Discursos e Intervenções

Discurso proferido pelo Comandante-em-chefe Fidel Castro Ruz no encerramento do Primeiro encontro nacional de emulação, no Teatro da CTC-R em 6 de março de 1964

Data: 

06/03/1964

 

Companheiros Heróis Nacionais do trabalho;

Companheiros trabalhadores de vanguarda:

Venho falar neste ato em nome do companheiro presidente, doutor Osvaldo Dorticós (APLAUSOS), quem me pediu que o representasse nesta noite, por encontrar-se algo cansado, com motivo do trabalho excessivo destes últimos dias. Porque em verdade o companheiro Osvaldo Dorticós é desses companheiros que merece o dignísimo título de trabalhador de vanguarda (APLAUSOS PROLONGADOS), como o merece o companheiro Ernesto Guevara (APLAUSOS PROLONGADOS); e o merecem... (ALGUÉM DIZ:  “Você!”).

Não, isto para mim não é um trabalho, nem para ninguém e tampouco para os demais companheiros. Mas, enfim, muitos companheiros da Revolução.

E em realidade é possível que nem todo mundo se tenha dado conta cabal da importância que tem esta instituição da emulação, da funda significação que tem este ato.

Os companheiros que falaram aqui, demonstrando que não só sabem trabalhar, mas que também sabem expressar o que levam dentro, porque afinal o amor ao trabalho está inspirado na mesma fonte em que se inspira o amor ao povo, o amor à Revolução, o amor à pátria, eles diziam — além de outras coisas que disse, muito interessantes, ao retornar da tribuna o companheiro Reinaldo Castro, quando eu lhe disse:  “Você é um orador e tinha guardado o segredo”. Ele disse: “Não, nada disso!, o bom eu tirei para fora ontem, mas é que não quis repetir hoje” (APLAUSOS). E é certo que parece que ontem falou e proferiu palavras muito bonitas, como foram as de hoje; na opinião dele, ele estava mais satisfeito com as de ontem. Mas é uma mostra dessa consideração para o povo, que ele tem a preocupação de não dizer hoje a mesma coisa que disse ontem, essa gentileza — eles diziam que significava para eles muito, que era uma grande honra que se pudessem reunir na mesa presidencial com os companheiros do governo. E realmente para quem é a honra? Realmente, a honra é para nós, a satisfação e o íntimo regozijo que se sente, o orgulho de poder sentar-nos junto aos Heróis do trabalho (APLAUSOS).

Porque nada torna mais nobre o homem que o trabalho. E o trabalho fez o homem (APLAUSOS);  não foi o homem o que criou o trabalho, foi o trabalho quem criou o homem (APLAUSOS).

E é claro que para nossa Revolução o trabalho ocupa o primeiro lugar e o mais digno posto entre as atividades do homem.

E o problema de designar, de escolher o Herói Nacional do Trabalho, se converteu em um verdadeiro problema, não resultou uma tarefa fácil, pois se tornava verdadeiramente difícil poder escolher entre os dois companheiros, devido às páginas com os méritos que tinham os dois companheiros, que haviam acumulado os maiores pontos, os méritos de cada um deles. Finalmente foi adotada uma decisão, mas, contudo, nós todos ficamos com a tristeza de que outro operário, com extraordinarios méritos, não fosse destacado plenamente também neste ato. E assim foi como surgiu a solução final de criar outro prêmio: o prêmio ao Herói Nacional do Trabalho Técnico.

E assim, haverá um Herói Nacional do Trabalho: será o galardão mais alto e o mais difícil de atribuir. Mas haverá também outro Herói Nacional do Trabalho, o Herói Nacional do Trabalho Técnico, pois o companheiro que recebeu este prêmio não só foi um extraordinário trabalhador, mas aplicou a inteligência, aplicou a técnica ao trabalho, conseguindo elevar extraordinariamente a produtividade.

Mas era certamente empolgante para nós conhecer que a seleção do Herói Nacional do Trabalho se convertia em um problema sério e em um juízo difícil para os companheiros que tinham que determinar.

E por isso, tão sinceras e tão valiosas as palavras do companheiro Reinaldo Castro, quando ele — com toda a modéstia que o carateriza — dizia que no povo havia muitos heróis do trabalho, e cada vez haverá mais e, portanto, cada vez será mais difícil escolher.

E quando no dia de ontem vemos nas primeiras páginas dos jornais as fotos do companheiro que tinha sido designado Herói Nacional do Trabalho e as manchetes de nossos jornais dedicados a esta notícia, nos invadia a todos uma impressão e uma emoção profunda; e nos estava mostrando o que é a Revolução, e nos estava mostrando a grandeza da Revolução, e estávamos recebendo a impressão dessas coisas justas, tão justas que enchem de satisfação a alma, de ver que essas honras, a homenagem da nação, o reconhecimento da nação, estava caindo sobre esses homens, e podíamos exclamar como noutras ocasiões: Vamos bem, vamos bem!

Vamos bem, porque esse é o caminho, porque esse é o único e o verdadeiro caminho da Revolução, porque esse é o único e o verdadeiro caminho do porvir; é o caminho do amanhã. Porque assim terá que ser cada vez mais; e assim, dentro de nossa sociedade, hão de ir ocupando cada vez mais os lugares de honra e receber cada vez mais a homenagem e o reconhecimento do povo os que mais lutam pelo povo, os que mais trabalham para o povo, os melhores irmãos do povo, os melhores filhos do povo (APLAUSOS).

A sociedade humana, que tem vivido muito diversos tipos de sistemas, que tem conhecido os mais estranhos tipos de privilégios — desde os privilégios dos aristocratas de sangue azul, até os privilégios dos ricos exploradores — a humanidade que tem padecido todos esses privilégios absurdos, a humanidade que tem conhecido e tem sofrido ao longo de sua história tantas opressões, a opressão do poderoso, a opressão dos privilegiados, começa neste século a conhecer, a viver em uma sociedade tão diferente, que os privilégios do ouro e os privilégios de sangue têm desaparecido para dar lugar, para dar lugar aos únicos que merecem dentro da sociedade receber as maiores honras, o maior respeito, a maior admiração, que são aqueles que mais trabalham.

Porque dos privilegiados a humanidade nunca recebeu benefício, o privilégio nunca alimentou nem vestiu um ser humano, enquanto o trabalho não só criou o homem, mas também o sustentou, o alimentou e o fez ser o que o homem é hoje.

