este, histórico, que valores; vejam a casa que acabamos de visitar, onde nasceu José Antonio Echeverría, remodelada e também museu; eis as reparações das escolas, as escolas do ensino secundário, eis os avanços no setor da saúde nestes cinco anos, que são notáveis, e isso é uma ninharia, já veremos, pois há projetos importantes para esta cidade e outras. Há muita coisa a fazer.

Varadero, um dos melhores centros turísticos do mundo, continua a crescer.

Os professores integrais, surgidos nestes anos, os emergentes, já totalizam cerca de 15 mil, e há muitos cá, em Cárdenas... Foram estudar de Matanzas à Cidade de Havana. Lembro-me quando os visitamos e voltaram e, muitos dos primeiros trabalham na escola «Marcelo Salado». Os professores emergentes já são uma instituição e, em breve, receberão diplomas de universitários.

Os assistentes sociais totalizam 28 mil e, naqueles dias, mal estávamos começando. Que tremenda massa! Eu perguntava aos garotos recém-graduados do ensino fundamental o que gostariam de estudar e muitos deles  respondiam-me: «Eu quero ir para a UCI» (Universidade das Ciências Informáticas). Que tremenda instituição que não pára de progredir! Escolhem os alunos dentre os que têm melhores qualificações do país e alegra-me imenso que muitos dos que cumprimentei e lhes entreguei o diploma vão para aquela instituição prestigiada.

Outros disseram-me: «Eu gostaria de ser médico». E eu falo: «Pois, você deve se preparar, já que vamos enviá-lo a cumprir uma missão internacionalista».

Um outro disse-me que gostava de ser pintor, e mais outro que gostava de ser astrônomo.

Um deles me diz: «Gostaria de ser mestre». Outra menina diz: «Eu gostaria de ser atriz». Eles todos vinham desfilando em frente de mim e nenhum tinha dúvida.

Outros falavam: «Ainda não sei». «Ah, mas você ainda não sabe! Pois, tem que pensar nisso. Bom, pense devagar, para não se enganar.»

Eu via neles a imagem de nosso povo, via a imagem de nossos graduados de hoje, dos 1.246. O que significava aquele desfile de garotos e cada resposta?

Perguntava para si: «Nalgum lugar do mundo haverá uma graduação como esta em que 1.246 alunos saibam ou façam uma idéia do que vão estudar futuramente? Nenhum deles hesitava.

Pensemos num segundo, e reportemo-nos numa máquina do tempo a 50 anos atrás e situemo-nos em Cárdenas, perguntemo-nos quantos eram graduados do ensino fundamental, cá e nos campos; perguntemo-nos se era cento por cento e todos na idade escolar correspondente, sem atraso escolar, e todos com ótimos conhecimentos, certos, como nós, de que serão superiores, e que cada um deles veio com seus pais, orgulhosos e satisfeitos, porque os que cá estão não são aqueles que eram donos de Varadero, de hotéis, de grandes latifúndios. Não, os que cá estão são os descendentes das famílias humildes do povo, cujos pais não puderam obter um diploma de universitário. Quantos se formaram em ensino primário e quantos no secundário e quantos de bacharel, e quantos podiam ir à única universidade que está lá, muito longe?

Eu conheço um, o doutor Selman, o pai era alfaiate e acredito que com esse mister conseguiu algum dinheiro, mudou para lá, para que o filho estudasse na universidade.

Eu sou um dos que tiveram o privilégio de estudar e sei muito bem porquê, porque não era filho do operário agrícola ou do cortador de cana ou daquele que cuidava do gado ou do outro que fazia qualquer coisa naquele lugar. Tive a sorte, e não tenho culpa alguma, e alegro-me de ter aproveitado aquelas circunstâncias, de poder estudar e portanto, ir à universidade, quando apenas havia uma só.

Quem sabe quantos profissionais existem entre os pais e mães das crianças que hoje se graduaram cá, como professores, como trabalhadores da saúde, como técnicos, e todos sabiam que neste país seus filhos podiam estudar o que gostassem: desde especialista do mais alto nível em informática até cosmonauta, astrônomo capaz de esquadrinhar os mistérios do universo, dessa imensidão de estrelas que enxergamos à noite e que distam a mais de centenas de anos-luz, a milhares de anos-luz, luz que corre a razão de 300 mil quilômetros por segundo, cá, deste canto da Terra, deste mundo, deste planeta em crise, cuja espécie é ameaçada pela voracidade e pela barbárie, pela ignorância e pela burrice dos que detêm grandes poderes, pela irresponsabilidade daqueles que saquearam o mundo e hoje nem sequer podem protegê-lo da destruição.

