Discursos e Intervenções

Discurso proferido pelo Comandante-em-Chefe Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comité Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no recebimento à delegação esportiva que assistiu a Baltimore, no dia 4 de Maio de 1999, "Ano do 40 Aniversário do triunfo da Revolução"

Data: 

04/05/1999


Caras companheiras e companheiros:

Sabia que não conseguiria fugir da possibilidade de ter que proferir algumas palavras neste comício, e há algumas coisas que poderia expressar-lhes.

É claro, em primeiro lugar, dizer que ninguém fechou um olho há não se sabe quantas horas; portanto, ninguém dormiu nem um minuto, pelas emoções desse partido de ontem, que foi verdadeiramente incrível, com o frio, a chuva, a interrupção do jogo e todos os inconvenientes que significava para a estratégia e a táctica que levava a nossa equipa. Por conseguinte, se vocês tiverem um bocado de paciência, se alguns por aquele lado se calassem, ainda que não oiçam, então julgo que devo dizer algumas coisas.

Em primeiro lugar, que esta alegria não é uma questão habitual; que esta vitória desportiva constitui o que poderíamos chamar um acontecimento verdadeiramente histórico. Pode se falar de acontecimento histórico por muitas razões, entre outras, porque é a primeira vez na história deste hemisfério que uma equipa amadora, constituída neste caso por modestos jovens compatriotas, participa de um encontro com uma equipa das Grandes Ligas dos Estados Unidos.

Havia muito tempo que nós desejávamos a possibilidade de medir o avanço que tinha atingido o nosso desporto, e saber o que iria acontecer se tivéssemos a oportunidade de efectuar um encontro dessa natureza.

Dizer Grandes Ligas é dizer tudo, dizer Grandes Ligas é mencionar o mais sagrado, a elite deste ramo do desporto que é o beisebol, como lá é chamado; o mais preferido, tradicional e famoso nos Estados Unidos da América.

Quando éramos estudantes como vocês, as Grandes Ligas eram o non plus ultra e até hoje, inclusive, dizer "amateur" é como falar em amadores incapazes de enfrentar-se a uma equipa profissional.

Em muitos desportos, por exemplo no boxe, já nos enfrentamos a equipas norte-americanas fortes, não profissionais. Mantivemos durante muitos anos o campeonato mundial nessa área, e contamos com uma força sólida e crescente.

Tivemos muitas competições com os norte-americanos, lá e aqui, no voleibol também, em campo e pista e em muitos desportos. Mas há desportos que têm características especiais, que se transformam em grande espectáculo, que contam com uma enorme torcida no mundo fora, e portanto, podem atingir grandes receitas.

É difícil que um ciclista alcance grandes rendas, é difícil profissionalizar o ciclismo, ou talvez aquele que pratique o arco e seta, ou aquele que é halterofilista, ou o que corre nas olimpíadas.

Outros desportos têm características diferentes pela razão antes referida, o futebol é um deles. Grandes atletas do futebol são muito cotizados, também os grandes atletas do beisebol —vou usar essa palavra— são muito cotizados, e também outros, como os do boxe. Mas no beisebol, por ser o desporto preferido da nação mais grande em recursos económicos, a nação mais rica do mundo, e além disso, possuidora das mais importantes cadeias de rádio, televisão, imprensa, isto é, possuidora do domínio dos meios massivos de divulgação, dispõe de todo o dinheiro que quiser e anda pelo mundo a comprar desportistas, como anda pelo mundo a comprar cientistas, pesquisadores, artistas; é muito difícil competir com eles.

O que podemos oferecer-lhes aos nossos atletas e o que lhes temos oferecido no decurso dos anos da Revolução? Esforço, sacrifício, uma vida modesta. Junto disso, a possibilidade de educar-se, desenvolver as suas capacidades e optar pelo seu desporto preferido.

Lembro-me que quando começou a desenvolver-se o desporto com mais força, os que participavam dessas competições eram trabalhadores das fábricas ou empregados, e era necessário outorgar-lhes uma licença desportiva e recebiam o salário que tinham. Depois cada um destes ramos desportivos foi se especializando, entre eles o beisebol. Bom, passados os primeiros anos, já os desportistas não procediam fundamentalmente das fábricas, procediam das escolas, porque o desporto começa a ser praticado massivamente nas escolas, alguns com muito pouca idade. Já vinham os atletas das escolas desportivas de nível médio dedicadas ao desporto ou da faculdade superior desportiva.

Dizíamos: O que podemos oferecer-lhes a estes jovens? A oportunidade de adquirir uma carreira universitária na área da educação física e do desporto, que mais tarde lhes permitisse viver com decoro como professores de desporto, pesquisadores nessa actividade e formadores de novos atletas. E por isso já a maior parte dos atletas destacados dos diferentes ramos eram ao mesmo tempo alunos do Instituto Superior de Educação Física e Desportos "Manuel Fajardo". A nosso primeira preocupação era que cada um deles pudesse adquirir uma carreira universitária.

Multiplicaram-se as escolas desportivas, porque víamos o desporto não como uma profissão, mas —como foi dito muitas vezes— como um direito do povo, uma conquista do povo, o direito a que todas as crianças, todos os jovens, os adolescentes, os adultos, e até os de maior idade pudessem praticar, se não for um desporto, pelo menos a educação física; que toda a juventude tivesse a possibilidade de praticar um desporto em prol da saúde e do bem-estar da população.

O nosso país formou, ao longo destes anos, mais de 30 000 professores de educação física e desportos; não sei quantos teremos formado no "Fajardo", mas deve ser uma boa cifra de milhares (Dizem-lhe que 35 000). No "Fajardo", no Instituto Superior? (Fernández lhe diz que no nível superior, no "Fajardo", 25 000.) Sim, de todo o país já sei, porque se estendeu.

Aí vocês incluem os professores de educação física e desportos? (Fernández lhe diz que no "Fajardo", entre treinadores e professores de educação física, foram formados 25 000, porque se formaram os novos, e aos velhos lhe demos oportunidade de estudar.) Ah!, de nível superior, mas as escolas de nível médio formaram dezenas de milhares (Dizem-lhe que mais de 30 000).

Mais de 30 000, é correcto. Esse foi o esforço que fizemos a partir de uma concepção, e o nosso país é sem dúvida o que tem mais professores de educação física e desportos por habitante entre todos os países do mundo, como o temos entre os professores, ou o temos entre os médicos. Fez-se para o povo, nunca foi concebido como uma profissão, e na época em que a Revolução surge e impulsiona o desporto, existia realmente o amadorismo nas competições internacionais e nas olimpíadas apenas participavam atletas amadores, tal como foram concebidas desde a época da Grécia. Mas essas idéias foram deturpadas, mudadas e corrompidas pelo mercantilismo, e em vez de proteger-se o conceito do atleta amador, o que aconteceu nos últimos anos é que praticamente todos os desportos foram profissionalizados, e já nas competições olímpicas têm direito de participar atletas profissionais. É por isso que aparecem os "dream teams", como lá em Barcelona, no basquetebol, uma selecção dos melhores desportistas profissionais dos Estados Unidos da América, o que serve muitas vezes para humilhar os países que têm poucos recursos, os países que não possuem instrutores, nem professores, nem estabelecimentos de ensino, nem instalações desportivas, nem as coisas que possui hoje o nosso país, por exemplo, a pesar de ser um país do Terceiro Mundo.

Essas competições servem muitas vezes para tentar demonstrar a superioridade nacional e inclusive racial dos países ricos e das nações desenvolvidas e para humilhar o resto dos povos, embora muitas vezes alguns dos seus melhores atletas procedam de países pobres, e assim resulta muito difícil que um povo africano possa reunir uma equipa e os recursos para dispor de uma boa equipa de futebol; porém, os atletas africanos apenas têm oportunidade de participar nas equipas dos países industrializados.

Eles têm recursos, têm dinheiro e conseguem levar os atletas. Assim, durante anos, tivemos que lutar muito duramente nessa competência cada vez mais desleal e contra essa política de arrebatar –lhes a outros países os seus atletas.

Cuba nunca lhe arrebatou um atleta a nenhum país do mundo e os nossos professores e instrutores trabalharam, milhares deles, em muitos países. Aqui foram instruídos muitos, ou foram enviados instrutores e nunca lhe roubámos um atleta a outro país.

Formamos os nossos desportistas para que sirvam ao povo, para que tragam alegria ao povo, glórias para o povo, honra para o povo, e podemos dizer dos nossos atletas, em primeiro lugar, que contribuíram com muita glória e muita honra, infinitas satisfações e alegrias para o nosso povo (Aplausos).

Quem falou aqui não foi Omar Linares —ou El Niño Linares, como vocês carinhosamente lhe chamam (Aplausos)—, quem falou aqui é o filho deste país que rejeitou um contrato de 40 milhões de dólares para se tornar num profissional (Aplausos e exclamações). Poderia ter falado Stevenson, em nome de antigos atletas, que rejeitou ofertas milionárias (Aplausos), igual que muitos outros atletas.

Ora bom, o que acontece com o beisebol? É o maior divertimento que tem o país. Nem sequer temos a possibilidade, visto que estamos bloqueados, de procurar outras fontes de rendas para eles, agora que tudo ficou profissionalizado, como referíamos. Neste próximo período a equipa tem que se preparar para as olimpíadas, mais do que para as olimpíadas, para Winnipeg, que é o passe intermédio para ter direito a competir, e sabemos o quê estão a fazer vários países: recrutando profissionais a destra e sinistra com a idéia de que assim poderão tirar a Cuba do seu posto para competir nas olimpíadas. Espero que essa ideia tenha desaparecido totalmente ontem à noite. Como se reúnem, sei lá, todos os que quiserem, e nenhum deles poderá reunir todos os que quiserem. Não há dúvidas de que a equipa dos Estados Unidos pode ser forte, forte, forte. (Dizem-lhe alguma coisa).

Bom, mas outras equipas, de países, inclusive, da Bacia das Caraíbas, estão a afiar os dentes com planos de empregar profissionais para ocupar um lugar dos dois que correspondem ao hemisfério para a próxima olimpíada e deixar-nos no caminho.

Os nossos atletas do beisebol —como lhes dizia— constituem, durante uma grande parte do ano, o centro da atenção desportiva do país, essa é a realidade. Aquilo que noutros países conseguiu o futebol, o papel que desempenha em muitos outros países o futebol, aqui o desempenha este desporto. Precisamos deles aqui, no nosso país.

Não sabemos qual será a evolução do desporto nos anos vindouros, mas neste momento temos que lutar contra a tentativa de nos arrebatar os nossos atletas. A primeira competência é a luta contra esses bandidos chamados de scouts; não quero dizer que todos os scouts sejam bandidos, mas sim conhecemos um número de bandidos dedicados a essa tarefa, bufarinheira e ao mesmo tempo política, de tentar comprar atletas cubanos. Essa é a primeira batalha. Os Estados Unidos os apoia por óbvias razões de flagelação e propaganda contra-revolucionária.

Contudo, por que temos tantos e tão bons atletas neste desporto? Porque felizmente contamos com muitos jovens de extraordinária dignidade e patriotismo (Aplausos). Eles merecem o reconhecimento do povo.

Por isso, nesta ocasião, quando se efectuaria este partido histórico, uma das primeiras coisas que foram feitas foi recordar muitos dos que foram atletas brilhantes do beisebol, que deram glória, muita glória ao nosso país, e por isso mais de 100 atletas ou antigos atletas fizeram parte da delegação que animou a nossa equipa lá no estádio de Baltimore. Vocês não são capazes de imaginar quão felizes se sentiam quando repararam que se lembravam deles para serem testemunhos de um partido que eles não conseguiram ver, dum partido de que não puderam participar, porque nunca puderam medir as suas forças com aquelas equipas. Passaram os anos, surgiu uma nova geração de atletas, e eles tiveram o prazer de estar ali, na primeira fileira, junto dos novos valores, presenciando aquele acontecimento histórico. Não possuem riquezas materiais, mas são donos de uma pátria sem amos que os admira e sempre os recordará.

Dissemos: Não podemos esquecer jamais esses antigos desportistas. Não podemos dar-lhes os milhões que lhes ofereciam os scouts, contudo bem poderíamos dar-lhes todo o reconhecimento do mundo, todas as honras que merecem e todas as satisfações materiais que precisarem. As que precisarem, o que não significa ambição de riquezas, não. Mas sempre serão recordados, e na medida em que o país melhorar a sua situação económica, irá melhorando prioritariamente também a vida desses atletas que tanto fizeram pelo seu país e que ninguém conseguiu comprar por dineiro nenhum (Aplausos).