E por isso, vamos bem; mas muito bem, quando atrás está ficando aquele passado, e por diante temos esta perspectiva.

E esta magnífica instituição da emulação, que tem um valor social incalculável, porque estes operários serão exemplos e serão estímulos para todos os trabalhadores, esta formidável instituição há de oferecer ao nosso país os serviços não só que dá o exemplo, não só os bens materiais que derivem da elevação da consciência dos trabalhadores e o espírito de trabalho, mas também há de ter um grande valor social, porque esta instituição serve para ir assinalando cada ano dentre os trabalhadores, os mais competentes, os mais esforçados, os que mais cumprem.

E uma das questões que há de preocupar-nos sempre muito, sempre e, sobretudo, quando pensemos no amanhã — não no presente que nos tem obrigado a muitas tarefas de diferentes tipos, mas sim quando pensemos no amanhã — é quais são os mecanismos, quais são os canais mediante os quais nosso povo, nosso Partido, nosso governo, abre passagem aos melhores cidadãos, aos melhores homens e mulheres do povo.

Porque algo que não devemos preocupar-nos é que tenha sempre uma luz verde o mérito, uma luz verde o mérito, porque quando o mérito é substituído pelas outras formas, quando o mérito é substituído pelos outros fatores, vamos mal; e andaríamos mal no dia em que as avenidas estejam fechadas ao mérito. Porque o mérito deve ser o fator essencial, não só por uma simples questão de justiça, não só por uma simples questão de princípio moral e social, mas também por um princípio de alta conveniência para a sociedade humana, porque aquela sociedade que mais facilite a seleção de seus melhores filhos, aquela sociedade que mais abra vias ao mérito, chegará mais longe do que nenhuma outra. Muitas vezes o mérito permanece oculto e ignorado; muitas vezes o mérito não tem oportunidade de desenvolver-se, de se tornar evidente.

E essa era uma das caraterísticas daquela sociedade, em que o dono da usina não escolhia o melhor operário: escolhia seu filho, seu irmão, ou seu primo, ou seu parente — e qualquer um pode ter muitos parentes — mas o fato de ser parente não significava ser o mais capacitado, não significava ser o mais inteligente. E naquela sociedade de favores e de favoritismo, de prebendas e de privilégios, o mérito não tinha nenhuma chance.

Pode ocorrer sob o socialismo que o mérito tampouco tenha oportunidade?  Sim. Também pode ocorrer. Pode ocorrer que devido a métodos errados de trabalho se fechem também os caminhos do mérito; e no socialismo — como toda formação social humana — é preciso fazer, é preciso organizar, é preciso construir; e é preciso construi-lo limpo de vícios, limpo de métodos errados. E por isso é necessário que se reafirme isto: que nós temos que assumir a emulação como um dos meios pelos quais abramos caminho ao mérito (APLAUSOS).

É que sempre nós temos o melhor à frente de uma unidade, à frente de uma empresa? Não, nem sempre. Muitas vezes são os melhores, estão os melhores; muitas vezes há homens incompetentes à frente das unidades; muitas vezes há homens insensíveis; muitas vezes são os métodos subjetivos os que prevalecem ao escolher um homem para determinada tarefa. E é preciso que os métodos subjetivos sejam erradicados, para que em seu lugar se estabeleçam métodos verdadeiramente objetivos na seleção dos dirigentes.

Naturalmente que não é um simples problema de seleção, também é essencialmente um problema de formação; não só é preciso selecionar os melhores, mas também é preciso preparar os melhores.

Muitas vezes, quando nós procuramos as causas pelas quais um centro não anda bem, este sim e aquele não, aquela fazenda sim e aquela não, aquela empresa sim e aquela não, em geral, nos deparamos com que o homem que está à frente daquela que não anda bem, é um homem que não tem podido superar os obstáculos e os entraves que tem por diante: ou não é competente, ou não se interessa. E quando um homem tem interesse resolve, se mexe, trabalha, age, e resolve (APLAUSOS). Outras vezes é um problema de ignorância: há homens dotados de boa fé, de grande espírito de sacrifício, de grande entusiasmo pelo trabalho, e quando vão fazer algo e lhe dizem: Faça isto assim, e assim e assim, o vão fazer com o maior entusiasmo e o fazem mal. Falta de interesse, ou falta de entusiasmo ou falta de conhecimento.

Daqui a alguns anos, naturalmente que como resultado do trabalho de hoje, haverá, teremos muito mais do que temos hoje; mas se hoje tivéssemos em cada frente de trabalho, em cada unidade, em cada fazenda, em cada usina, mais experiência da que temos, mais conhecimentos dos que temos, estaríamos muito melhor hoje. E é claro que não nos vamos deter nem nos vamos conformar.

E não nos vamos simplesmente resignar com nossas deficiências, simplesmente porque não saibamos. É preciso acometer a tarefa de aprender, é preciso acometer a tarefa de desenvolver dirigentes, é preciso acometer a tarefa de formar homens. E isso é muito importante; as melhores intenções do mundo se estatelariam contra a realidade se não temos em conta isto.

E assim, quando se fala de grandes planos de diferentes tipos, não é preciso esquecer-se que para que esses planos se tornem realidade é necessário que na frente de cada fazenda, na frente de cada usina açucareira, na frente de cada usina, na frente de cada posto de trabalho responsável, esteja um homem ou uma mulher que saiba o que está fazendo (APLAUSOS). E não devemos descansar até que não consigamos isso.

Nossa Revolução deve se caracterizar por seu espírito humano, nossa Revolução deve se caraterizar pelo fato de que nunca feche as portas a ninguém, nem lhe tire a oportunidade a nenhum cidadão, naturalmente. Mas também nossa Revolução deve se caracterizar por ser inflexível e aplicar o princípio de que o povo sempre vale mais e os interesses do povo estão acima das considerações que um companheiro possa merecer. As considerações com o povo hão de estar sempre acima das considerações individuais.

Muitas vezes há um companheiro que é incompetente em um cargo, e não lhe faríamos nenhum dano mudando-o para outro trabalho — naturalmente, para outro que não seja mais alto, porque há os casos conhecidos daqueles que se caem para cima (APLAUSOS) — para outro trabalho.