É enorme e sempre será enorme para nós a preocupação pelo destino dessas crianças recém-graduadas aqui, daquelas que ainda não cursam a primeira série, dos irmãozinhos de Elián. Qual será o destino delas neste mundo cujo meio ambiente está sendo depredado? O que podemos fazer para salvá-lo frente aos bárbaros, tolos e idiotas? E talvez alguns de vocês se perguntem: Por que essas palavras tão fortes? Mas basta saber que o Sol se está pondo cá e que nasceu lá, olhar para o norte e ver as mais incríveis brutalidades e crimes contra o mundo que jamais se cometeram na história da humanidade.

Há coisas muito importantes pelas quais nos preocupamos quando levantamos a cabeça e tentamos olhar para o futuro. Que acontecerá com essas crianças? Podemos ser cúmplices do destino duro que lhes depara se esta Batalha das Idéias não é ganha, esta batalha que hoje é travada em  nível mundial a favor da sobrevivência da espécie. Hoje podemos constatar o que sonhamos para eles, o que desejamos para nosso povo, que cada criança nasça, como eu disse noutras ocasiões, sagrada; porque nós recebemos muitos estudantes de muitos lugares, que estudam medicina, que estudam outra coisa, quando puderam fazer o bacharelado sendo humildes, não na melhor escola, porque vocês sabem que as melhores escolas são para os ricos em toda parte do mundo, exceto num país como o nosso onde houve uma revolução. Eles, se tiverem a oportunidade de estudar cá e se formarem como médicos, sentirão como se lhes tivesse caído um prêmio do céu, como se tivessem recebido a notícia mais extraordinária: a possibilidade de estudarem essa profissão nobre em Cuba.

Assim, por exemplo, há 10 mil que estudam medicina, vindos de outros países, e virão muitos milhares mais. Nosso país se converterá na maior fábrica de médicos especialistas do mundo, e o fazemos porque podemos, e porque o mundo precisa disso: centenas de milhões de seres humanos na América Latina, na África e noutras partes.

Estudam, vivem cá durante sete anos para se formar como médicos, são excelentes; alguns já voltam como excelentes profissionais.

Comparava a situação deles com a das crianças de todos esses países, os poucos que conseguem chegar à sexta série, porque existe 15%, 20%, 30% de analfabetismo; são poucas as crianças que atingem à sexta série em muitos deles, noutros chega uma percentagem maior. Na própria Venezuela, muitas crianças não conseguiam chegar à sexta série, porém, devido à extraordinária revolução educacional que se desenvolve naquele país, hoje se graduam em massa como aqui.

Lembro aqueles primeiros anos da Revolução: muito atraso no ensino, muitos professores não diplomados, improvisados e com grande mérito, porque, graças a eles, iniciamos o caminho que nos levou ao que temos hoje; mas não havia uma criança só, nem há uma só entre as 1.246 que se graduam, e os pais que estão aqui sabem disso, que possa dizer o mesmo que as crianças que passaram por aqui: vou estudar isto, aquilo,  ou vou pensá-lo, pois ainda não decidi. E eu pergunto-lhes: Alguém quereria levantar o braço, algum dos pais das 1.246 crianças poderia afirmar que seu filho não tem direito de decidir, de estudar o que mais goste?, desde astrônomo, repito, até doutor em ciências médicas, em ciências filosóficas, ou futuros dançarinos que façam tremer os palcos internacionais, como os desta escola, representada na arte por essas crianças do ensino primário, mesmo, ou daquelas inauguradas em todas as províncias do país, de dança, de música, de pintura, de uma manifestação qualquer, hoje, ao alcance dessas crianças, porque sabem que podem dizer: Eu quero ser isto, e serão, exceto naquelas carreiras que precisem de alguma vocação, e todo mundo tem vocação, para uma coisa ou para outra.

Por acaso alguém quer levantar o braço, mães ou pais? Porque vocês sabem muito bem que, particularmente, aquelas mães e pais que tiverem, por azar, um filho com alguma deficiência física por causa de um acidente, ou que, por fatores da natureza, nascerem com alguma imperfeição, existe um matrícula de mais de 50.000 para essas crianças. E também me pergunto: Alguma dela ficou esquecida, abandonada? Pode existir, mas hoje é muito difícil que nossos assistentes sociais não a descubram.

Às vezes, nalgum canto do país a ignorância é tal, que algumas pessoas não sabem que existe a previdência social ou que têm a possibilidade de receber o atendimento necessário; ainda, há um exército que as localiza, que determina o peso delas, o tamanho para verificar se concordam com a idade correspondente: os assistentes sociais.

Fui extenso assinalando isto, porque é preciso pensar,  refletir. Aqueles que não têm nada que exibir neste mundo, a não ser miséria e dor, exploração, saqueio, abuso e crime, tentam nos confundir com mentiras. E temos que lhes perguntar se existe algum outro lugar na superfície da Terra onde se possa afirmar isto.