O desporto lhe tem dado ao país muito prestígio, e o país tem que compensar esses atletas, sejam ou não daqueles ramos que são altamente cotizados no mercado. De tal maneira que todos aqueles atletas que deram tantas provas de lealdade a sua pátria, e tantas provas de desinteresse, ocuparão o lugar digno que lhes corresponde na sociedade, e serão recordados com carinho pelo seu povo, ainda quando já não vivam.

Damos-lhe uma extraordinária importância a este encontro histórico, porque demonstra a magnitude dos valores humanos e morais. O exemplo que eles têm dado é muito grande. De casos como os que aqui referi, eu me pergunto se haverão exemplos iguais no mundo, ou se de um país que não seja patriótico, verdadeiramente digno e revolucionário, podem sair esses valores, porque a bandeira não se vende, a pátria não se vende, a lealdade ao povo não se vende. E a maior glória dos nossos mais grandes e admirados atletas é que são atletas que não se vendem! (Aplausos.) Seja, por isso, o primeiro reconhecimento.

Conseguimos medir a força desses homens, a capacidade desses homens, com a força e a capacidade de uma grande equipa onde este desporto, como disse, é o favorito e conta com infinitos recursos.

A folha de salários de cada uma das equipas das Grandes Ligas ascende a dezenas de milhões de dólares ao ano, e nalguns casos ultrapassa de 40, de 50, de 60 ou mais milhões. É um conceito. Lá houve uma competição, digamos, entre duas concepções: o nosso conceito do desporto e o conceito do desporto profissional; o conceito do desporto como direito do povo, privilégio e fonte de saúde e bem-estar de todo o povo, ou o desporto como objecto de mercado e fonte de receitas e riquezas pessoais. No jogo de ontem à noite essas duas idéias estavam a competir.

Os atletas amadores já não poderão ser desprezados, já não poderão ser subestimados.

É preciso ver como é que evolui o desporto no mundo, ninguém sabe para onde é que vamos, de um modo, por enquanto, irreversível, com essa triste transformação do desporto amador e das olimpíadas numa competência de profissionais. Pergunto-me que possibilidades lhes restam aos países pobres, isto é, à maioria esmagadora dos países.

Cuba, com a sua concepção revolucionária no desporto, tem a honra de ter sido o único país latino-americano que conseguiu superar os Estados Unidos numa competição pan-americana que foi celebrada, precisamente, na nossa pátria; única vez na história. É uma prova do esforço realizado, da qualidade dos nossos atletas, do sistema desportivo estabelecido.

Realmente, Cuba é hoje, de modo incontestável, a pesar de ser um país bloqueado e pequeno, o único rival desportivo que os Estados Unidos têm neste hemisfério (Aplausos). E é tal o prestígio adquirido que esse estádio de Baltimore ficou totalmente cheio, e vários dias antes da competência estavam vendidas todas as localidades. Por que? Porque milhões de norte-americanos também tinham o desejo de ver competir uma Equipa de Grandes Ligas contra uma equipa do país que é campeão mundial amador, e o tem sido durante muitos anos.

O primeiro assombro ocorreu aquando do primeiro encontro em Havana. Mas, como vocês bem sabem, estávamos em pleno campeonato nacional: excelente campeonato que atraiu multidões. Havia muito tempo que esse Estádio Latino-americano não ficava lotado. E no dia do último jogo entre as equipas "industriais" e "santiagueiros", a pesar das actuais dificuldades de transportação, talvez haviam mais pessoas —e foram muitas— que no primeiro encontro com os Orioles1.

Não podíamos interromper nosso campeonato e o encontro fora concertado; foi necessário variar concepções. O que fazer? O que fazer?

Nesse primeiro encontro tivemos que utilizar o taco de madeira. Havia 20 anos que aqui utilizávamos o taco de alumínio, e muitas tácticas e estratégias estão determinadas pelo alumínio ou pela madeira. Cá perdemos o hábito de fazer "toque de bola"2. Digo-lhe isto aos nossos próprios atletas: Vocês ainda não sabem fazer um "toque de bola". Urquiola me discute que sim, que sim, que sabem muito de "toque de bola", e sei que devem treinar muito nesse sentido; às vezes são muito necessários, ainda que são muito melhores esses lançamentos alinhados, dos quais fizeram tanta gala ontem à noite. Mas é preciso saber fazê-lo, porque há momentos em que faz falta.

O alumínio eliminou o "toque", eliminou muitas jogadas, e agora os que ordenam e comandam nestas questões do desporto, estabeleceram de novo o taco de madeira e, portanto, temos que carregar com o taco de madeira.

Quantos dias tivemos para nos adaptar?, se estávamos no apogeu do campeonato. Tivemos que chamar os melhores atletas das oito equipas que tinham sido eliminadas e começar a organizar uma equipa com uns tacos de madeira de que dispúnhamos, e dar-nos pressa na aquisição de outros. E quando ficaram quatro equipas das oito que tinham continuado na competência, incorporar também alguns atletas para que começassem o treino; quando restaram duas, aquelas outras duas do grupo de quatro que não participaram na final, chamámos outros atletas, e assim fomos somando pedacinhos das equipas que iam sendo eliminadas. Mas, manteve-se o campeonato.

Deve ter sido uma grande satisfação para todos os fãs o facto de não ter sido interrompido o campeonato. A pesar da importância desse jogo, a série continuou até ao fim. E quando finalizou o campeonato —já nesse final estavam a usar a madeira— incorporou-se um grupo de atletas daquelas duas equipas, que estavam nos dois primeiros lugares, ao conjunto de atletas que se estavam preparando, que não conseguiram participar no primeiro jogo. De quanto tempo dispusemos? Três semanas de treino para se adaptarem ao taco de madeira, apenas três semanas! Mas já tinha sido efectuado um grande partido com os primeiros incorporados, de que falou a imprensa mundial, de que falou muito a imprensa norte-americana. Não houve jornal que não falasse do partido anterior, nem deixasse de exprimir admiração pela força da nossa equipa.

Quando se juntaram os outros atletas, visto que todos foram-se somando por grupos, e conseguiram praticar durante três semanas, os resultados os vimos ontem. Nunca antes, como nesta ocasião, nem em tão breve tempo, foi feito um treino tão rigoroso e de tanta qualidade!

Aí conseguimos apreciar o que são aqueles técnicos de nível universitário formados nessa escola de que falávamos, os conhecimentos que possuem, a experiência que têm, e posso-lhe assegurar que podemos fazer não apenas uma, senão duas, três ou quatro equipas que poderiam participar nas Grandes Ligas.

Talvez um dia haja paz, existam relações normais com o vizinho do Norte e exista a possibilidade de que possamos participar nessas competições e, na medida em que isto for possível, poderíamos melhorar consideravelmente as rendas dos nossos atletas, que hoje são modestíssimas.

Bom, nem todos os desportos têm o mesmo atractivo, digamos, no sentido duma grande torcida e da possibilidade económica. Acontece o mesmo que com a arte; nem todas as manifestações de arte e produtos do trabalho intelectual podem obter grandes receitas. É claro, temos muitos escritores no nosso país, e muito bons por acaso, mas quão difícil é que um escritor no nosso país possa obter uma renda relativamente elevada. Alguns podem consegui-lo, mas é muito mais difícil.

Um bom pintor pode chegar a ter rendas importantes, mas em geral, a sua grande fama vem depois, quando já passou muito tempo.

Os músicos têm mais possibilidades imediatas do que um escritor, devido ao imenso poder dos actuais meios massivos de divulgação, que tornaram a música numa grande indústria. As rendas que podem receber alguns compositores e músicos de excelência podem ser altas, inclusive, muito altas e em breve espaço de tempo. No nosso país há alguns que têm réditos altos pelo que produzem. Recebem suas receitas e pagam uma parte em impostos como contribuição para o país.

Tomara chegue o dia em que também possamos oferecer-lhes aos desportistas mais destacados, por alguma via, receitas muito superiores às que podem receber hoje. Tenho a certeza de que duma forma ou doutra esse dia chegará, simplesmente graças à grande qualidade do nosso desporto. Se deixassem viver em paz o nosso país, cabem diferentes formas para estimular o talento, a consagração e as proezas de que são capazes.

Há um desporto, por exemplo, o voleibol, em que os nossos atletas praticam fora do país uma parte do ano, participam em competições, com diferentes equipas e melhoram suas rendas pessoais, mas continuam a ser atletas cubanos. Na época de competições voltam para os seus lugares. As competições nacionais deste desporto são de curta duração, mas o nosso campeonato de beisebol, por tradição e crescente qualidade, é a distracção número um da população, durante meses e meses. A torcida local e nacional deseja vê-los e desfrutar com a sua qualidade. Se acrescentarmos a isto a constante hostilidade e a falta de normas internacionais, torna-se mais difícil encontrar fórmulas práticas.

Analisámos e pensámos que um dia podemos ir melhorando as rendas deles com os próprios recursos do país, porque são dignos de receber pelas suas qualidades, as suas virtudes, a sua consagração, a sua disciplina, uma renda superior àquela que hoje recebem. No meio do bloqueio tudo isso se torna bem difícil, e os inescrupulosos, caçadores de cérebros e de atletas, não fazem outra coisa que levar a cabo um assalto continuado para tentear, corromper e comprar algum dos nossos atletas.

Explico-lhes isto para que se possa compreender por que consideramos em muitos aspectos o partido de ontem como um encontro histórico.

Quantos norte-americanos estarão hoje assombrados de ter visto ali, num estádio dos próprios Estados Unidos, e perante quase 50 000 fãs, o desempenho da nossa equipa. Durante muitos dias teremos que ler muitos cabogramas e comentários. E em que condições! Três semanas de treino com taco de madeira! É por isso que tivemos de multiplicar a imaginação. Como resolver aquela situação: em tão breve tempo ir a participar no jogo, e para além disso encontrar-nos com um dia chuvoso e frio, sem saber o que iria acontecer com esse jogo que tanto trabalho custou organizar e concertar.

Pior ainda: meteorologia anuncia nos Estados Unidos que à noite não haveriam chuvas e resultou que mal se iniciou o jogo começou a chover, e a televisão estava a informar que havia 12 graus de temperatura. Víamos tremer de frio a nossa gente.

O que acontecerá com os nossos atletas? Um excelente "primeiro lançador" tem que começar a jogar ali nessas condições de frio e de chuva. O jogo é interrompido durante uma hora, e sabemos muito bem, pelo que temos aprendido dos técnicos, quais são as regras de hoje, quanto tempo deve descansar o braço, quantas bolas deve lançar um lançador, e o quê fazem depois que um lançador lança três ou quatro etapas, e como usam o gelo, diferentes formas de atendimento, a massagem, o descanso; aliás, um lançador estrela, que tem que deter o jogo durante uma hora e voltar ali, com a chuva e o frio, frente a uma equipa batedora", que realmente é formidável.

Nesse momento surgem dificuldades. Com certeza todos os norte-americanos pensariam que se o nosso brilhante primeiro lançador, que ficou cheio de glória no partido celebrado aqui na capital, tinha problemas, os cubanos estariam eliminados. O que não sabiam era que antes de que eles pensassem nisso, todas as possibilidades estavam previstas.

Lembro-me que numa reunião com os instrutores, técnicos e directores da equipa perguntei-lhes: E, o quê fariam vocês se Contrera, na segunda etapa tiver problemas, perde o controlo e lhe dão algumas "batidas"3? Realmente, fiz-lhes muitas perguntas aos técnicos, instrutores e treinadores. Não sou professor deste desporto nem de nenhum outro, mas pelo menos conheço a arte de fazer perguntas e de me ocupar dos pormenores. Quando me respondiam: Faríamos isto, perguntava-lhes: Por que? Diziam: "Por isto, por isto e por isto. Temos outras estrelas muito boas na equipa." Enumeravam as características de cada uma delas.

Alguns analistas discutiam se Contrera devia comfede ou não, porque já o conheciam. Nós temos visto Contrera nos treinos, e a dada altura, a todo esse conjunto de "batedores" nossos, que o conhecem bem, era capaz de interromper-lhes uma cadeia de sucessos. Vocês nem imaginam a quantidade de bons lançadores que temos, que qualidades!, e alguns novos que lançam facilmente a bola com uma velocidade de até 97 milhas, e que nunca lançam uma bola a menos de 90 milhas, salvo se for intencionalmente, para confundir o "batedor". Mas os dirigentes da equipa tinham tudo previsto, o quê fazer em cada caso, e tudo foi se cumprindo exactamente como fora previsto para cada situação. O adversário tinha dois pontos de vantagem ao começar a segunda etapa; sabíamos como eles "batiam" , na verdade o tínhamos visto.