Nós tivemos a experiência, nestes cinco anos de Revolução, de companheiros que ocuparam um cargo provincial e trabalharam mal, muito mal, péssimo, horrivelmente mal; têm cometido desacertos, erros de todo o tipo e esses companheiros em um dado momento têm sido enviados a uma pequena fazenda para trabalhar. Correto, correto; claro, se não fizeram uma barbaridade que chegou a ser um delito; e, naturalmente, é preciso tentar substituir àqueles que se enganam demais, antes que o dano seja grande demais.

Há pessoas que provocam grandes danos; e tem pessoas que sua atuação nos custou bem caro aqui, cuja ignorância nos custou bem caro, caro, caro, quase tanto como o orçamento de uma universidade qualquer. Sim, e, certamente, é preciso estar em tempo para evitar isso. Mas esses companheiros, que depois foram fazer um trabalho muito modesto, quando começaram a fazer o trabalho modesto trabalharam bem, o têm feito bem e depois, inclusive, têm ido recebendo trabalhos de maior responsabilidade e os têm feito bem.

Mas, sabem de uma coisa? Eu creio que uma das razões pelas quais em nossa Revolução se têm cometido erros com certa leveza, é que aqui houve cidadãos que da manhã para a noite, sem terem imaginado sequer, estiveram à frente de importantíssimas tarefas. É claro que na Revolução não pode haver uma escala de antiguidades. Quem é capaz de organizar uma escala de antiguidades dentro de uma revolução? E, sobretudo, quando ocorre o triunfo da Revolução, que não era como agora, mas naqueles tempos havia de tudo, e havia uma quantidade de oportunistas por todos os lados, com muitos desejos de ocupar um cargo importante. E quem controlava aquilo nos primeiros tempos? Ninguém o podia controlar. Mas, inclusive, casos não de pessoas oportunistas, mas houve necessidade de tomar conta do Estado, da economia, e muitos companheiros chegaram a ter um trabalho importante e nem sequer apreciavam o valor desse trabalho, a importância de seu trabalho, porque realmente caíram ali de pé.

E muitos companheiros depois, quando no trabalho que se lhes tinha sido asignado e onde começaram a ter problemas e trabalharam mal, foram transferidos para um trabalho muito modesto, então começaram a apreciar a importância do trabalho que tinham antes e começaram a aprender. Não é bom começar por cima, o bom é começar por abaixo, é preciso começar por abaixo (APLAUSOS).

E se deve procurar que os técnicos e os intelectuais que nossa Revolução forme saibam começar por abaixo, estar em contato com a vida real do povo.  Porque também poderia dar-se o caso de que um rapazinho, educado pela Revolução, vai desde a primeira série até um título universitário, sem conhecer as realidades da vida. E é por isso que nós sempre nos temos preocupado de que nossos jovens estudantes, nossos jovens bolsistas, saibam o que é o trabalho físico. E, às vezes, nos temos deparado e temos chocado, inclusive, com critérios de alguns de nossos técnicos em educação, que tentaram pôr mais ênfase no aspecto meramente teórico, no aspecto meramente teórico; nós temos magníficos técnicos em educação, mas algumas vezes adoecem do defeito de esquecer de que não há melhor escola para o homem do que o trabalho (APLAUSOS).

Nossos pescadores, por exemplo, começam por uma escola, mas realmente aprendem nos navios. Nós não podemos saber se um homem sofre enjoos, até que o pomos em um navio, no alto mar. E assim houve alguns jovens que quiseram ser pescadores e apenas navegaram três milhas foi preciso retornar com eles para o porto.

E, às vezes, tivemos problemas; e tal como uma escola: em certa ocasião nos empenhamos em organizar uma escola para jovens, uma escola do tipo agrícola. Nessa escola se supunha que tinham que estudar e tinham que trabalhar, e um dia, quando correspondiam as férias do fim do ano, visitamos essa escola e observamos um monte de operários trabalhando e que, contudo, não eram suficientes para os tomates que ali se cultivavam, que eram os da escola e eu perguntei: “Onde estão os rapazes?” “Estão de férias”. Digo: “mas estes são meninos que estão de férias enquanto estes operários estão aqui cuidando das colheitas deles!” Não. E foi preciso substituir aquele diretor e pôr outro. Naquela ocasião, nós falamos com os daquela escola e lhes dissemos: “Isto é um enorme erro, se vocês querem dar as férias têm que dividi-las, pelo menos, em duas equipes, não pode haver em um centro de produção um sistema de férias clássico porque, caso contrário, quem vai recolher os tomates e a alface e quem ovai atender ao gado; têm que dividir as férias em dois grupos.

E lhes conto que, passado um ano, outra vez perguntamos pela escola e acabamos sabendo que os rapazes estavam também de férias. “Como é isso?”  Bom, que do Ministério tinham mandado a esse diretor uma notificação de que as férias eram de tal dia a tal dia; houve uma aplicação mecânica das instruções, e todo mundo de férias outra vez. E tivemos que substituir outra vez o diretor “que é muito bom, que tem trabalhado muito, que tem magníficas condições, que é um problema substitui-lo”. Não vou transingir, é preciso substitui-lo; não vou transingir, é preciso substitui-lo, porque se não compreende isso, como é que vai ensinar o que é a agricultura (APLAUSOS).

E como continuavam insistindo que ele era bom, eu disse: “Bem, o deixam aqui, mas não de diretor, o põem de segundo e põem um diretor no escalão superior”.

E isso também aconteceu com a escola de pescadores: os navios estavam sendo acabados e quando perguntamos pelos alunos da escola de Girón, eles estavam de férias — isso foi no último verão. E sempre pensava nisso: que difícil, que difícil, e pensava que não se acabava de compreender. Também quando se estavam fazendo os planos havia duas preocupações, as do tipo acadêmico e os companheiros do Ministério da Educação diziam: “Estamos muito preocupados com o atraso desses companheiros, é preciso fazer um curso especial.” Eu dizia: “É muito importante a parte acadêmica, quem discute isso? E ainda mais em nosso país, onde os rapazes chegavam com uma preparação muito fraca; mas, podemos convertemos esses rapazes em uns sábios, que não sabem como se planta batata-doce nem como se produzem bens materiais...”