Não se conhece o poder da verdade! Um dos grandes segredos, talvez o mais importante, desta Revolução é que trabalha com base na verdade, e a verdade é invencível.

Aproveitei, visto que o tempo quase sobrava, para fazer algumas reflexões inspiradas na presença de vocês, a lembrança inesquecível de todas essas crianças e as palavras que troquei com elas. Ainda mais: Que personalidade! Sexta série, as vi desfilar, a imensa maioria eram meninas. Os meninos tinham sua personalidade; porém as meninas, que personalidade! Isso não se vê facilmente noutra parte, isso é fruto de um mundo diferente, de uma sociedade diferente, bastante iguais dentre as desigualdades.

Vocês sabem que os que aqui criam as desigualdades são, geralmente, os espertalhões e trapaceiros, que sempre que podem, metem a mão no bolso e acabam com o ordenado das pessoas, embora seja para subi-las no caminhão e lhes cobrar cem pesos por levá-las a Havana ou a outro lugar qualquer. Sabemos de todas essas coisas, ninguém imagine que não sabemos. E ficamos felizes quando pensamos que todas essas dificuldades serão ultrapassadas, e não utilizando a violência, serão derrotadas através do aperfeiçoamento de nossa sociedade. Que ninguém duvide, estou certo, e não será tarefa de um grupo de homens, será tarefa de todos; vocês todos e seus filhos serão protagonistas dessa luta. Porque alguns dizem: Isso foi mal feito. Ah!, mas não criticam os autores.

Eu leio todos os estados das opiniões; mas não vou me estender nisso, tenho muito que falar a esse respeito, e não quero fazê-lo hoje, apenas chamar a atenção de que temos que refletir muito, meditar muito e lutar juntos; vestígios, dificuldades ainda existentes, só podem ser vencidos com a força de todos. E a força de todos se unirá; porque a verdade, a nobreza, a honestidade, os melhores valores de que é capaz o ser humano podem fazer milagres, podem tornar possível o que, até, parecia impossível, durante milênios.

A chuva está ameaçando, e eu, realmente, já disse as coisas fundamentais; mas se quiserem alguns dados… Que um raio agora não interrompa a felicidade! Não vou permiti-lo.

Situação do país:

“Número de escolas do ensino primário, 9.029.

“Matrícula total de alunos, 845.922.

“Professores nas 9.029 escolas, 90.867. Deles 16.619 emergentes.

“Quase 100% de todos os alunos são atendidos por professores com 20 ou menos alunos por sala de aula, ou por dois professores se o grupo exceder a cifra de 20.”

Ninguém tem isso, já veremos, mesmo como os do ensino secundário, já estão há um em cada 15.

“Neste ano, no total, graduam-se 143.435 pioneiros da sexta série, praticamente a totalidade.

“No setor urbano, atingiu-se 86,5% da matrícula em grupos de até 20 alunos, e no rural, 95,4%.

“Os 99,1% da matrícula se beneficiam da implementação de dois turnos.

“A assistência dos alunos atinge 99,1%” Quem diria!

“Os 98% dos professores do segundo ciclo trabalharam como professores únicos em substituição do antigo modelo onde eram utilizados dois professores.

“Neste ano letivo houve 0% de deserção.

“O comportamento da relação aluno-turma é de 18,8 em  nível nacional, e de 18 na Cidade de Havana.

“Continua o ensino da língua inglesa da terceira à sexta séries através de vídeos, e do xadrez nas diferentes séries, com boa aceitação das crianças e professores.

“Para o ensino da computação, a formação de conceitos, hábitos e habilidades, contou-se com 41 softwarres educativos, e um computador em cada 45 alunos.” O número de computadores por aluno aumentará cada vez mais, isso é inevitável.

“A televisão educativa transmitiu 31 programas semanais dirigidos ao tratamento dos objetivos e conteúdos essenciais das cadeiras do programa de estudo do ensino primário e aumentou mais duas o número de aulas de língua espanhola e de matemática a partir da quarta série.

“As avaliações da qualidade indicam que existe uma tendência ao crescimento da aprendizagem, tomando como ponto de comparação os resultados obtidos na Quinta Operação (maio de 2001, início das transformações do ensino primário) e a Décima Operação concluída em maio de 2004.”

Não há nenhum meteorologista? Rubiera não está aqui?, para que nos diga se vai chover ou não, para irmos embora disciplinadamente.

Ainda há mais coisas, existem deficiências contra as quais lutamos.

“O ensino primário em Cárdenas.” Cá tenho todos os dados; não vou ler, que os publiquem.

Vocês não têm uma radioemissora? (Respondem que sim) Vocês ainda não têm um transmissor de televisão? (Respondem que não). Não.

Alfonsito, quando teremos a televisora local de Cárdenas? (Exclamações e aplausos). Vamos ver, Alfonsito, diz-me em que mês. Quando? (O primeiro secretário do Partido na província lhe responde que, em 23 de agosto,  já têm o local). Vamos lhe dar uma chance.