O que mais me impressionou foi o espírito de leões, de tigres com que os nossos reagiram. Parece que saltaram em busca da vitória. E se tinham uma vantagem de dois pontos perante a nossa equipa, nessa mesma segunda etapa os tigres saltaram e fizeram quatro pontos. Aquela reacção, aquele espírito foi verdadeiramente impressionante (Aplausos). E assim foi ao longo de todo o jogo.

Apenas sinto muito, realmente, que no meio daquele frio e a chuva tremenda, eles, que tinham boa reserva, não conseguiram fazer o que fizeram com Contrera no jogo de Havana. Estavam em apenas três "hits", e já era evidente o esforço extenuante , devido à quantidade de bolas lançadas por Vera, o companheiro que trouxe a bandeira, que ganhou esse direito, igual que aqueles que o escoltaram, e mais outros, como Linares, quem falou aqui, não recebeu nenhum "out" no jogo (Aplausos).

Eu apontava que teríamos gostado que tivessem procedido com Vera como o fizeram com Contrera, porque ele tinha lançado em Havana um jogo muito brilhante, que era doloroso que depois daquele esforço de mais de cem lançamentos —e já se observava que não tinha o mesmo controlo e algumas bolas subiam um pouquinho mais, ele mesmo o disse— fosse substituído oportunamente. Depois, alguns criticaram o director da equipa pelo facto de o ter substituído. Teria sido muito triste, naquela circunstância, que aquele brilhante papel que desempenhou tivesse perdido o brilho, porque os adversários aproveitassem essas circunstâncias.

Algumas vezes existe o critério de que o companheiro termine o jogo. Na verdade, com aquela vantagem, sentíamos vontade de que não saísse na última etapa, sobretudo depois dos dois "hits" consecutivos nessa última etapa. O marcador era de 12 pontos por 3, e o que tínhamos de reserva era muito. Vocês nem imaginam a reserva de lançadores disponíveis. Vera estava a dar um "zero hits, zero pontos" à equipa dos Orioles, desde o primeiro "out" do segundo "inning"4, até o primeiro "out" da nona etapa. Nem "hit" nem ponto —isso deve ser recolhido nos livros—, mas nós conhecíamos bem todos os recursos que lá tínhamos, e sinceramente nos causou mágoa o facto de que não se tivesse preservado integramente a incrível proeza que ele realizou.

Escuta, Urquiola, os técnicos e directivos não tomem isto como uma crítica; não, não, estou a expressar um sentimento. O dia da gratidão e das honras que vocês merecem não é o dia de fazer críticas, percebem?

Alguns não entendiam bem a composição da equipa. Havia quem dizia: Levaram quatro terceiros bases e um "inter-base". Sim, haviam quatro terceiros bases, mas um deles era "batedor designado" e foi quem disparou o "home-run" tremendo pelos 400 pés (Aplausos). Cumpriu brilhantemente o papel encomendado como "batedor" (Aplausos). Entre essos terceiros bases estava um tremendíssimo emergente de reserva, chamado Pierre (Aplausos). Entre essos terceiros estava Michel Enríquez que podia jogar no short-field se fosse necessário, e outro mais, e até Linares que às vezes o tem feito no caso em que o "inter-base" seleccionado tem sofrido lesões, e que durante o treino mostrou condições de constante, seguro e temível "batedor".

O conceito fundamental para esse jogo era ser forte na defensiva, porém, sobretudo, ser muito forte à ofensiva. Esse jogo devia ser ganho a "com batidas," com grande fortaleza e com um tacto infalível com o "taco"; "hits", "two-bases"5, "three-bases"6 e "home-run"7, o que aparecer. E essa equipa era uma fábrica de "hits", de "two-bases", de "three-bases" e de qualquer coisa.

A velocidade também foi considerada. Levou-se um companheiro cuja característica fundamental é a velocidade, para decidir o jogo embora que fosse com uma corrida nas bases. Haviam factores desfavoráveis: não só o frio, não só a chuva, não só o taco de madeira, senão que além disso, ao ficar difícil situação no terreno perdíamos uma das nossas vantagens que é a velocidade. Tudo foi analisado rigorosamente pelos companheiros que tinham a responsabilidade de escolher a equipa, e contavam com a experiência para o fazer minuciosamente. Era preciso esperar pelos resultados: foram o fruto de novas concepções e novos métodos de treino, e os homens tiveram que lutar até ao final pela sua participação no encontro. Não foi fácil.

No sábado ao meio-dia foi que os atletas souberam quem faziam parte da equipa. Quarenta e oito atletas estiveram a se treinar. Não foi fácil, de maneira nenhuma para o Director da equipa fazer a selecção. Mas foi feita na base de normas, de critérios e de princípios.

Sabíamos que essa equipa era capaz de dar quantos "hits" fossem necessários, e crescer-se-ia no momento preciso, é por isso que conseguiu uma vitória que poderíamos chamar de espectacular. E esta equipa, digo-o, simplesmente está a começar. Isto não é nada! Deixem que chguem os jogos em Winnipeg, deixem que cheguem as Olimpíadas, por muitos super-profissionais que reúnam, podemos ter uma confiança a cegas, total, na nossa equipa.

O princípio número um é a disciplina, a consagração, a entrega total. (Do público lhe dizem: "E a atitude do árbitro.") Deixa esse tema para depois, se quiseres. Agora tem coisas mais interessantes.

Queria vos dizer- isso; quais são as perspectivas.

Às vezes pensamos: que bom que o povo pudesse ver as práticas. Mas público e treino são duas coisas que às vezes chocam. Estávamos com vontade de que pela televisão o país pudesse ver os atletas que se preparavam. Sim, a nação os veria, mas também os adversários; conheceriam todos os lançadores e a cada um dos "batedores", quem lhe dava a esta, a esta e à outra. Dissemos: discrição "de baseball".

Os jornalistas queriam saber; eles iam ali, estavam observando. Compreenderam a estratégia. Mas não conseguimos realizar encontros publicamente, que resultariam verdadeiramente interessantes.

Devemos dar prioridade ao treino por em cima do espectáculo quando estamos nas vésperas de eventos importantes. Talvez um dia, nesses dois próximos meses de treinos —talvez, não devemos fazer promessa nenhuma— possa ser admitida nalguma ocasião a entrada do público, e um ou outro passá-lo pela televisão, porque tenemos de usar as artes e as técnicas de confundir o adversário. Essa era uma questão chave.

Há uma série de idéias que surgiram ao calor da necessidade de preparar a equipa para esse encontro em condições tão desfavoráveis. Porque aquele era outro país, outro público, dezenas de milhares de pessoas para apoiar a sua equipa; elementos provocadores fartamente conhecidos; frio, para além da chuva; taco de madeira, uma questão que como eu disse havia 20 anos que não se usava neste país. Têm mérito ou não os nossos atletas por terem passado essa prova?

Eu dizia: O jogo em Cuba não é o importante. Cá devemos ter o máximo de generosidade com os visitantes. A educação do nosso público, o seu conhecimento a respeito do desporto, o seu respeito, foi uma coisa que causou admiração em um bom número de norte-americanos e jornalistas que vieram ao jogo. Porque este não é um povo de selvagens como alguns imaginam, confundidos pelas mentiras ianques. Este, sem dúvida, é um dos povos mais educados, mais cultos, mais instruídos do mundo, muito vivo, inteligente, digno, respeitoso.

Tínhamos a certeza de que no nosso estádio não haveria uma palavra de ofensa para o atleta visitante, isso nunca aconteceu. O respeito estrito, total para com os visitantes, a capacidade de aplaudir-lhes uma jogada, de escutar seu hino com respeito, de saudar com respeito a sua bandeira, é próprio de povos civilizados e cultos. E nós não temos aprendido apenas de desportos. Ficou demonstrado por investigações recentes que no nosso país as crianças da terceira, quarta e quinta classes têm um nível incomparavelmente superior ao nível de conhecimento que têm no resto dos países da América Latina.

Cuba está em primeiríssimo lugar no que se refere à qualidade da educação. Cuba está em primeiríssimo lugar em outras muitas coisas: em desporto, mais medalhas por habitante nas olimpíadas; na saúde, os indicadores de mortalidade infantil mais baixos do hemisfério, incluindo os Estados Unidos da América, salvo talvez o Canadá. Mas não é só isso; este país tem adquirido consciência, cultura geral e política, sentido de dignidade, de respeito.

É por isso que no nosso país nunca ninguém ofendeu um cidadão norte-americano, porque esta Revolução não se fez nem se desenvolveu na base de fanatismos nem dogmas de natureza nenhuma, muito menos de ódios e prejuízos, senão de idéias, de consciência, de cultura. Aprendeu a pensar. Levamos na alma o espírito revolucionário, e não é revolucionário aquele que insulta, mas sim aquele que sabe que tem a verdade e é capaz de sustentá-la e defendê-la. Assim é o nosso povo. Nenhum país do mundo pode dar o exemplo que pode dar Cuba; exemplo de hospitalidade e de respeito pelos visitantes.

Nunca inculcamos o ódio contra o povo norte-americano ou contra o cidadão norte-americano. Sempre temos assacado a responsabilidade ao sistema, em primeiro lugar ao sistema. É muito difícil que tal sistema possa produzir bons governos, salvo alguns brilhantes estadistas como Roosevelt, em momentos de crise profunda do capitalismo, auge do fascismo na Europa e grave risco de conflito mundial. Alguns, um bocado mais escrupulosos, outros menos. Alguns com mais ética, outros com menos; alguns mais inteligentes do que outros; alguns com mais consciência da história ou com mais sentido da responsabilidade; outros com menos ou nenhuma das duas coisas. O próprio sistema estabelecido nesse país, o seu poder, a sua riqueza, os seus fundamentos económicos e sociais engendram egoísmo, arrogância, prepotência e desenha governos quase exclusivamente para sustentar e estender um grande império. Mas nunca culpamos o povo norte-americano nem do sistema nem dos seus governos. Acontece que muitas das vezes eles não podem fazer nada, porém, têm poder para fazer muitas outras coisas. É a realidade.

Aquele encontro desportivo de 28 de Março em Havana serviu para que muitas pessoas nesse país tivessem uma visão directa de Cuba. Nessa mesma noite houve duas recepções —porque partiam na segunda-feira—: uma às 19.30, para todos os que vieram com a equipa dos Orioles, centenas de pessoas, e outra às 01.00, para um grande número de artistas, músicos norte-americanos que tinham estado a actuar com os músicos e artistas cubanos. Acreditem: Não se imaginam quantos elogios escutei nesse dia a respeito de Cuba! Quando passava a equipa norte-americana, todos os que estavam associados ao desporto, não escutava mais do que elogios, cheios de admiração pelos nossos atletas, para com o nosso público, para com o nosso povo. E não estavam a dizer mentiras ou coisas por adular, como soe acontecer muitas vezes; antes pelo contrário, quando a gente vê que exprimem esses conceitos com grande calor, é porque receberam uma agradável, e talvez para a imensa maioria, uma surpreendente impressão daquilo que é o nosso povo.

Depois passaram os artistas, os músicos e aconteceu exactamente a mesma coisa: tive que dar a mão a não sei quantas pessoas nessa noite, e cada uma parava um minuto ao meu lado para me falar dos músicos. Eles foram à recepção junto dos músicos cubanos: impressionante! Uns admiravam o desporto, e os outros admiravam a cultura do nosso país, a arte do nosso país, o desenvolvimento da música no nosso país, e não é à toa que existe uma Escola Superior de Arte e numerosas escolas de arte.

São muitos os terrenos em que o nosso país avançou extraordinariamente. E o mais meritório é que mesmo nestes anos tão difíceis nada disso decaiu, inclusive aquele famoso teatro destruído por um incêndio foi reconstruído e inaugurado recentemente. E está a ser reconstruído o antigo museu e se está a criar outro. Teremos dois museus excelentes. O nosso país possui um grande caudal de obras de arte que estarão ao serviço do povo para que seja cada vez mais conhecedor e culto nestas matérias.

São muitos os campos, para além do facto de não ter fechado uma só escola durante estes anos, e milhares e milhares de novos professores se incorporam ao ensino primário com categoria de licenciados. Não fechou nenhuma policlínica. Nestes anos de período especial ao redor de 30 000 novos médicos se incorporaram nos nossos serviços de saúde. Que outro país consegue fazer isso no meio do bloqueio e depois que desapareceu a URSS e o campo socialista? Esses são os grandes méritos do nosso povo. Acho que um dia como hoje devemos salientá-lo, porque esta é uma obra de todos.