E sempre estavam as duas coisas, e é preciso zelar pelas duas coisas. Até que enfim, no ano passado, o Ministério teve uma ideia muito boa, disse: “Bem, mandar trabalhar os melhores alunos”, E claro que foi uma brilhante ideia, porque é dessa forma como tem que aparecer o trabalho; eu nunca gostei quando escutei dizer que mandaram alguém trabalhar como castigo. E no ano passado, desses alunos internos, mandaram trabalhar os melhores alunos e os maus alunos foram estudar. Foi uma boa ideia.

E por isso, nós não estaremos dando uma educação cabal a nossa juventude enquanto não saibamos combinar, em alguma medida, em algum grau, maior ou menor — porque, certamente, não é fácil — o estudo com o trabalho. E em todas as escolas e institutos tecnológicos deve haver alguma produção e deve haver algumas horas de trabalho; em todas as escolas e institutos agrícolas deve haver algumas horas de trabalho. E assim que pudermos, que haja também algumas horas de trabalho em todo o ensino de segundo grau.

E não poderemos sentir-nos satisfeitos enquanto não consigamos isso, porque o trabalho é o que faz o homem identificar-se mais com a vida e com a realidade (APLAUSOS).

E nossos companheiros do Ministério de Educação devem ter isto muito presente; e, pelo menos, sempre que surgir a necessidade de alguma escola, nós sempre temos pensado em toda a possibilidade de que este princípio se cumpra. E as escolas têm uma importância realmente extraordinária para a sociedade, extraordinária para nosso país.

E, certamente, a educação na Revolução tem recebido a atenção fundamental, e realmente é impressionante o que a Revolução vai conseguindo nesse sentido, e é realmente motivo de espanto de muitos técnicos internacionais, de fama internacional em questões de educação, o que em Cuba se fez nesse sentido. E para satisfação nossa, vale lembrar os relatórios que os técnicos em educação das Nações Unidas têm feito acerca da campanha de alfabetização em Cuba, que foi um fato realmente — pela sua magnitude — sem precedentes no mundo; e se espantam. E realmente avança a educação com passo firme, sólido; e, certamente, isso é muito bom, isso é formidável, isso é garantia de um futuro esplêndido para nosso país. Mas não basta com isso. Essa educação tem que ser uma educação teórica e, ao mesmo tempo, prática; e não basta com a educação dos jovens, é preciso educar também os adultos, como se está fazendo com as escolas de mínimo-técnico, com as escolas de superação operária e camponesa.

É preciso dizer que nós temos máquinas que não estão trabalhando por falta de torneiros; é preciso dizer que necessitamos muitos operários qualificados, muitos mesmo! E que pena! Ter uma máquina e não ter um operário qualificado que a saiba manipular, quando a máquina multiplica por 10, por 20, por 50, por 100, por 300, o trabalho do homem. E as máquinas necessitam algum conhecimento; qualquer colheitadeira de cana. Chegaremos a ter milhares de colheitadeiras de cana, mas para que essas colheitadeiras deem o máximo, para que não se avariem, é preciso sabê-las manipular bem. Então, um homem pode fazer o trabalho de 120 homens com uma máquina; ceifando ervas com determinado tipo de ceifeira, um homem pode fazer o trabalho de 300. E isso que ocorre na agricultura ocorre em qualquer indústria. E se, além da mecanização vem a automatização, mais se multiplica o trabalho.

E assim, nós pudemos ver na União Soviética empresas hidrelétricas manipuladas por 10, 12 ou 20 homens (APLAUSOS).

Quando nos fins do ano passado se fizeram determinados planos sobre a cana, foram reunidos todos os administradores de todas as fazendas canavieiras e frequentaram um curso de dez dias. E é incrível o que esse curso de dez dias ensinou a esses administradores! Alguns deles pela primeira vez em sua vida escutaram falar de calagem e de toda uma série de técnicas; e neste ano vai ser feito outro curso de um mês.

E, com certeza, com as escolas, com a preparação desses administradores, se podem levar a termo os planos que temos. Mas é preciso preparar muito, é preciso ensinar muito.

E esta conversa toda sobre questões de educação veio a minha mente, porque quando eu estava lendo ontem de manhã os recordes de trabalho e o impressionante recorde de trabalho do companheiro Reinaldo Castro, e observava o esforço realmente sobrehumano e incrível que tinha feito, os rendimentos que tinha conseguido, o esforço que tinha feito na safra passada, e depois da safra no plantio da cana, na rega e depois com a brigada, eu ficava preocupado e dizia: Se um homem como este continua todos os anos fazendo esse esforço, destrói-se e nosso país vai sair perdendo com isso; então, se torna uma simples besta de trabalho, e isso não pode ser, nem podemos querer isso.

Mas, ao mesmo tempo, acabei dando por mim, no caso de Reinaldo, que não só ele tinha sido o melhor trabalhador, mas que a brigada que ele dirigia estava no primeiro lugar (APLAUSOS). E eu disse: Isto não é por acaso, isto não é por acaso, e não pode ser devido ao trabalho dele sozinho; isto demonstra que este trabalhador é capaz de contagiar com seu mesmo espírito os demais homens dessa brigada (APLAUSOS), que este não só é capaz de trabalhar muito, mas também de dirigir os demais no trabalho e de contagiá-los com seu mesmo espírito e com seu mesmo entusiasmo. Então eu pensava que os casos como esse, ou de todos aqueles operários cuja brigada fique no primeiro lugar, constitui para nós uma evidência muito importante da qualidade desses homens.

Pode dar-se o caso de que um homem seja capaz de trabalhar muito e, contudo, não saiba organizar o trabalho dos demais. Mas isso seria uma rara exceção. Em geral, o homem muito trabalhador e capaz de trabalhar muito, sempre contagia os demais desse espírito seu (APLAUSOS) e tem condições para dar uma contribuição mais importante.

E eu dizia: Homens como esse dirigindo tarefas aqui de determinados tipos, se daqui a 8, ou 10, ou 12, ou 15, ou 20 anos, os homens que estão à frente de todas as unidades de trabalho e de todas as empresas são homens como esse, está garantida a construção do socialismo e do comunismo em nosso país (APLAUSOS).