Bem, temos o equipamento; porém Alfonsito tem mais experiência. Poderão contar com ela nessa data? Por que não concedemos um prazo até setembro? Quando começar o ano letivo, já contarão com ela. Terão sua televisora local (Exclamações e aplausos), artistas daqui, locutores, programas e notícias da localidade. Já não é provincial; local.

“Número de televisores, cada vez maior.

“Docentes, 519.

“Na reserva, 22.” Referimo-nos a Cárdenas.

“Licenciados, 210.

“A deserção, 0%. Dados rápidos.

“Na atividade científica se realizaram 282 trabalhos: 85 de pesquisas, 35 de outros assuntos, 107 meios do processo de aprendizagem, 55 jogos didáticos.

“Nesta atividade participaram 291 autores e 156 co-autores.” Quem diria! Et cetera, et cetera, e as demais coisas… Olhando para o céu.

Que pena, aqui tenho a história do cavaleirinho que nos honra. Cá tenho o que disse em 28 de junho de 2000:

“Nossos abnegados professores e pedagogos deverão levar a cabo a obra-mestra de convertê-lo num menino modelo, digno de sua história e de sua simpatia e seu talento, para que sempre seja, além de um cidadão comum, um símbolo, um exemplo e uma glória para todas as crianças de nosso país, e um orgulho para os educadores de Cuba”. Eis os resultados.

“Obteve ótimas qualificações e domina informação sobre diversas esferas da realidade, pode-se dizer que para sua idade ‘sabe um pouco de tudo’.” E eu diria que muito de algumas coisas.

“Tem excelente atitude cognoscitiva, conforme sua idade; mostra avidez por conhecer e gosta de se sentir desafiado.

Enfrenta-se ao desconhecido sem evadir as dificuldades. É reflexivo perante o conhecimento; estabelece freqüentemente relação entre os novos conhecimentos e os já adquiridos, chegando geralmente a conclusões exactas.

“É um menino observador, que pode fazer comparações e definir as coisas com bastante precisão. É capaz de avaliar sua própria atividade de aprendizagem e a de seus colegas com bastante exatidão.

“É atencioso e aplicado, traça-se metas e é perseverante para atingi-las. Tem consciência de suas dificuldades e reconhece-as publicamente.

“É uma criança disciplinada, respeitosa. Não gosta de ser repreendido, por isso se esforça em fazer bem as coisas.” Mas estou certo que, aliás, devido à crescente consciência deste menino, não só porque não goste de ser repreendido. Eu jamais o repreendi, nem ele a mim, damo-nos muito bem (Risos).

“Mantém boas relações inter-pessoais, é comunicativo, cortês, sobretudo, com as meninas: interessa-se pelos problemas dos outros; por sua humildade e singeleza é capaz de atrair seus colegas. Tem sentido da responsabilidade com seus irmãos mais novos, aos quais atende sem super-proteção.” É melhor um pouco mais de disciplina para que não o empurrem na véspera de um furacão (Risos).

“Tem em consideração as opiniões da turma e tem demonstrado que se subordina a elas, quando acha que são certas.

“Seu respeito pela turma evidencia-se quando pede desculpas por não poder estar junto dela nalguma atividade, por ter que participar de outras que não podem ser adiadas.

“Realizam adequadamente às tarefas que lhe cabem, por isso é capaz de se concentrar nas aulas televisionadas, copiar, atender e ter uma ativa participação nas atividades de divertimento. Gosta de cumprir tarefas nos jogos participativos, sem incomodar-se quando perde.

“É um menino higiênico e meticuloso com seus materiais escolares.

“Um importante indicador de suas qualidades foi constatado quando o elegeram unanimemente chefe da escola em representação dos pioneiros, quando chegou à sexta série. Seu sentido da responsabilidade manifestou-se fundamentalmente da maneira que está desempenhando o cargo de chefe dos pioneiros de sua escola.

“Por outro lado, o conjunto de tarefas e atividades que acarreta essa responsabilidade tem sido uma grande contribuição para seu desenvolvimento, sobretudo ajudou-o a se comunicar com grupos desconhecidos, a se esforçar para representar adequadamente seus condiscípulos, a gerar idéias para orientar os chefes de destacamento e tomar decisões de acordo com sua idade.

“Termina a sexta série com resultados excelentes e uma trajetória muito destacada, hoje seu esforço se corresponde aos resultados obtidos, por isso foi reconhecido por todos como o Pioneiro Mais Integral dentre os graduados de sua escola, apesar de ele ser o primeiro a propor outra pioneira de sua turma.

“Elabora seus próprios discursos.”

Tenho o privilégio de ser seu amigo!

Pátria ou Morte!

Venceremos!

(OVAÇÃO)

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