Ora bom, devemos ser justos. Obtivemos uma vitória, uma grande vitória sobre os Orioles. Algumas agências de imprensa a classificam como uma esmagadora vitória. Não queremos classificá-la assim. Digo que foi uma vitória histórica, uma boa vitória, mas jamais usaríamos a palavra esmagadora. Não queremos esmagar ninguém e muito menos uma equipa graças à qual se pôde efectuar esse tipo de encontro entre duas concepções do desporto; entre uma grande equipa das Grandes Ligas e uma equipa da pequena Cuba (Aplausos), não profissional, graças ao esforço dos dirigentes daquela equipa, do accionista principal e reitor principal da equipa dos Orioles. Durante anos lutou até que conseguiu que esse encontro fosse aceite.

Muito se discutiu, não vão acreditar que foi fácil, visto que havia os que estavam em contra do encontro. Não me refiro neste caso aos provocadores tradicionais, mas a importantes políticos que se opunham a esse encontro. Outros o apoiavam. Nessa situação era difícil concertar a competência aqui. As receitas, para quê estariam destinadas e como seriam destinadas. Foram motivo de muita discussão, não pelo seu montante, mas pelas regulações do bloqueio, às quais se juntavam algumas exigências caprichosas, e não precisamente por parte da equipa dos Orioles, não. Aqueles que queriam criar obstáculos, pretendiam determinadas condições que eram inaceitáveis.

Os dirigentes da equipa dos Orioles e outros dirigentes das Grandes Ligas apoiaram o encontro. Discutiu-se bastante, e só ao redor de 10 de Março, duas semanas e meia antes do primeiro desafio se conseguiu dizer que existia um acordo no essencial, ainda que restavam algumas coisas por discutir. Foram vencendo-se todas as dificuldades e se efectuou o encontro. O segundo encontro se tornou difícil por diferentes pormenores, foi preciso vencer importantes obstáculos.

Um dos primeiros obstáculos reais era o facto de que tínhamos acordado com a equipa dos Orioles —e aceite pelas autoridades dos Estados Unidos— que nesses dois encontros cada equipa se deslocaria para o outro país em linhas aéreas do seu país. Portanto, era de supor que os cubanos viajaríamos nos nossos próprios aviões, em naves das nossas empresas aéreas.

De súbito surge um problema no qual ao que parece, não tinham reparado
—acontece que eles fizeram tantas leis, emendas e mais emendas, que criaram tais situações que são verdadeiramente absurdas—, o problema do risco que representava a chegada de dois aviões cubanos, onde enviaríamos os nossos atletas e demais membros da delegação, e que logo após a sua aterragem naquele aeroporto podiam ser alvo de reclamações por parte de qualquer bandido, qualquer um desses famosos indivíduos que foram cidadãos cubanos, donos de fábricas de açúcar, de grandes latifúndios, de indústrias e variadas propriedades, que marcharam para os Estados Unidos acreditando que a Revolução duraria apenas uns meses, em virtude dessa afamada lei Helms-Burton que lhes atribui o carácter de proprietários norte-americanos afectados; mais outras regulamentações, mais uma emenda que fizeram recentemente sem que ninguém soubesse disso, porque infelizmente, muitas das leis, como as do orçamento cada ano —e Alarcón8 sabe disso— têm 4 000 ou 5 000 páginas e ninguém as lê, e tudo o que for acrescentado com cheiro a algo contra Cuba nem se preocupam por ler; mais uma emenda, e outra mais outras são aprovadas de vez em quando. Armaram uma tal confusão nesse país, que hoje estamos a constatar as consequências.

Há pouco tempo ficaram cortadas as comunicações. Ah!, sim, pelas decisões de um juiz que atendia demandas de um grupo de advogados e familiares de três pessoas que faleceram por causa do famoso incidente provocado pelas avionetas —que não aconteceu junto das costas de Washington, nem da Flórida, de Cayo Hueso, mas a poucas milhas das nossas costas—, que não se cansaram de violar o espaço aéreo do país e, em ocasiões, voar sobre o território, questão que nenhum país do mundo admite ou pode admitir, e que foi motivo de inúmeras advertências de que podia originar um incidente, como efectivamente originaram. Os demandantes pediam quase 200 milhões de dólares de indemnizações, mais de 60 por cada uma delas.

Ah!, mas não é só esse caso. Qualquer sujeito daqueles que tenham deixado aqui propriedades e que passaram às mãos da Revolução, tem direito a procurar um juiz e estabelecer uma demanda para congelar, apreender ou confiscar qualquer propriedade de Cuba. Por esse procedimento apresentaram uma demanda para confiscar os fundos que nos têm que pagar pelas comunicações telefónicas, porque logicamente, nas comunicações telefónicas que se estabelecem entre os países, cada um recebe a parte que lhe corresponde pelos serviços que presta e, neste caso, tínhamos que oferecer os serviços telefónicos de forma gratuita, porque um juiz bandido e cúmplice conhecido das provocações contra Cuba, perante um governo impotente, em virtude de todas essas leis e emendas loucas que estabeleceram, resolveu fazer uma demanda e confiscar ou pretender confiscar os fundos; e entretanto os fundos estão congelados, os julgamentos passam, ou, mais do que os julgamentos, os meses passam e passam, sem que se saiba o que vai acontecer no fim.

Desse jeito congelaram as obrigações que deviam ser pagas no mês de Dezembro, e nós advertimos: Esses fundos não podem ser congelados, têm que pagar-nos, caso contrário, tomaremos medidas. Em efeito, não tivemos outro remédio que tomar as medidas necessárias e foram cortadas as comunicações telefónicas com as empresas dos Estados Unidos da América que atendiam este serviço, em virtude dos acordos aprovados pelo Governo dos Estados Unidos da América, estabelecidos com Cuba, salvo com uma que foi esquecida pelo juiz, ou pelos advogados, ou não sei quem, ainda não se sabe bem, e essa continuou, como linha, a cumprir com as suas obrigações de pagamento e a funcionar. Agora, as chamadas desde os Estados Unidos da América têm que ser feitas através da Espanha, da Itália, de Portugal, ou de outros terceiros países. Devem dar a volta não se sabe por onde, embora as ligações continuam, mas os serviços não têm a mesma eficiência e são mais caros para as empresas norte-americanas.

Temos uma empresa mista —onde, logicamente, a maioria das acções são do Estado cubano— que administra as instalações telefónicas do país. Essa empresa tem contratos com várias empresas norte-americanas. Os serviços foram interrompidos desde que o juiz lhes ordenou não pagar; o quê queriam? Que nós continuássemos a prestar os serviços? Os serviços foram cortados, era inaceitável. Não sei se haveria por aí um tolo que acreditasse que isso era incorrecto. O estúpido e o incorrecto seria realmente estar a prestar um serviço que nos custa trabalho, que nos custa energia e recursos, para que lá, um senhor juiz o esteja a congelar. De maneira nenhuma, veremos como será resolvido esse problema.

Mas não é só isso, há uma nova política: Confiscar praticamente as nossas patentes, as marcas mais prestigiosas, nomeadamente, o rum Havana Club, em virtude de uma demanda dos que mais dinheiro deram para a aprovação da Lei Helms-Burton, que é, precisamente, a empresa Bacardí. Apoderaram-se, porque quiseram, porque quiseram!, da marca do rum Havana Club, um dos mais prestigiosos do mundo, e têm estado a brigar com a empresa francesa que é parceira de Cuba na comercialização deste rum. Como vocês compreenderão não temos a menor possibilidade de fazer demanda nos Estados Unidos da América, nem muito menos encontrar um juiz que nos dê a razão, isso seria uma ilusão, nunca tem acontecido!

Agora estão a julgar um grupo de amiguinhos do governo dos Estados Unidos da América, membros da famosa Fundação Cubano Americana, pelo atentado que me iam fazer na ilha Margarita, por casualidade foram descobertos por um guarda-costas norte-americano que estava a procura de traficantes de drogas, estão na cadeia a serem submetidos a julgamento. Vamos ver o que acontece, porque por um lado aparecem os tipos em julgamento, e por outro, aparecem fotografados com altas personalidades políticas dos Estados Unidos da América, altas personalidades do governo.

Não, nesse país nunca um juiz nos deu a razão.

Os franceses brigam; porém, inclusive, recentemente não lhes deram a razão aos franceses, e a empresa francesa está a estabelecer recurso.

Bom, já não há reconhecimento da marca. É uma descarada violação das leis internacionais, uma violação de um direito reconhecido. Dessa mesma maneira o fazem ou o podem fazer com outras marcas. Espero que ninguém reclame se um dia começamos a fabricar Coca-Cola —talvez até a façamos melhor— e numa dessas pequenas latas coloquemos: Coca-Cola cubana, e talvez por curiosidade alguém a venda; há um italiano que também tem um negócio em parceria com uma empresa cubana, está a fabricar vinho e é de bastante boa qualidade.

Eu disse: Esse italiano estará doido! Não. Inclusive, as videiras ainda não estavam plantadas, já tinha a fábrica e a pôs em funcionamento; empregou o sumo concentrado de uva importado, enquanto desenvolve a plantação e fez um vinho de uva de boa qualidade. Disse que um dia vendê-lo-iam a não sei quanto, acho que a 100 dólares algumas dessas garrafas. Há pouco vendeu, numa exposição que fez, algumas garrafas em 80 dólares.

Algumas pessoas dizem que se Cuba fabrica um rum de tão boa qualidade e tem tanta fama pelo rum e pelo charuto, este vinho deve ser bom. Realmente o vinho não era mau, mas o facto é que vendeu o vinho; o prestígio é o prestígio, e a fama de um país é a fama de um país.

Talvez há alguém que diz: Caramba!, vamos experimentar a Coca-Cola cubana, ou então marcas de artigos de perfumaria ou outros muitos para vender naquilo que chamam mercado de fronteiras. Não, que não se queixem se começarmos a utilizar qualquer marca norte-americana para produzir e comercializar produtos. Não vamos ficar, logicamente, é de supor, de braços cruzados.

Uma coisa ainda pior: o cúmulo foi que a nossa equipa não podia viajar em aviões cubanos e isso pôs em risco seriamente os jogos; foi motivo de preocupação por parte das autoridades norte-americanas, porque nessa confusão, as teias de aranha que têm feito durante anos, vem-se impotentes para impedir para que qualquer mandrião estabeleça uma demanda contra os aviões cubanos.

Chegámos a esses extremos, e por esse caminho, realmente, nem sequer a bagagem de um funcionário de empresas ou da administração pública de Cuba que viajar aos Estados Unidos da América estará segura. Qualquer dia ao companheiro Alarcón, Presidente da Assembléia Nacional, que tem que viajar para discutir várias questões sobre os acordos migratórios e outras coisas, lhe será confiscado a sua bolsa de mão. É uma coisa incrível, uma coisa ridícula e insólita.

Agora imaginem o que significaria se for a equipa com toda a delegação, com os antigos atletas e os actuais, trabalhadores vanguardas, estudantes, jovens e lhes confiscarem o avião. Imaginam o escândalo mundial? Bom, pupilos no hotel. Sim, realmente, pupilos, não teriam avião para voltar, e possivelmente se teriam empenhado em voltar no seu próprio avião. Dar-lhe-iam alojamento, hospedagem —não sei quem pagaria— e possivelmente comida; talvez não teriam fome, nem apetite ou negar-se-iam comer aqueles alimentos, imaginam o escândalo?

Acho que o governo dos Estados Unidos da América estava realmente preocupado por este problema, porque não tinha solução para ele. Por várias razões nós preferíamos as nossas linhas aéreas, temos muita confiança nos nossos pilotos que falam espanhol, nos que prestam os seus serviços no avião, hospedeiras e outros trabalhadores das linhas aéreas. Preferimos os nossos que falam em espanhol, acho que influi psicologicamente viajar num avião do seu próprio país, dá mais confiança; sobretudo se for um país como este que sofreu experiências tão amargas como o brutal e monstruoso atentado em pleno vôo de um avião de passageiros civis, onde morreu a nossa equipa juvenil de esgrima completa, campeã de uma competição internacional e que voltava cheia de medalhas para Cuba. Realmente nos sentimos mais seguros quando a tripulação é nossa, há mais cuidado em qualquer sentido e mais vigilância para garantir a segurança dos aviões.