E esses homens são os revolucionários por excelência, os socialistas por excelência e os comunistas por excelência. E esses homens devem ser recrutados pelo nosso Partido de vanguarda (APLAUSOS), porque eles representam as melhores virtudes da classe operária, o espírito da classe operária, a generosidade da classe operária (APLAUSOS); porque quando operários como esses que têm sido premiados trabalham, não estiveram pensando em seus benefícios — possivelmente ganham muito mais do que necessitam, trabalhando da forma em que trabalham — estiveram pensando na nação, estiveram pensando no povo; não estiveram pensando no que vão consumir simplesmente, mas tiveram seu pensamento voltado naquilo que vão produzir para que os demais consumam (APLAUSOS). E isso significa uma alma generosa, um coração generoso. Porque, pelo contrário, há esse tipo de pessoas que nunca pensa nos demais; pensam só nelas próprias e quanto vão consumir, e nem sequer pensam que cada bem material ou de qualquer índole que seja consumido, é produto do esforço e do trabalho de alguém.

E por isso os operários de vanguarda devem ser alvo da atenção esmerada de nosso Partido, para estimulá-los, para formá-los, para recrutá-los; porque o Partido, que é a vanguarda, deve estar integrado pelos melhores homens da classe que representam. O país, cujo poder é o poder dos operários, deve ser o poder dos mais esforçados operários, dos mais dignos filhos da classe operária. Eis a fonte de onde nós temos que buscar os tesouros que encerra, tanto para a vanguarda política como para a vanguarda administrativa, como para a direção do trabalho. Nós temos que garantir esse princípio. Que ninguém no dia de amanhã, por vias simplesmente colaterais ou teóricas chegue a ocupar uma posição responsável. Não! Que o caminho seja este, este é o caminho: O caminho do trabalho! Os melhores no trabalho, para o Partido; os melhores do Partido, como líderes de direcção do Partido (APLAUSOS); os melhores no trabalho, para as escolas; os melhores no trabalho, para os postos de direção; os melhores no trabalho para a vanguarda das organizações de produção.

E assim, um porvir extraordinario será o porvir de nosso país, e temos que garantir isso. E por isso pensava que a esses operários de vanguarda, a esses heróis nacionais, é preciso dar-lhes oportunidade de estudar e que — junto à honra, à homenagem e ao reconhecimento da nação — haja para cada um dos operários de vanguarda, que assim desejarem, a oportunidade de estudar (APLAUSOS).

E por que estudar? Porque nós nos podemos deparar com o caso do companheiro Reinaldo que tem magníficas condições pessoais, e isso não bastaria; se a essas condições se acrescenta a capacitação, a preparação, e se põe essa mesma coragem, esse mesmo entusiasmo que tem pelo estudo, o companheiro Reinaldo é um valor que pode chegar a dar benefícios incomparavelmente maiores à sociedade, do que cortando cana ou espalhando sacos de adubo (APLAUSOS), ainda mais do que na frente de uma brigada de cortadores de cana.

Tomara que pudéssemos um dia ver companheiros como Reinaldo na frente de uma agrupação básica de produção! (APLAUSOS.) E que com esse espírito do qual contagiam a brigada, contagiem centenas e milhares de homens trabalhando sob a sua direção.

E por isso nós entendemos que uma das coisas que deve ir acompanhada à seleção é a oportunidade de estudar. Não se trata de dizer ao Reinaldo: “Você tem que estudar e o vamos fechar agora em uma escola”. Não, mas assim: “Você tem a oportunidade de estudar, desejamos que estude, é de interesse para o país que você estude”.

Mas é preciso oferecer essa oportunidade a todos os trabalhadores de vanguarda. E vocês hão de pensar que o país ganha com isso, o país vai ganhar muito com isso. Há alguns que dizem: Eu sou velho, tenho tantos filhos. E isso não é um obstáculo. Porque eu estou certo que se esse operário, que recebeu o título de Herói Nacional do Trabalho Técnico, fosse um engenheiro de nível universitário, com o interesse e a capacidade natural que possui, daria frutos incomparavelmente maiores.

Creio que a Revolução não fez nada mais belo que oferecer a oportunidade a todas as inteligências e a todos os carateres para desenvolver-se (APLAUSOS), porque antigamente as inteligências se perdiam, as inteligências se perdiam em nossos campos e em nossas cidades.

E eu compreendo melhor isso, pela minha experiência pessoal, estou em condições de compreender melhor que muitos. Porque se eu pude desempenhar um papel determinado na vida de nosso país, se pude fazer uma contribuição à Revolução, foi devido a que tive a oportunidade de estudar e tive a oportunidade de estudar porque minha família tinha recursos para pagar meus estudos. Mas ninguém melhor do que eu pode compreender que se eu tivesse sido filho de quaisquer das dúzias de humildes operários que ali trabalhavam, eu não estaria aqui agora (APLAUSOS), não teria um trabalho de responsabilidade no governo.

E quantos melhores que nós, quantas inteligências se terão perdido em nossos campos! Quantos homens daqueles que foram colegas meus na escola pública, na escola rural! Quantos desses homens o país perdeu como técnicos, como engenheiros, como dirigentes políticos, de qualquer índole!

E assim aconteceu com milhões de cidadãos. Acaso eu era melhor que os demais? Só em uma determinada situação social, por causas inteiramente alheias a minha vontade, tive oportunidade de ir às escolas, onde aproveitei o tempo à minha maneira; primeiro, porque não era bom estudante, mas também, porque não podia ser naquelas escolas de péssima qualidade que frequentei! (APLAUSOS.) Mas ao menos aprendi a ler e a escrever. Podia dizer tal como a canção: “Aprendi a ler e a escrever”.

E isso foi algo para mim. Mas não posso menos que pensar com indignação naqueles que ficaram sem aprender a ler nem a escrever, nem no tempo que nos fizeram perder, ainda aos que, como nós, tivemos oportunidade de frequentar uma escola. Mas, o que nos ensinaram, que história nos ensinaram? Quantas coisas que podíamos ter aprendido deixamos de aprender; e como será o povo do amanhã quando todos os milhões de crianças que nasçam tenham a oportunidade de receber não só o ensino primário, mas, inclusive o ensino secundário. E não há de estar distante o dia em que seja estrita e irrenunciável obrigação de cada jovem adquirir até o título do ensino secundário. E então, com que padrão de vida, com que acúmulo de riquezas, poderá contar nosso povo? Porque a riqueza, a abundância, condição imprescindível do socialismo e do comunismo, se consegue com a técnica, com a inteligência, com os meios adequados de trabalho e a técnica adequada.