Pois, criou-se um problema muito sério. O que fazer? Para nós era humilhante, para além de injusto, ter que contratar numa empresa estrangeira um ou dois aviões para transportar a nossa delegação, e ficou em sério perigo a realização da viagem. Eles nos advertiram que esse perigo existia, que era praticamente seguro que isso ia acontecer, mas que não podiam fazer absolutamente nada; realmente o advertiram uns dias antes da viagem.

Tínhamos que tomar uma decisão, e achamos realmente que, era importante que este encontro fosse realizado. Muitas pessoas tinham trabalhado de boa fé por esse encontro; só os mais recalcitrantes inimigos de Cuba se opunham a ele. Meditamos muito. Embora fosse muito duro para nós, embora fosse muito duro renunciar a esse direito acordado, exercê-lo criaria inevitavelmente, pelas razões que expliquei, um conflito sério. Seria muito triste que o que foi concebido como um intercâmbio de amizade, ou encontro desportivo amistoso —embora não seja o primeiro, houve muitos—, se tornasse num conflito, num problema que só faria felizes os que se opunham ao encontro com raiva. Agindo com toda a serenidade e responsabilidade necessária, resignamo-nos à ideia de renunciar a fazer a viagem nos nossos aviões e contratar um avião de uma linha estrangeira —neste caso canadense— para fazer a viagem. Contratamos o avião aceleradamente.

Apareceu um avião grande, de mais de 300 passageiros, em vez de dois pequenos; na verdade, eu haveria preferido dois aviões mais pequenos. A gente treme quando pensa na carga que levava esse avião: para além da equipa, mais de 100 atletas destacados, e inúmeros colegas, trabalhadores vanguardas, premiados, jovens destacados, estudantes destacados. Na verdade, quando vi descolar aquele aparelho haveria preferido dois aviões mais pequenos.

Bom, o problema ficou resolvido. Mas vejam a situação que existe. É inadmissível esse conjunto de medidas que foram tomadas contra o nosso país, que também não é um país indefeso, o nosso país se sabe defender. Estão a criar precedentes que um dia podem estar contra eles. Nós também temos advogados capazes, temos moral alta, muitos recursos morais e legais para encarar essa feroz ofensiva contra os interesses do nosso país.

Na verdade, devemos dizer o seguinte: As autoridades —isto é, o governo, embora lá há não se sabe quantos governos, quantos interesses e quantas políticas encontradas— agiram de boa fé nesta questão.

Dentro dos Estados Unidos não era unânime o critério, mas sabemos que estavam interessados em procurar alguma solução para este problema; nós pela nossa parte, cooperamos nessa solução.

Na verdade, no fim houve alguns problemas com os vistos. Quase é criado outro obstáculo que, nesse caso, haveria sido insuperável. Faltavam os vistos de mais da terceira parte da delegação, e isso não o podíamos admitir, porque não havia argumento, não havia razão, não havia absolutamente nada que pudesse justificar aquilo, e teríamos tomado a determinação de que se os vistos solicitados não fossem concedidos, a delegação não viajaria.

Entre outras questões, falava-se do tempo em que se tinha apresentado, e o tempo dos últimos vistos pedidos era de 72 horas aproximadamente antes do jogo. E nós cá, aquando do encontro em Havana, autorizamos em poucas horas a aterragem de aviões que no último momento quiseram vir; vistos pedidos com só seis horas de antecedência. Não podia existir o pretexto do tempo.

A nossa delegação ficaria desintegrada antes de partir para Baltimore, quando todos os companheiros tinham sido avisados, tinham-se preparado as condições de roupa e tudo o que era necessário para uma viagem curta; mas, sobretudo, o entusiasmo de dezenas e dezenas de companheiros, antigos desportistas, jovens, estudantes e trabalhadores que estavam felizes porque lhes deram a possibilidade de estar lá.

Dissemos: O que aconteceu? Por ventura são pessoas que cometeram delitos, crimes, faltas? Há algum que se lhe pode imputar acção imoral ou ilegal que justifique a negativa de visto? E coisa realmente extraordinária —bom, houve que insistir—, finalmente disseram que haviam alguns companheiros impugnados. Dissemos: Qual o companheiro impugnado? Ah!, não, que Ordaz9 não pode viajar. Que Ordaz não pode viajar? O que é que Ordaz fez?

Conheço Ordaz muito bem, porque o vi a construir hospitais durante a guerra, a trabalhar com as suas mãos na construção de hospitais de palha e madeira que salvaram muitas vidas, e depois do triunfo da Revolução tem trabalhado 40 anos nesse hospital que no capitalismo era um horrível armazém de doentes mentais, onde os doentes morriam massivamente, e hoje é um dos centros de atendimento mental mais prestigiosos do mundo —ouçam bem o que estou a dizer: um dos mais prestigiosos e reconhecidos do mundo—, admirado por muitas pessoas. Quem o dirigiu durante quatro décadas é uma das pessoas mais humanas, respeitadas e queridas por toda a população. Devolveu a saúde a inúmeras pessoas. Caracterizam-no a conduta irrepreensível e a consagração total e absoluta ao seu nobre trabalho. O que fez Ordaz para merecer essa exclusão? Será porque uma bandida, filha de um torturador batistiano10 que assassinou dezenas de jovens antes de se refugiar nos Estados Unidos da América, teve a infâmia de dizer que esse hospital é um centro de torturas? Nojo e repugnância produzem tais calúnias e ainda mais repugnante é que há pessoas que acreditam nelas ou se submetam ou acobardam perante tais afirmações, sabendo inclusive que são totalmente falsas. Era tão indignante, que aquela exclusão não podia ser admitida.

Tínhamos o dever moral de excluir logo qualquer um a respeito do qual se pudesse fazer uma imputação de ter cometido um crime, ser um contrabandista de drogas, um vicioso, um imoral; mas resignar-se a aceitar que não assistisse um companheiro como o que tem dirigido esse hospital durante 40 anos, era impossível. Perguntava-me: Será porque o povo o elegeu membro da Assembleia Nacional? Respondi-me: Mas, Fernandez também o é; também o são Linares e Pacheco, atletas da equipa. Não era possível.

As primeiras dificuldades apareceram com Alarcón: "Faz favor, é melhor retirar a solicitação de visto." Preocupava-lhes também Fernández; porém ainda mais Alarcón, pela sua responsabilidade. Muito bem. Alarcón? Não há problema nenhum, respondemos, Alarcón está em Londres, quando voltar discutiremos com ele esta questão. Ele não ia pela sua conta, tinha sido convidado por vários dirigentes das "Grandes Ligas". Vamos convencê-lo de que é conveniente renunciar ao convite. Resolvido o problema de Alarcón. Restava o de Fernández, que era presidente do Comité Olímpico, mas surgiu a questão dos aviões, que era mais complexo do que o problema de Fernández. Nós tivemos o gesto de solucionar o problema dos aviões, mas o pior dos problemas foi aquele que se apresentou no último momento com os vistos da delegação. Era evidente que alguém com desejos de incomodar estava a fazer o que desejava.

Reuni-me com todos os companheiros da delegação. Foi, realmente, uma reunião emocionante. Os atletas já estavam seleccionados. Isso foi no sábado, no mesmo dia Primeiro de Maio, depois daquele grandioso desfile, expressão do espírito de luta do nosso povo; depois desse desfile, a delicada confusão dos vistos ocupou quase todo o tempo. Aconteceu por volta das 15:30 horas. A delegação devia partir no dia seguinte de manhã. Tínhamos convocado com antecedência uma reunião com a delegação às 18:00 horas. Eu decidi colocar o problema aos atletas e a todos os membros da delegação: Venho despedir uma delegação que ainda não sei se vai viajar ou não. Existem estes problemas. Expliquei-lhes muito bem o que estava a acontecer com os vistos. E disse: Ou vamos todos ou não vai nenhum (Aplausos). E todos os membros da delegação e todos os atletas fizeram o que vocês estão a fazer, aplaudiram com uma força tamanha. Chegamos ao extremo de não saber quando sairiam, mantendo a esperança de que o pudessem fazer, porque a nossa posição era tão razoável que estávamos à espera de uma solução.

Bom, o plano estabelecido era sair às 10:00 horas desse dia; mas não se conseguiu sair nessa hora. Na hora que estávamos reunidos com a delegação, na tarde anterior, não se podia saber. Havia um treino programado para o domingo à tarde em Baltimore; se esses vistos que faltavam não chegavam antes das 10:00 horas, perdíamos o treino cá e lá. Decidiu-se fazer o treino no domingo de manhã em Cuba.

Quando estávamos reunidos, das 18:00 até às 21:00 horas, no sábado, ainda não havia uma solução. Fizemos um plano: Se às 24:00 horas não temos resposta, suspendemos a viagem das 10:00 horas. Se às 12:00 horas no domingo não temos resposta, suspenderíamos a viagem à tarde, e esperaríamos até às 10:00 horas da segunda-feira. Perguntei-lhe aos atletas e em especial aos "pitchers": No caso de sairmos às 13:00 horas do dia do jogo, e chegarmos ao hotel às 17:00 horas, depois da viagem, e fosse necessário sair do hotel para o campo desportivo para fazer um breve reconhecimento do terreno e preparar-se para o jogo, vocês acham que poderiam manter a mesma eficiência, o mesmo controlo? Não os prejudicaria? Todos responderam: "Podemos fazê-lo; ainda que tenhamos que fazer uma longa viagem às 13:00 horas, estamos dispostos a ir directamente para o estádio e estar presentes lá."

Portanto, reservamos a possibilidade de esperar até à segunda-feira às 10:00 horas, dispondo de só três horas para viajar até ao aeroporto, fazer os trâmites mínimos e pegar o avião. Era possível que a nossa equipa, para além dos problemas que apontei, tivesse que viajar, e do aeroporto tivesse que continuar para o estádio. Estávamos dispostos, se houver uma resposta razoável, a cumprir com o encontro marcado e abrigávamos a esperança de que se reflectisse sobre o tema. Podíamos esperar.

Na verdade, a única consequência que teve, foi que em vez de sair de manhã, saímos na tarde do domingo, às 17:00 horas —digo saímos porque eu fui com eles, espiritualmente, não é?

(Um membro da delegação disse: "Gostávamos imenso que isso tivesse acontecido.")

Eu fazia mais por vocês desde aqui.

Saíram às 17:00 horas e chegaram às 21:00 horas ao hotel, foram logo dormir, e sei que dormiram ao redor de 12 horas, porque isso era o mais importante. Fizeram o treino de manhã, foram à vila, almoçaram, descansaram um bocado, foram para o aeroporto, subiram no avião, chegaram na hora calculada ao hotel, jantaram, e foram dormir, pelo menos 12 horas —isso estava presente nas batidas de ontem — depois do almoço também descansaram, e depois foram para o estádio.

Aconteceram todos esses problemas. Por fortuna, já por volta das 22:30 horas no sábado, estávamos na atividade da CTC quando chegou a notícia da resposta positiva de que todos os vistos que faltavam seriam concedidos.

Ordaz, por casualidade, tinha estado no ano passado em Washington, nada menos que para receber um prémio da Organização Pan-Americana da Saúde. Não houve nenhum problema com o seu visto. Que coisas tão horríveis teria feito Ordaz para que não pudesse ir a Baltimore, quando a Organização Pan-Americana da Saúde lhe entregara em Washington um prémio. Sem dúvida aquilo não tinha nem pés nem cabeça.

Comunicaram-nos que fariam um grande esforço durante a noite toda para que às 10:00 horas estivessem prontos os vistos; isso já nos obrigou de qualquer maneira a utilizar a variante de fazer o treino em Cuba, de manhã. Pois, como tinha dito, se deslocávamos o pessoal desde cedo para o aeroporto e se os vistos se atrasavam, íamos perder o treino tanto aqui quanto lá. Dissemos: O treino aqui, de manhã, a viagem à tarde. E efectivamente, eles cumpriram, deram todos os vistos.

Na verdade, tenho a impressão, de que alguém adoptou aquela decisão absurda; mas não foi tomada aos mais altos níveis do governo, e logo após conhecer a notícia muitas pessoas lá, legisladores, personalidades influentes e os próprios dirigentes das "Grandes Ligas", fizeram algumas diligências e explicaram. Na realidade, essa resposta demorou por volta de seis horas, mas ainda nesses termos imprecisos de que fariam um esforço para que estivessem na hora apontada. Essa é a história.

Temos que ver de onde saiu a absurda ideia de truncar um terço da nossa delegação sem nenhum argumento com que pudessem justificar, e foi aí onde todos juntos tomaram a decisão de não aceitar nenhuma exclusão que não fosse justificada. Não foi uma decisão do governo, foi discutida e aprovada com todos eles.

Antes de se deitarem às 24:00 horas, informamos-lhes que o problema estava resolvido, mas que não era conveniente sair de manhã pelos riscos que entranhava qualquer dilação na entrega de vistos. Foi o último obstáculo a ser resolvido.

É honesto admitir que as altas autoridades norte-americanas, que se viram envolvidas em dificuldades por uma razão ou por outra, mantiveram em todo momento o propósito de que o encontro fosse realizado e estavam decididas a respeitar no possível o acordado; a questão dos aviões ficou impossível.

Devemos salientar que as autoridades da alfândega em Baltimore deram todas as facilidades, de modo rápido, para que os nossos atletas pudessem estar às 09.00 horas no hotel, e as autoridades encarregues da segurança deram todas as facilidades e cooperaram. Foram anunciadas muitas coisas horríveis e ninguém dava por isso. Meter medo num atleta ou num membro desta delegação é absolutamente impossível.

O Prefeito de Baltimore —há vários anos que tem essa responsabilidade, uma magnífica pessoa, visitou o nosso país; estivemos juntos no dia do jogo em Havana— foi das pessoas que se mobilizaram também para encontrar uma solução ao problema, cooperou ao máximo.

A população de Baltimore se mostrou hospitaleira, respeitosa, muito interessada no partido, e de que se desenvolvesse em paz. Estavam interessados no desporto, não nos grupelhos de politiqueiros que queriam perturbar a ordem e que, efectivamente, tentaram em mais de uma ocasião. Sobre esse tema estava interessado um companheiro há um bocado.

O senhor Peter Angelos, principal accionista e reitor dos Orioles se comportou de um modo muito especial, excelentemente bom e valente. Tanto no período anterior e durante os anos que esteve a lutar pela realização deste encontro, como no esforço realizado para obviar dificuldades e levar a cabo o encontro em Havana, ainda quando estavam muito próximos de começar o seu campeonato, ainda quando este jogo ia ser efectuado no meio da série, fez o máximo esforço, pôs todo o seu empenho. Saiu do nosso país realmente agradecido, grato pelas atenções, pela hospitalidade. Foi o primeiro na luta para que este encontro se efectuasse.

Lembro-me que ele estava ao meu lado, à direita, durante o jogo aqui em Havana, e quando o jogo ficava duro, via-o realmente tenso; não se sabia quem ia ganhar aquele jogo, e finalmente eu disse: "Bom, depois de todos os esforços que fizeram seria uma pena..." Eu, a brincar, lhe disse: "Baixarão as ações da empresa se perderem o jogo." Desejávamos ganhar o jogo, mas perdemos. Ficava aliviado ao pensar: Este jogo é melhor que o ganhem eles, é quase um prémio merecido por quem lutou tanto, muito mais do que nós, por esse jogo. Lá é que devemos ganhar o jogo. É lá. Ele teve uma boa atitude, e também outros membros, personalidades e dirigentes das Grandes Ligas.

A multidão que lá estava foi respeitosa, manifestou o seu entusiasmo. Também a nossa gente levou trombetas e címbalos, etc., mas com um princípio: não fazer nada que possa desagradar ou entorpecer o trabalho dos atletas. Se houver um "home-run", enquanto correm pelas bases podem tocar todos esses instrumentos, ou entre uma etapa e outra podem tocá-los todos, e escutamos cornetas e de tudo aqui. Acho que tinham uma roda metálica (Dizem-lhe que haviam cornetas). Sim, as cornetas. Lá estava Armandito, o lavandeiro, entre os mais ilustres membros da delegação a dirigir a orquestra (Aplausos).

Mas, acima de tudo, educados; por em cima de tudo, educados. Não fazer nada que esteja em contra dos costumes. Se o costume ali é ficar calado quando a bola está em jogo, toda a gente calada, em silêncio. E fiz a recomendação de que inclusive animem e façam todo o barulho possível no momento em que não estejam a incomodar a ninguém. Não façam nada que possa lastimar a sensibilidade daquele público. Foi a primeira questão.

Em segundo lugar, não deixar-se provocar, não dar-lhes o prazer de realizar ali um ato de força. Se passarem junto de vocês, fiquem calados; se dizerem uma asneira, caladinhos. Máximo de serenidade, de calma. Vocês conhecem bem a nossa gente, que não gosta de ser insultada, e até nisso lhes falei: Se houver um insulto, continuem o seu caminho, ouvidos surdos, excepto se forem agredidos fisicamente. Se forem agredidos fisicamente, então defendam-se com todas as energias necessárias, e assim se fez (Aplausos).

Toquem a buzina, que ainda não a escutamos soar (Tocam a buzina). (Aplausos) Parece um comboio, uma locomotiva (Tocam a buzina mais uma vez). Olha, agora não estamos entre etapas, cá estamos com o taco na mão (Risos e aplausos). Pedi apenas uma vez, não a toque mais.

Comportaram-se com toda a educação necessária; animaram à equipa. Eram 300 pessoas e parecia que eram milhares. Além disso, ao redor de 3 000 residentes nos Estados Unidos, de diferentes nacionalidades, inclusive cubanos, foram ao estádio e apoiaram.

Disse-lhes que o público foi muito respeitoso, e nas diferentes ocasiões em que determinados indivíduos se lançaram ao terreno para realizar provocações, o público fez vaias, condenou-os. Foi uma estupidez, como sempre, desses senhores que acreditavam que ganhariam alguma coisa com isso, e o que ganhavam era a antipatia dos amadores.

O caso ao qual fez referência o companheiro aqui, foi aquele em que um indivíduo desses enlouquecidos saiu a correr em direcção do árbitro que estava na segunda base. Por aí estão as imagens. Na televisão, por onde todos estávamos a assistir o jogo, não aparece a cena inicial. Mas depois a CNN, que tinha tomado uma vistas do momento em que o indivíduo está chegando junto do árbitro, transmitiu-as.

Estávamos a analisá-lo depois que vimos aquilo, isto é, o lugar exacto onde acontece o incidente, a atitude agressiva com que um indivíduo com um cartaz chegou desde atrás até o lugar onde estava o árbitro, e vai para em cima dele, vê-se assim —aí estão as imagens, recomendei que as publicassem, conversei com ele para que as visse, e acho que já a televisão passou as imagens—, esse pedacinho em que ele chega e como começa uma espécie de luta greco-romana entre o árbitro e o tipo. Inclusive, o árbitro conhecia algumas artes marciais, porque chega a altura em que o provocador está a aplicar uma chave nele, mas, homem rápido e talvez um verdadeiro prospecto em matéria de judo ou de luta greco-romana —sei lá o que será— (Aplausos), conseguiu tirar o tipo das costas, controlá-lo, a pesar de que o tipo tinha bom peso, e colocá-lo "delicadamente" (Risos e aplausos) no "capim". Na verdade, muito elegante. Tinha-o segurado ali, sem um soco, nem um pontapé, um verdadeiro campeão da equanimidade, a pesar que eu sei, porque via-o, que estava realmente indignado e irritado.

Não se pode conceber que alguém entre no terreno até a segunda base, onde estava o árbitro, para o agredir ali. Se levasse um papelzinho... Mas não, foi praticamente a esfregar-lhe no rosto, e na foto vê-se tudo claro. Ora bom, quanta equanimidade teve o árbitro. Portanto, dominou-o e depois delicadamente lhe entregou à polícia aquele trapo que o outro trazia. Esse foi o incidente. O árbitro manifestava que a polícia não fez o que devia fazer. Eu lhe disse que era preciso colocar-se no lugar daquela polícia, a tolerância que sempre teve essa gente: atiram-se desde qualquer lugar e apanham por surpresa a polícia que não pode impedir que eles façam algumas dessas estupidezes, porque, bom, o tipo chegou até a segunda base. O que fez o público? Dedicou uma vaias para aquele cavalheiro.

Espero que se façam umas boas fotos daquele arte marcial com que o nosso árbitro impôs a disciplina perante o agressor. Acho que depois a polícia agradeceu a sua colaboração.

Os desportistas estavam a observar, mas calmos, cumpriram tudo estritamente. Os Orioles têm confiança nos nossos árbitros e isso nos honra, visto que viram o nosso árbitro de "home"11 aqui em Havana e quiseram que fosse o árbitro principal do jogo em Baltimore. Por que? Pela seriedade, a imparcialidade nas decisões. Têm uma grande confiança nos nossos árbitros pela sua imparcialidade, que é um princípio do nosso desporto.

Foi o único incidente visível em que os provocadores fizeram o ridículo. Não nos podem culpar disso, porque é um árbitro que é atacado no lugar onde tem que trabalhar. Não foi na primeira base, nem na terceira, nem na linha do "right field" ou do "left field", foi no centro do terreno.

Essa é a história. Mas devemos ver o que tem a televisão, ainda que apenas se vê o momento em que ele chega, é muito pouco, muito breve. Não obstante, toda aquela batalha que se travou está completa, deve ter sido um minuto. Acho que pelo menos durou um minuto, até que tudo ficou em ordem e ele foi para o seu lugar.

Tenho notícias de que a polícia arrestou um grupo dos que se lançaram em mais de uma ocasião para o terreno. É possível que sejam postos em liberdade em breve, isso não conta, mas um gesto é um gesto: prender quatro bargantes desses que estão a violar todas as normas e que põem em ridículo às autoridades, os dirigentes. Isso não lhes interessa.

Todos os que lá estavam tinham interesse em que o jogo fosse um sucesso, tinham o interesse de ver um espectáculos desportivo, embora viram um de luta livre de graça no meio do partido (Aplausos). Essa é a história.

Vamos acrescentar uma coisa. Vocês viram que assistiu uma delegação numerosa. Dir-se-ão, quanto dinheiro tem gasto o país para enviar uma delegação tão numerosa! Nas conversações com o senhor Peter Angelos, que sempre ofereceu colaboração, discutia-se muito para onde iriam parar as receitas. Finalmente acordaram que cada um decidisse sobre as suas receitas, as nossas eram poucas, visto que, ora bom, lá a entrada é caríssima. O mais barato são 10 dólares, de 10 a 35 dólares os 48 000 assentos. Portanto, só por esse conceito é arrecadado aproximadamente um milhão de dólares. Depois estão as arrecadações pela publicidade, pelas numerosas cadeias de televisão, anúncios, tudo. Cá não tínhamos nada disso; não tínhamos nem tempo para o preparar. Cá as receitas que obteve a televisão apenas davam para cobrir as despesas, mas ali as receitas eram elevadas e foi combinado que uma parte da arrecadação fosse destinada a pagar as despesas da viagem da nossa equipa e da nossa delegação; isto é, os Orioles pagaram os custos do avião, a passagem de ida e volta, o tempo que lá esteve. Posso-lhes informar que os serviços desse avião grande custaram ao redor de 200 000 dólares. Da mesma forma, eles custearam todas as despesas do hotel, todas as despesas que lá em Baltimore fizeram. Portanto, não custou nem um tostão a viagem desta digna e numerosa delegação. Ninguém pense que o país gastou um tostão.

Muito bem. Cumpriram tudo estritamente, tiveram imensas atenções, convidaram uma delegação de crianças desportistas, jogadores de beisebol de duas categorias, de duas idades, para um jogo. Combinaram isso ou eles próprios propuseram que jogassem entre si? (Informam-lhe que a proposta foi deles). É bom que haja uma competência entre atletas já formados, mas entre as crianças não iam formar uma equipa aqui e outra lá. Achei boa a ideia de que se misturassem. Eles também trouxeram crianças aqui, foram recíprocos ao convidar as nossas.

Os atletas dos Orioles se comportaram de forma amistosa, respeitosa, decente, com os membros da nossa equipa, indignados também com aquelas provocações, e particularmente aquando do incidente que provocou o indivíduo que chegou até onde estava o árbitro. Devemos reconhecer tudo isso. E julgo que a torcida dos Estados Unidos teve a oportunidade de assistir um grande espectáculo. Em todas as ilhas das Caraíbas, na América Central, em todas partes, é possível que até na Europa também hajam amadores, na Itália, na Holanda, no Japão, imagino que em todos esses países, dezenas e dezenas de milhões de pessoas assistiram esse jogo histórico.

Não fomos à procura de coisa nenhuma, isso está claro: nem procurámos vantagens económicas, nem procurámos vantagens políticas de nenhuma índole; nem procurámos publicidade. Mais publicidade que a que nos fizeram os inimigos da Revolução com as suas tolices durante 40 anos, não é possível fazer. É como um boomerang que volta contra eles. Quando os norte-americanos vêm aqui e assistem um partido, e vêem um povo como aquele que conheceram no primeiro jogo, ficam desapontados; quando reparam na qualidade da nossa equipa, o comportamento dos nossos atletas, ficam assombrados, sentem mais respeito pelo nosso país.