E o mérito desse operário foi a contribuição que fez, fruto de sua observação, de seu amor ao trabalho, elevando de maneira extraordinária e considerável a produtividade.

Por isso se a sociedade passada não ofereceu aos melhores operários como ele a oportunidade de estudar, a Revolução tem que oferecer-lhes essa oportunidade, a Revolução tem que estimular essa oportunidade (APLAUSOS).

E entendemos que seria o complemento do sistema de emulação, o princípio de que o triunfo na emulação, o título de trabalhador de vanguarda, significa para cada um que o receber a oportunidade de estudar. E todas as empresas devem esforçar-se por conseguir que esses operários de vanguarda estudem.  E nossas empresas e nossos ministérios devem estudar as formas e os canais pelos quais se consegue isso. Porque ninguém é velho para estudar aqui.  Compreendem? Nós todos temos muito que estudar e todos temos muito que aprender.

Eu não quero ser mais extenso, e por isso não vou aprofundar mais nestes argumentos. Mas nós todos temos necessidade de estudar e o que com isso se consegue não é simplesmente um passatempo, não vamos estudar por esporte. Não! Vamos estudar por necessidade, porque nossa pátria precisa disso, nossa Revolução precisa disso. E vamos estudar, além do mais, por uma questão moral, por uma satisfação espiritual, e ademais por concorrência. Porque eu creio que ninguém quer ficar sendo “burro”, como diziam antigamente, ninguém quer ficar atrás. E esse é um sentimento nobre.

Antigamente discutiam quem era mais rico. E as crianças diziam: Meu papai tem mais dinheiro que seu papai. Agora não, agora se discute quem trabalha mais, quem estuda mais, quem sabe mais. E as crianças dirão: Meu papai sabe mais que seu papai (APLAUSOS).

Nosso país avança bem, nossa Revolução avança bem. Bem é uma coisa, e muito bem é outra. E a Revolução avança muito bem! (APLAUSOS), o país avança muito bem! (APLAUSOS.) Vamos melhorando, vamos progredindo; mas isso não é nada, o que nos resta por progredir e o que vamos progredir nos anos vindouros!

Nas condições que temos criado, nos instantes em que o bloqueio econômico do imperialismo ianque se vem abaixo, se converte em poeira, em que as possibilidades para nossa economia são como nunca, como nunca!, em que se têm criado as bases em nosso comércio internacional para dar um grande impulso a todo, não podemos perder estas oportunidades e não as vamos perder.

Naturalmente que aqui pode ser que falte um poco de pintura às casas durante algum tempo, até tivermos as indústrias básicas para produzir a tinta suficiente com que pintar bem bonitas todas as fachadas de todas as casas. Certamente que daqui a dez anos, pelo menos, vamos ver que os carros vão ir ficando mais calhambeques, sim, mais calhambeques. Mas enquanto os carros estejam ficando mais calhambeques, os cidadãos vão ficar mais flamantes e as inteligências vão se polindo (APLAUSOS) e os cérebros vão adquirindo rodas, e a inteligência vai adquirindo assas. E começarão a sair das universidades dezenas de milhares de engenheiros, médicos, pedagogos, técnicos de todos os tipos; se desenvolverá uma técnica nova, irão sendo criadas as condições mediante as quais um dia vamos poder até comprar mais carros dos que compravam os burgueses. De maneira que ninguém fique doido buscando um carro, mas quem quiser viajar um de semana vá e por uma quantia módica aluga o carro e o leva, e naturalmente, que não o deve entregar avariado, deixem-me retificar (APLAUSOS).

Falta tempo, se fizermos isso amanhã dão cabo dos carros. Ainda, inclusive não só com os carros, com os caminhões e os ônibus, também os vão destruir.

Por ora, é preciso utilizar o transporte coletivo, certo? Já temos melhorado nossas linhas aéreas, já há um avião que em uma hora e 20 minutos vai desde Santiago a Havana. Possivelmente vocês já viajaram em algum desses aviões. Os jogadores de beisebol também, embora alguns deles não gostassem de andar de avião, mas, bem...

É preciso melhorar nossos ferrocarris e vamos comprar locomotivas novas e até com ar condicionado (APLAUSOS), vamos melhorar nossos transportes urbanos e interurbanos, quer dizer, o transporte coletivo agora é o fundamental; vamos desenvolver nossa frota mercante, vamos ter uma frotinha mercante, uma frotinha mercante. Devagar mais com pressa! E vamos ter uma frotinha pesqueira. O atum vai ser vendido livremente em um tempo não muito distante (APLAUSOS).

Mas antes que o atum, os ovos também vão ser vendidos livremente. Já temos dito que em janeiro serão vendidos às dúzias e vocês sabem que, em geral, as coisas que oferecemos as cumprimos. E irá aumentando, paulatinamente, a produção de leite e a produção de carne, e vamos ver se os companheiros do Ministério da Construção resolvem o problema de ver como construímos casas também (APLAUSOS), em quantidades suficientes.

Agora, foi preciso construir algumas coisas correndo e há muitas usinas que se estão construindo, mas temos que ir vendo como, mediante métodos modernos de pré-fabricados e com a mecanização das construções e com os operários da construção que temos, podemos construir muito mais (APLAUSOS). A população se multiplica e é preciso ter um teto, de maneira que temos que ir construindo ao mesmo ritmo em tudo. Mas primeiramente o imprescindível, certo?

Eu estou certo de que vocês verão um desses calhambequinhos que não será muito moderno e dirão: “Mas é melhor ter um bom navio pesqueiro que pesque umas quantas centenas de milhares de quilos de atum por ano”. (ALGUÉM DO PUBLICO DIZ: “De bacalhau”).

Também!, também (APLAUSOS). Quero que saibam que temos mandado comprar seis navios desses. Estamos calados, não dizemos muito disso (APLAUSOS). Basta dizer que vamos ter 70 navios atuneiros para fins do ano que vem, setenta! e agora temos cinco, agora temos cinco e que esses rapazes vão pescar dez vezes, quinze vezes, vinte vezes mais que nossos velhos pescadores com anzóis.

E assim iremos criando a abundância. Temos dicho: Primeiramente vamos desenvolver as galinhas poedeiras, depois as de carne. E, é claro, uma coisa, para que o saibam: os aumentos nos fornecimentos começarão pelo interior, pelo interior! (APLAUSOS).