Nós víamos esse evento, que há muito tempo se vem organizando, digamos, como um facto positivo, construtivo, pacífico, e acho que o encontro de ontem foi assim.

Não devemos gabar-nos pelo êxito, porque nos enfrentamos a uma equipa excelente, duma grande quantidade de "batedores de Home-Run", um deles, na temporada anterior fez 50 "home-run". É uma equipa forte, de grande força na batida, de muitos e excelentes lançadores. Lutaram em boa lide, igual do que nós, e neste caso, vencendo grandes obstáculos —dos quais já falei—, de todo tipo, obtivemos uma vitória convincente.

O que indica isto? Que não podemos ficar confiados, que estamos a começar, que devemos desenvolver mais e mais atletas, que devemos aperfeiçoar as nossas qualidades, as nossas capacidades neste desporto; que ainda quando todos os ramos desportivos foram motivo de satisfação para o nosso país, neste caso os nossos atletas e seus acompanhantes foram protagonistas de um acontecimento históricos em todos os sentidos, e o que deve ser dito e salientado a respeito desse encontro é que significou um facto construtivo, um exemplo de actividade pacífica e civilizada.

Passará muito tempo antes de serem superadas as diferenças com esse país; mas é muito importante que esse país nos respeite e aprenda a nos respeitar.

Recentemente levamos a cabo uma batalha muito dura em Genebra, onde eles obtiveram uma vitória vergonhosamente estéril, essa é a realidade. Umas horas antes da votação Cuba ainda contava com cinco votos mais do que eles. Na última noite e na madrugada, quase a ponto de sofrer uma derrota humilhante, do qual se aperceberam, viram-se obrigados a exercer brutais pressões sobre numerosos países do Terceiro Mundo, e conseguiram que cinco países que iam votar em favor de Cuba se abstivessem, e um que ia se abster votou em contra. Isto, junto do apoio unânime de todos os membros da NATO e alguns outros aliados incondicionais, determinou a diferença de um voto em seu favor que conseguiram obter. Coloco isto como exemplo, vocês sabem do respeito que Cuba tem, e do apoio que Cuba tem no mundo.

Acho que este momento é mais importante do que nunca para que se produzam factos como o encontro de ontem em Baltimore, que pode servir de exemplo, de inspiração e de prova de que agindo de maneira responsável e razoável se podem conseguir coisas, podem dar-se passos importantes em prol do entendimento, o respeito e a paz entre os povos.

Este é um evento desportivo, tem uma importância de que já lhes expliquei, na ordem dos conceitos, das idéias.

Há um outro conflito muito mais importante. Neste momento na Europa estão realizando brutais ataques aéreos; brutais e destruidores, no mesmo coração da Europa, que originam desolação, morte e terror numa população de milhões de pessoas. Agravaram os conflitos religiosos e étnicos de uma forma tremenda, os que junto do terror das bombas e da guerra causaram emigrações massivas de centenas de milhares de homens, mulheres e crianças. Verdade é que em véspera do próximo milénio a Europa, isto é, a NATO e os seus membros, incluídos os Estados Unidos da América, estão debruçados no que pode ser qualificado, gostem ou não, de genocídio, porque cortar a electricidade e a calefacão no meio do Inverno, numa noite só, a um milhão de pessoas, cortar todas as comunicações, todas as fontes de energia e de transportação, destruir os centros civis que oferecem serviços vitais para toda a população e transformar em ruínas todos os meios de vida criados por uma nação, enquanto, na sua fúria destrutiva, por engano ou irresponsabilidade, matam directamente ou ferem milhares de civis, enquanto destroem os seus meios de informação e intensificam a guerra psicológica para tentar rendê-la baseados na tecnologia e nas bombas, é, sem réplica possível, um grande genocídio.

A Europa está envolvida num conflito perigoso para si própria e para o mundo. Está a ser plantado um precedente gravíssimo de desacato às leis internacionais e à Organização das Nações Unidas, complicando a situação cada vez mais.

A nossa opinião é que nessa situação só é possível uma solução política e não militar, baseada no respeito pelos direitos de todas as nações dessa região, as suas religiões, as suas etnias e culturas; uma solução para os sérvios e para os cossovares. Tenho a mais absoluta convicção de que esse problema não será resolvido pela força. Tenho a mais absoluta certeza de que todas as tecnologias militares chocam contra a vontade de resistência de qualquer povo decidido a lutar. Tenho a convicção, como a temos no que diz respeito ao nosso próprio país, de que nenhuma potência, por poderosa que for, poderá render um povo disposto a lutar.

Os atacantes da Sérvia acreditaram que se tratava de um simples passeio, de uma aventura de três dias, e que os sérvios se iriam render depois das primeiras bombas. Já passaram mais de 40 dias, foram lançadas milhares e milhares de bombas, e nós que lá temos três representantes diplomáticos de Cuba, com um telemóvel —única forma de comunicação— para saber o que está a acontecer em Belgrado todos os dias, e depois de cada noite de dantescos bombardeamentos, não constatamos nenhum sintoma de enfraquecimento na sua vontade de luta. Explicam-nos a extraordinária moral do povo sérvio em geral, e do povo de Belgrado no particular, onde constantemente cruzam aviões a baixa altura, atroando os céus, plantando o terror, traumatizando as crianças —centenas de milhares e milhões de crianças e adolescentes, talvez para toda a vida—, jovens, mulheres e idosos, pelo barulho das explosões e os incessantes ataques que anunciam cada vez mais violentos. Por esses caminhos, reitero mais uma vez, não conseguirão resolver o problema. A minha convicção é de que não há outra alternativa que procurar a solução política; e é possível, usando um pouco de sentido comum e racionalidade.

Quando constatamos que tinham começado esses ataques, compreendemos imediatamente que seriam inúteis, que provocariam uma catástrofe.

Conhecemos a história da Segunda Guerra Mundial, a invasão da Iugoslávia pelas tropas nazis e como resistiram durante anos. Agora, os atacantes nem sequer querem empregar tropas terrestres, visto que acreditam que as bombas inteligentes e os mísseis dirigidos resolvem o problema, e o problema não se resolve com mísseis, nem com bombas, nem com tropas terrestres, porque um povo decidido a lutar, luta em todas partes e desde todas as direcções. Cada casa pode tornar-se numa fortaleza; cada homem ou mulher em combatentes isolados; não é uma questão de divisões blindadas, nem de grupos de artilharia, nem frotas navais e aéreas.

Sabemos muito bem como é que devemos levar a cabo a luta no nosso país em condições similares, e aqui o sabem milhões de pessoas, nenhum desses procedimentos lhes servirá para nada. Ninguém pode conquistar este país. Ninguém pode conquistar nenhum país disposto a lutar. É um erro. Isso já passou no Vietname, e apenas repararam isso quando perderam 50 000 vidas, depois de matar 4 milhões de vietnamitas. Ora bom, têm uma situação similar ali e que pode ficar complicada seriamente se os sérvios de todos os lugares ficarem solidários com os sérvios da Sérvia. A situação política da Rússia tornar-se-ia insustentável em tais circunstâncias, porque são fortes os vínculos étnicos entre ambos os povos.

Os outros povos tirarão as suas conclusões. Imagino que os russos tirem as suas, de tudo aquilo que lhes aconteceu e de tudo aquilo que lhes pode acontecer no futuro, vendo como chovem as bombas de uma aliança militar cada vez mais arrogante, soberba e enfurecida pela resistência que não imaginaram. A Europa e a NATO tornaram-se em reféns de um factor subjectivo: a decisão que adoptarem ou não os sérvios, é de supor que não sejam propensos a se render depois da destruição total do seu país, de resistir até ao final. Para nós era óbvio que ia acontecer o que está a acontecer, e isto não significa estar contra os direitos de ninguém, apoiamos tanto os direitos dos sérvios quanto os dos cossovares.

Recentemente, quando nos informaram que iam utilizar a base naval de Guantánamo para albergar 20 000 refugiados de Cossovo, imediatamente, e acho que foi a única vez na vida em que concordamos com alguma coisa feita pelos Estados Unidos nessa base; não quer dizer que tenham solicitado a nossa autorização ou o nosso consenso, realmente tiveram a simples amabilidade de nos informar que iam fazer isso, e explicaram os propósitos, que se tratava de um tempo limitado, até ficar resolvido o conflito, etc.. E o que menos esperavam —não conhecem este país— foi a nossa resposta: Não só estamos de acordo com que se alberguem ali 20 000 refugiados do Cossovo, ou ainda mais, senão inclusive, estamos dispostos a cooperar na medida das possibilidades no atendimento desses refugiados, oferecer os nossos serviços hospitalares caso forem necessários, médicos, qualquer cooperação que estiver ao nosso alcance.

Finalmente, não os enviaram, e foi inteligente rectificar aquela decisão, porque iriam receber muitas críticas, visto que na realidade os da NATO, que tantas bombas lançaram ali, nenhum deles quer verdadeiramente receber refugiados. Há muita xenofobia e egoísmo no Ocidente. Disseram que iriam receber 80 000 ou 100 000 e receberam uns poucos milhares, porque não querem ter refugiados cossovares nos seus próprios territórios; não fizeram nada significativo. Era um erro político; mas nós fomos informados e dissemos: De acordo.

Vou-lhes dizer ainda mais: há uma instituição humanitária internacional que se dedica ao atendimento dos refugiados, chama-se Comunidade de São Egídio, que tem relações com a Igreja Católica e trabalha muito em actividades de apoio cada vez que há problemas de refugiados.

Nós condenamos energicamente os ataques brutais e genocidas que são realizados contra a população sérvia, porém, compartilhamos os sofrimentos daquelas centenas de milhares de refugiados, como resultado de uma série de factores, não apenas históricos, de longa data, mas também da desintegração da Iugoslávia que viveu em paz durante 40 anos depois da Segunda Guerra Mundial.

Aqueles que desintegraram Iugoslávia e estimularam os conflitos nacionais étnicos e religiosos são responsáveis, em grande medida, daquilo que ali está a acontecer agora. A responsabilidade que lhe cabe a Europa nesse processo é conhecida por muitos dos seus estadistas e homens públicos. Os que agora sem pensar acordaram utilizar toda a sua imensa e sofisticada tecnologia militar contra o que restava da antiga Iugoslávia, têm uma responsabilidade muito grande com o que ali está a acontecer, e com os sofrimentos dessas centenas de milhares de refugiados.

Quando colocamos soluções, colocamos soluções para todos: para refugiados, para cidadãos do Cossovo, para os sérvios que lá moram e para os de outras nacionalidades, e para todas as nações que conformam o que hoje resta da Iugoslávia. Isto é, do ponto de vista humano ficamos solidários com os sentimentos de todos os que lá estão, e é assim de tal modo que a esta Comunidade, a de São Egídio, cujos dirigentes nos visitaram há várias semanas, a começos de Abril, e nos explicaram o que estavam a fazer para atender e auxiliar aqueles sofridos refugiados, para o que contavam com aproximadamente 30 médicos —bom, não o temos dito, e vou dizê-lo aqui pela primeira vez, disto há algumas semanas—, dissemos-lhes: Reparem, não temos muitos recursos, mas temos um capital humano. Se para o atendimento dessas centenas de milhares de refugiados que vivem em acampamentos precários faz falta pessoal médico, o nosso país estaria disposto a cooperar com 1 000 médicos de forma absolutamente gratuita para o atendimento dos refugiados cossovares (Aplausos).

Sabemos, pela longa experiência que temos, que o idioma não é um obstáculo nestes casos. Uma criança de seis meses não fala língua nenhuma, contudo, pode ser atendida perfeitamente por um médico. Esse oferecimento foi comunicado à direcção da Comunidade de São Egídio exactamente na noite do 5 de Abril, isto é, 12 dias depois de terem começado os ataques da NATO.

Vocês sabem do poderio médico com que conta o nosso país, e que agora em número crescente os nossos médicos estão nos lugares mais incríveis. Realmente, eu gostaria que os jovens pudessem ter uma ideia das condições em que estão a trabalhar os médicos cubanos na América Central, se quiserem ter um exemplo daquilo que les podem fazer, digno do que fazem os nossos atletas, digno do que têm feito companheiros desportistas que renunciaram a dezenas de milhões de dólares. Aquilo que estão a fazer esses médicos abnegados em lugares longínquos, onde muitas vezes não há electricidade, não há comunicações, não há nada, onde apenas de vez em vez podem receber uma carta, como eles se identificaram ali com os problemas e que serviços estão a prestar, compensado por uma questão que os torna bem felizes: o reconhecimento e a gratidão da população que eles estão a atender.