Em Havana há determinadas cotas que tradicionalmente eram mais altas, tem maior quantidade de restaurantes, há uns 50 mil operários com refeitórios.  Agora, em Havana, vamos congelar tudo nesse nível e vamos começar de Oriente para cá, compreendem? (APLAUSOS).

Aumenta a produção de ovos primeiro para o Oriente; de peixe, primeiro para o Oriente; e vamos trazer uns quantos milhares de toneladas de bacalhau para o interior; e umas quantas toneladinhas de carne seca que veio do Uruguai, vão para o interior (APLAUSOS). É preciso esperar um pouco, mas quando forem a Santiago poderão comer carne seca. E é justo, certo? É muito justo.

Com a capital se tiveram em consideração seus consumos tradicionais. Não teria sido correto dizer bem, pois, vamos diminuir à metade o que estão consumindo aqui, porque esse não é um bom método político de fazer as coisas. Mas, agora é preciso ir começando por lá. Tal como quando já nos estejam sobrando os produtos e falte o dinheiro, é preciso ir começando pelos salários mais baixos, compreendem? (APLAUSOS).

É claro que já no ano que vem, para fins do ano que vem, já se completam os cinco anos da reforma urbana. Como passa o tempo! E já há muitas, muitas famílias, que não terão que pagar aluguel (APLAUSOS). Isso significará uns centavinhos mais para fin do ano e para todo o outro ano também.

Mas quando já os ingressos e a produção estejam equilibrados e quando já comece a haver mais produtos do que dinheiro — e não vamos demorar muito tempo, não vamos demorar muito tempo — então chegará a hora de ir começando a elevar as receitas pelos salários mais baixos, pelos mais baixos! Porque ainda há muito desbalanço em todas essas coisas, apesar do que se tem feito e de muito do que se tem avançado nesse sentido. Vocês sabem que, por exemplo, nas jazidas creio que havia 20 salários diferentes nas jazidas.

E assim iremos por essa ordem: do interior para cá, de abaixo para cima, melhorando o povo.

E com o esforço, com o trabalho, não vamos demorar muito em ter suficientes coisas. E para nós será uma grande satisfação ver que começam a aparecer produtos vendidos livremente e que a caderneta de racionamento fique abolida (APLAUSOS).

A caderneta de racionamento foi uma necessidade, porque sem a caderneta quem tiver mais grana tinha mais, e foi preciso fazê-la para defender aqueles não podiam comprar no mercado negro. Muitas dessas coisinhas do mercado negro por lá, por alguns lugares, eu sei que há pessoas que vendem os ovos a 20 centavos. Em janeiro já não haverá mais mercado negro de ovos! Por quê? Porque estarão baratos, os vamos classificar e os vamos vender segundo o tamanho e acabará o mercado negro. Quando tenhamos frangos suficientes tampouco haverá quem consiga vender um frango no mercado negro; quando tenhamos peixe suficiente não haverá ninguém vendendo seu peixinho por aí no mercado negro. A abundância é a que acaba com o mercado negro (APLAUSOS) e com a abundância vamos pôr fora de combate o mercado negro!

Então depois dirão: “Bem, e agora onde vendemos isto.” Vejam se há alguém que o queira comprar, vendam-no mais barato, lhe diremos. Porque, é claro, sempre há certos interesses antissociais, sempre é preciso andar buscando ou inventando algo, mas isso é por causa da escassez. Pondo fim à escassez chegará um momento em que as pessoas dirão: “Caramba, não tenho grana, mas há muitas coisas na loja”.

Pois é, nesse momento as pessoas começarão a dizer: “É pena que não tivesse um pouquinho mais de dinheiro”. Se é preciso discutir isso, e então diremos:  Bom, vamos ver quem são os que mais estão precisando e quem são os mais mal pagos, todas essas coisas, bem.

E é bom, antes que faltem as coisas, é melhor que sobrem, porque então muitas pessoas terão mais interesse em trabalhar e necessitamos que se trabalhe, e sempre haverá uma quantidade de pessoas que, estimuladas pela quantidade de bens que podem adquirir, trabalhe mais para ganhar mais dinheiro, e na etapa da construção do socialismo tem que ser assim. O socialismo é a cada qual segundo seu trabalho e o comunismo é a cada qual segundo suas necessidades, mas isso é coisa dos filhos de vocês, filhos mais novos, não os mais velhos. Ainda os mais velhos vêm com alguns hábitos e alguns costumes. Ainda dentro da sociedade há muitos privilégios, mas já não é uma sociedade de exploração do homem pelo homem, já as bases fundamentais da exploração social e os que criaram todos esses privilégios sumiram.

O outro é um processo longo, longo, mas um processo seguro. Poucos países têm as condições que temos nós para cumprir com sucesso esse processo, poucos povos têm as vantagens que nós temos, vantagens de ordem exterior e vantagens de ordem interior também.

Se nós não conseguíssemos a abundância aqui seria, simplesmente, porque somos uns incapazes totais para consegui-la, seria simplesmente porque não queremos. Mas queremos consegui-la e a vamos conseguir, a vamos conseguir fazendo as coisas como devemos fazê-las e, isso sim, tirando todo aquele que não serve do lugar onde está e levando-o para outro lugar (APLAUSOS).

Com certeza, Com certeza, tem que ser assim, e o conseguiremos mais rapidamente, na medida em que formos colocando aqueles que servem nos lugares onde devem estar.

A ninguém vai faltar nada, ninguém tem que ficar com temor. Às vezes, eu pensei no caso de alguns companheiros. Digo: Vejam, que estes companheiros custam caro. Vejam, se lhes pagássemos uma aposentadoria de 1.000 pesos custariam muito mais baratos à Revolução que com o que estão fazendo, deveras que sairíamos ganhando, inclusive, aposentando-os — sem que aposentar seja mau — sempre que as pessoas se aposentem por causa da idade e que as pessoas não se aposentem porque custem caro. Eu creio que é preciso aposentar aqueles que custem caro, é preferível.

Não, a Revolução não vai deixar ninguém morrer de fome. Nós devemos estabelecer o princípio de que ninguém terá as portas fechadas, de que ninguém morrerá jamais de fome aqui, porque se é tão mau, mau, o pomos no cárcere e lhe damos comida ali. Quer dizer, se é um sujeito antissocial, delinquente, inimigo da lei, bem, senhor, com você já não podemos fazer mais nada, vai para o cárcere e ali o vamos manter.