Falei com alguns deles, e quando se tem a oportunidade de ver exemplos desse tipo, a gente percebe do que é capaz o ser humano quando nele são cultivados os melhores sentimentos e as melhores qualidades, como os médicos que estão na América Central, em Haiti, os que estão na África, e os que para lá vão.

Às vezes temos dito, como uma prova do capital humano criado pela Revolução, que se alguns países industrializados e ricos juntos se propõem reunir 2 000 voluntários para ir trabalhar nesses lugares, não os encontram, não conseguem reuni-los. Atrevo-me a afirmá-lo assim, de maneira categórica. Estados Unidos não poderia reunir 2 000 médicos voluntários para irem trabalhar lá onde estão trabalhando os nossos médicos. Digo-o porque realmente comove, impressiona conhecer em pormenores o que estão a fazer esses médicos.

É por isso que o nosso país pode falar de 100, 200, de 500 e de 1 000 médicos, porque tenho a certeza de que se for necessário não faltariam os voluntários que logo estariam dispostos a ir para Albânia, para Macedónia, para qualquer lugar onde houver refugiados, e inclusive, lá, dentro de Cossovo, porque o que não faltou nem faltará jamais aqui é o valor (Aplausos), e nós já constatamos isso.

Quando a um povo lhe dizem: Olha, há dois lugares: é preciso ir aqui ou acolá. Lá tem mais perigo do que aqui, qual tu preferes? Logo responde: Lá. Assim é a tradição de heroísmo. E não só homens, mas uma coisa muito encorajadora: mulheres, por igual. Muitos desses médicos que estão nesses lugares são mulheres.

Também estiveram na Nicarágua —vocês se lembram disso—, 2 000 professores nas montanhas mais longínquas. Isso jamais será esquecido. E agora, com motivo dos programas médicos do nosso país no exterior, o sindicato da saúde entregou uns livros em que aparecem as assinaturas de mais de 300 000 trabalhadores da saúde, médicos, enfermeiros, técnicos, até aqueles que trabalham nos serviços e actividades hospitalares, exprimindo a sua disposição para prestarem qualquer serviço desse tipo. E a nossa saúde em nada será afectada.

Com orgulho podemos dizer que já está começando a funcionar a Escola Latino-americana de Medicina, que receberá cada ano 1 250 alunos da América Latina (Aplausos), uma grande parte deles procedentes de zonas indígenas, de lugares pobres.

Originou uma comoção em muitos países o oferecimento de bolsas para fazer estudos nessa escola. Muita gente fica interessada, visita a escola que ainda não foi inaugurada, e tenho a certeza de que será uma escola excelente, capaz de transmitir os conceitos cubanos a respeito do papel do médico e o carácter da missão do médico. Isso é o fundamental; jovens que se conhecerão entre eles, procedentes de todas partes da América Latina.

As notícias que temos dessa escola são realmente muito boas, e tenho a esperança de que sejam melhores estudantes que os cubanos, porque os cubanos, de uma forma ou doutra, habituaram-se a ter bolsas e possibilidades de todo tipo, e aqueles rapazes que lá estão, de regiões muito humildes, muito pobres, e filhos, em geral, de famílias muito pobres, não sonharam, ou talvez sonharam, unicamente sonharam com a oportunidade de fazer estudos de medicina. E a medicina do nosso país tem um grande prestígio e um prestígio crescente no mundo.

Eles serão melhores alunos que os nossos próprios alunos, e isso nos satisfaz imenso, visto que tem de ser assim. Eles serão portadores de um conceito do dever do médico como guardião da saúde, um missionário da saúde e da vida. Às vezes tenho empregue uma palavra eclesiástica para dizer: um sacerdote da saúde e da vida. E por isso podemos ter uma certeza completa e absoluta de fazer o que hoje uma nação de quase 300 milhões de habitantes, a mais rica do mundo, não poderia fazer: procurar
2 000 voluntários para fazer a mesma coisa.

Este país, quantos pode mobilizar? Se forem 2 000, que foi a cifra que lhe oferecemos a América Central —ainda não tem os 2 000, isso precisa de tempo, não depende de nós mas deles, de ir criando as condições; pela nossa parte poderiam estar todos ali—, enviamos 2 000 agora e em Agosto estaremos formando 2 500. E a forja, a fábrica de produzir médicos, e bons médicos está aí, nas nossas 21 faculdades de medicina, das quais nenhuma foi fechada, nem no período especial, e agora são 22 faculdades com esta latino-americana (Aplausos). Tremendo potencial não apenas desportivo, mas também científico e médico.

Atrevo-me a explicar-lhes isto, realmente, porque ainda quando condeno energicamente, desde o fundo da minha alma, o crime que está a cometer-se hoje contra uma nação, comparto e defendo os direitos de todos aqueles que por uma causa ou por outra viram-se submetidos a sofrimentos terríveis. Sirva esta ocasião para ratificar a nossa disposição de enviar os médicos que precisarem todos os acampamentos de refugiados cossovares enquanto regressam ao seu país. E quando esse dia chegar —não temos dúvida em que será em breve se for procurada sem soberba nem prepotência a solução política—, também estamos dispostos a marchar com eles para os ajudar no reassentamento do território de Cossovo. É a ideia final que queria exprimir.

Como vemos e queremos que vocês vejam o encontro e o êxito desportivo que hoje celebramos? Como um facto construtivo, um exemplo que deveria estimular o raciocínio e a responsabilidade daqueles que têm nas suas mãos encontrar essa solução. O nosso pequeno exemplo, o nosso pequeno encontro lá, em Baltimore, amistoso, pacífico, a pesar das enormes diferenças que temos com esse país, é também nesse sentido um acontecimento histórico. É por isso que não podíamos ficar de braços cruzados, quando já passadas as 00.00 horas concluiu aquele encontro, e dessa forma. Lá foram provadas muitas coisas que afiançaram a nossa convicção de que nesse campo seguiremos avançando e avançando, e que teremos mais de uma ocasião para felicitar os nossos atletas, neste e noutros desportos, e dissemos: Isto não pode ficar assim, que simplesmente nos jornais enviemos uma felicitação para os companheiros.

Isto era às 01.00 horas, acabávamos de ter uma enorme mobilização no Primeiro de Maio, hoje era um dia de trabalho e de estudo, contudo, dissemos: É preciso receber os atletas (Aplausos). Em duas horas ficou organizada a mobilização, movimentaram-se todas as forças, os trabalhadores, as organizações de massas, o Partido, ninguém dormiu, Lazo12 não dormiu nem um segundo, nem os dirigentes do Partido, nem das organizações. A máquina formidável que é este povo unido entrou em marcha e em questão de minutos mobilizou sei lá quanta gente.

Saímos do aeroporto antes que os atletas para chegarmos antes à Universidade, e havia um mar de povo por toda essa avenida, não sabíamos como chegaríamos aqui. Era, de facto, um mar de povo o que se conseguiu mobilizar. E aqui nem falar, não se pode apreciar, não é como na Praça da Revolução, porque aqui não consigo ver os que estão por trás desse primeiro patamar da escadaria. É muito mau estar a falar com alguém que a gente não vê, porque pelo menos se ficarem sem prestar atenção, faz-lhes um sinal, ficam um bocado envergonhados e se estabelece a ordem, o silencio, como está estabelecido aqui neste momento.

Peço-lhes que me perdoem o facto de os manter tanto tempo sob este sol, mas julguei que valia a pena esta mobilização (Aplausos e exclamações de: "Fidel!, Fidel!).

Os atletas têm vontade de se reunir com os seus familiares. Daqui vão para a Vila a apanharem algumas coisas e da Vila vão para as suas casas. Já estão comprometidos, hoje é dia 4, daqui a 15 dias mais ou menos, uma quarta-feira, a tropa deve estar mais uma vez reunida para começar a lutar por uma vaga na equipa Cuba.

Ainda não foi conformada a equipa Cuba, e a fonte é ampla. Mas logo após o descanso, começarão a se preparar.

Realmente, devemos felicitar a população de Havana —não esperávamos outra coisa—, impôs um recorde. Acho que nunca fora organizada uma mobilização tão grande em tão pouco tempo. O pessoal do ICRT13 correu em horas da madrugada, acordaram o Reitor da Universidade, e ao resto do pessoal. Eu também acordei algumas pessoas, as encontrei meio dormidas ainda, expressando o seu alvoroço pela vitória, e lhes digo: Esperem aí, esse não é o problema, a questão é que devemos nos mobilizar. Era de ver todos os jornalistas, as emissoras de rádio, a televisão, o programa da manhã, em questão de horas não se sabe quanta gente foi mobilizada. Estávamos a pensar inclusive na Praça da Revolução, mas isso é muito grande, e colocar ali em breve as instalações técnicas adequadas, não era possível.

Esta tribuna não sei onde deviam colocá-la, talvez lá em cima, ou em algum lugar, para ver se conseguíamos ver os que ficam por trás de vocês. Não consigo ver a calçada da escadaria lá em baixo.

A escola "Lenine" ia ficar não sei onde, e depois Lazo decidiu que viesse para cá, onde estariam na primeira fileira (Aplausos). Alegro-me muito de vê-los aqui. Felicito-os, aliás, pelo desfile do Primeiro de Maio; era impressionante a marcha massiva da escola (Aplausos). Por isso ninguém nos pode acusar de sonhadores. Sim, devemos ser sonhadores, devemos sonhar com coisas, mas ao mesmo tempo devemos fazer aquelas coisas com as que sonhamos.

Lembro-me daquele sonho de uma escola como esta, com capacidade para 4 500 alunos, há vários anos disso, quando foi escolhido o lugar, quando se procuraram as brigadas construtoras, quando se fizeram os projectos para a escola, ao pé do Jardim Botânico e perto do parque "Lenine", e realmente, posso-lhes assegurar que esta escola —digo com toda a franqueza— é ainda muito melhor que aquela escola com a qual um dia sonhamos (Aplausos). E os queremos sempre à vanguarda e sempre na primeira fileira. Teria sido um grande erro de Lazo tê-los incomodado, colocá-los lá, ao longo de uma auto-estrada e não trazê-los para esta escadaria e colocá-los aqui, como estudantes destacados, na primeira fileira (Aplausos).

Que melhor lugar para honrar os nossos heróicos atletas do que esta escadaria universitária onde tantas páginas foram escritas na história do nosso país. Aqui, junto da Alma Mater, nesta Universidade de Mella e de Jose Antonio Echeverria, nesta Universidade de tantos comtacontes heróicos. Que lugar mais simbólico do que este para que eles tragam sua bandeira e a depositem.

Se mo admitem os que devem tomar a decisão, desejo fazer uma proposta: que essa bandeira seja conservada nesta colina universitária (Aplausos).

E tudo o que eles fizeram ontem, tudo o que vocês assistiram ontem, demonstra que quando dizemos Socialismo ou Morte!, Pátria ou Morte!, Venceremos!, é verdade.

(Ovação).


Notas

1 Orioles: Equipa de beisebol de Baltimore, Estados Unidos da América. (N. do T.)
2 “Toque de bola”: Contacto leve da bola com o taco, de tal maneira que a taco não avance com força. (N. do T.)
3 Hit: Golpe dado com o taco à bola e em que o tacodor consegue chegar à primeira base. Também é conhecido como “sencillo” – simples. (N. do T.)
4 Inning: Etapa, set, tempo, no beisebol. (N. do T.)
5 Two-base: Jogada em que depois de golpear a bola o batedor chega à segunda base. Também é conhecida como “doble”. (N. do T.)
6 Three-base: Jogada em que depois de baterr a bola o batedor chega à terceira base. Também é conhecida como “triple”. (N. do T.)
7 Home-run: Lance em que o batedor consegue lançar a bola fora dos limites do terreno, anotando assim uma ponto de vez. É como o golo do futebol. Também se conhece como “quadrangular”. (N. do T.)
8 Ricardo Alarcón de Quesada, Presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento cubano) N. do T.
9 Bernabé Ordaz, médico, director do Hospital Psiquiátrico de Havana.
10 Batistiano: partidário de Batista, dictador e Presidente de Cuba antes de 1959. (N. do T.)
11 Home: lugar onde se param os “batedores”, o receptor e o árbitro principal do jogo.
12 Esteban Lazo, primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba em Cidade de Havana. (N. do T.)
13 ICRT: Instituto Cubano de Rádio e Televisão. (N. do T.)


 

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