Mas se vocês soubessem que a nós nos escrevem cartas e acabamos sabendo de muitas coisas que são tristes. E assim temos o caso de uma senhora que tinha vários filhos e estava, ainda, grávida, e o esposo estava preso por um delito comum. Eu dizia: Mas que triste realidade que ainda em nossa sociedade estejam acontecendo estas coisas. Quem se lembra dessa mulher que tem muitos filhos, que tenha essa necessidade, nessa situação difícil essa mulher, e que ainda haja mulheres, mães de família, que estejam nessa situação muito penosa. Você diz: Bem, vamos sustentar essa família.  Então, muitas pessoas vão dizer: “Epa, não importa se eu cometer algum delito, pois minha família vai estar bem”.

Mas, de todas as maneiras, deve haver instituições que tomem conta desses casos, têm que haver instituições que tomem conta desses casos. De maneira que em nosso país não haja uma única criança que se deite desamparada, nem uma única mulher, nem um único doente inválido, ninguém (APLAUSOS).

Qual é o socialismo que nós teríamos feito aqui sem isso, de que poderíamos orgulhar-nos se não conseguimos isso, quando nosso orgulho maior é termos acabado com a mendicidade, que ainda me dizem que andam alguns pedintes por aí, alguns os veem — realmente eu não os vejo, não sei se será que caminham muito rápido esses carros — o Cavalheiro de Paris que eu o encontrei na Quinta Avenida, mas o Cavalheiro de Paris não pede esmolas, é tudo um cavalheiro e não incorre nisso.

Rapazes pela rua como vagabundos? Rara vez se encontra algum, aparece algum. É elementar para nós irmos erradicando essas coisas. E esse será sempre o orgulho de nosso povo ir conseguindo todas essas coisas. Isso é viver como seres humanos, isso é viver como homens e não como bestas. E aquela sociedade era uma sociedade de sentimentos bestiais e incutia no homem esses sentimentos e a cada um não lhe importava a sorte dos demais.

Um homem trabalhando, quanto pode produzir e a quantos pode sustentar? Com certeza que qualquer um destes operários de vanguarda produz vinte vezes mais, cem vezes mais do que ele necessita — e não já um bom operário de vanguarda, até uma vaquinha pode ajudar a sustentar três famílias. E é justo que vivamos — como vivíamos — naquelas condições, naqueles sentimentos egoístas, aquela insensibilidade para os demais? Não, senhor, aqui entre operários de vanguarda, entre produtores de primeira qualidade, de homens que têm fé no trabalho e sabem que são os frutos do trabalho, se pode dizer que o trabalho pode erradicar a miséria (APLAUSOS).

O trabalho, com boa organização, boa técnica, modernos instrumentos de trabalho, homens que saibam empregá-los, boa organização: e fica varrida da face de nosso país a miséria, a pobreza, e iremos criando para o povo todas as condições de vida pelas quais têm lutado, pelas quais se têm sacrificado nossos operários, pelas quais morreram muitos combatentes, deram seu sangue, desde os que morreram em “La Coubre” até os que morreram na Baía dos Porcos (APLAUSOS).

E dessa forma, quando um dos operários aqui falava de que eles estão dispostos a dar sua vida, quanta verdade dizia!  E com que disposição os operários têm estado dispostos a dar sua vida pela Revolução, e com que disposição têm ido combater, e com que disposição morreram! Porque são centenas os trabalhadores que deram sua vida e seu sangue pela causa da Revolução, e o têm feito por isto.

E hoje cada dia mais a Revolução é compreendida, hoje cada dia mais a Revolução é aceita como um fato incontrovertível de nossa história; cada dia mais a Revolução é segura; cada dia mais estão esmagados os ‘gusanos’(contrarrevolucionários. Nota do Trad.), os vacilantes e os inimigos de nossa pátria (APLAUSOS). Triunfa a Revolução, triunfa a Revolução frente a poderosos inimigos, frente a grandes obstáculos; triunfa a Revolução ainda frente a nossa própria incapacidade, a nossa própria ignorância; triunfa a experiência sobre a ignorância. Vamos triunfando!

Iremos melhorando dia a dia; compreenderemos tudo isso cada vez com maior clareza. E teremos sempre — todos e cada um dos homens que amamos esta Tierra, que amamos esta causa — a satisfação de vê-la crescer, com o amor com que os seres humanos veem crescer a obra de seu esforço, de seu trabalho, com o amor com que os pais veem crescer seus filhos, com a satisfação e a segurança de que isso está seguro, com a convicção de que já nada poderá fazer recuar a história de nossa pátria, com a convicção de que este povo — herdeiro e descendente de nossos mambises que há 100 anos começaram a lutar pela independência (APLAUSOS) — hoje recebe os frutos, hoje recebe os frutos do esforço de outras gerações.

Muitas vezes dizemos que nos estamos sacrificando para que as gerações vindouras vivam melhor. E é verdade, viverão melhor que esta geração! Mas lembremos, também, que outras viveram muito pior que nós, e se sacrificaram por nós! (APLAUSOS.) E assim, temos que ser generosos com os que virão depois, como foram generosos conosco os que nos precederam.

E estes são os sentimentos que evoca em nosso ânimo um ato como este, uma reunião como esta, uma festa como esta. Porque esta é uma verdadeira festa: a festa do trabalho, a festa do patriotismo, a festa do espírito revolucionário, a festa de todos os trabalhadores. É um dia de orgulho para nossa clase operária, para nossos trabalhadores, para nossas organizações operárias; um dia de orgulho em que a nação, o governo e o Partido prestam tributo a seus operários de vanguarda!

E que esta instituição se fortaleça cada vez mais! E que esta instituição ganhe cada vez mais vigência e cada vez mais prestígio! E que no coração de cada um dos cubanos tenham um lugar cada vez mais distinto os homens e as mulheres que estão à frente da produção! Porque vocês têm sabido cumprir com a pátria, vocês têm sabido cumprir com a Revolução, vocês têm sabido cumprir com nosso lema de:

Pátria ou Morte!

Venceremos!

(OVAÇÃO)

Versões Estenográficas – Conselho de Estado