Discursos e Intervenções

DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NO ENCERRAMENTO DA PLENÁRIA NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE AGRICULTORES PEQUENOS (ANAP), NO TEATRO "CHAPLIN", A 17 DE MAIO DE 1962

Data: 

17/05/1962

Companheiros dirigentes da Associação Nacional de agricultores Pequenos;
Companheiros e companheiras: 
Hoje se completa o terceiro aniversário da promulgação da Lei de Reforma Agrária.  Para o momento em que foi ditada aquela Lei, significou uma grande mudança na economia e na vida social do nosso país. 
Essa Lei marcou o início da luta do imperialismo ianque contra nossa pátria; ou seja, que a Lei de Reforma Agrária foi o motivo da guerra que os monopólios norte-americanos desataram contra nosso país.  Mais tarde veio uma série de Leis; mas a Lei que marcou o momento do início das hostilidades contra nós foi essa Lei. A razão, facilmente compreensível, estava em que as companhias norte-americanas eram proprietárias de grandes latifúndios, sobretudo latifúndios açucareiros:  a United Fruit Company, que tinha 10 000 caballerias (134 000 hectares)  por exemplo; a Atlântica do Golfo, acho que tinha como 17 000 caballerias (227800 hectares) de terra, e assim por diante, tinha algumas dezenas de companhias norte-americanas que tinham grandes investimentos em terras, e das melhores terras do nosso país. 
Resultaram afetadas por aquela Lei, em primeiro lugar, essas companhias que eram os maiores proprietários de terras, e em segundo lugar, os latifundiários crioulos. Não tinham extensões tão grandes, embora alguns deles, por exemplo, como Julio Lobo acho que tinha 14 usinas açucareiras, não é?  Acho que ele tinha catorze usinas!  Se não me engano, e acho que fiquei curto (DO PÚBLICO LHE DIZEM QUE 18).  Quantas?  Dezoito?  Dezesseis.  Bom, para que não digam depois que a gente é exagerado (RISOS), e tinha também vários milhares de hectares de terra.  Mas, em duas palavras: os terratenentes cubanos e os monopólios norte-americanos foram afetados por essa Lei e, naturalmente, reagiram contra a Revolução; isso era lógico e era de se esperar.  E desde então estão unidos os terratenentes cubanos com os terratenentes ianques. 
A Lei de Reforma Agrária fechou o pacto da aliança reacionária com o imperialismo, isto é, dos latifundiários e dos imperialistas.  Era também a Lei que datava o pacto ou a aliança dos operários e dos camponeses (APLAUSOS). A aliança operário-camponesa, que se consolidava com a Lei de Reforma Agrária, originava a aliança dos inimigos dos operários e dos camponeses cubanos, quer dizer, dos latifundiários e dos monopólios norte-americanos. 
Ainda que depois foi feita outra série de Leis revolucionárias que afetaram outros interesses desses monopólios norte-americanos, eles começaram a organizar suas agressões contra Cuba e a preparar as invasões contra nosso país imediatamente depois da Lei de Reforma Agrária. Depois soube-se disso perfeitamente bem, que desde então começaram a organizar os elementos mercenários e a preparar as agressões contra nosso país. 
Naquela época ainda a Revolução só tinha dado os primeiros passos. Ainda nem sequer tínhamos relações diplomáticas nem comerciais com a União Soviética; ainda não se tinha proclamado o carácter socialista da Revolução. E, contudo, bastou aquela Lei em favor dos camponeses para mobilizar o imperialismo contra nosso pequeno país. 
Em outro país irmão da América Latina, Guatemala, também a reforma Agrária foi a causa de que se mobilizasse o imperialismo contra o governo revolucionário daquele país; e se mobilizou de tal forma, igual que o fizeram conosco, que organizaram também um exército mercenário, organizaram bases aéreas ao redor de Guatemala e empregaram um exército de mercenários exatamente igual. Mas existia uma diferença, e é que na Guatemala não existia um exército do povo, na Guatemala não estavam armados os operários e os camponeses, mas existia um exército profissional; e aquele exército profissional traiu os trabalhadores e os camponeses da Guatemala, e imediatamente combinaram com os imperialistas, esse exército combinou com o imperialismo. Os imperialistas foram tão torpes, melhor, não vou dizer que sejam absolutamente torpes, têm sua malícia também, mas em geral, são burros (RISOS) e eles, por exemplo...  É claro que a agressão que eles organizaram contra nós foi uma agressão diferente da que organizaram contra Guatemala, isto é, foi mais forte em armas, em armamento; tinha uma estratégia determinada: realizar uma luta de desgaste, apoderar-se de um pedaço do território nacional e desde ali esgotar nosso povo em uma guerra de desgaste, mas não foram capazes de dar-se conta de que em nosso país não existia um exército profissional, mas era um exército totalmente novo, integrado por homens dessas classes sociais, ou seja, os operários e os camponeses, e que portanto, era um exército capaz de combater por essas conquistas do nosso povo, como efetivamente o fez. 
Isso foi um fator que eles possivelmente subestimaram. Não se aperceberam de que iam lutar, ou não apreciaram corretamente a circunstância de ter que se encarar também a um exército de operários e camponeses. 
Essa é a significação que tem esta data, que marcou uma etapa na vida e na história do nosso povo. A quem afetou? Aos latifundiários e aos monopólios. A quem beneficiou? Aos camponeses. O primeiro benefício que os camponeses receberam da Lei de Reforma Agrária foi que desde esse instante todos aqueles camponeses que tinham que pagar alugueres por suas terras —isto é, a maior parte dos camponeses— foram exonerados do pagamento de todo aluguer. Os camponeses que, por exemplo, não pagavam aluguer mas que eram posseiros, receberam a propriedade das suas terras. Nalguns sítios, por exemplo, as montanhas de Oriente, a Sierra Maestra, os camponeses não pagavam aluguer, mas viviam sob o temor constante do desalojo.  Tinha aparecido uma série de donos de terra, começaram a ser exibidos títulos, e nós recordamos que quando chegamos por aquela zona já tinha uma série de senhores reclamando a propriedade das terras onde viviam os camponeses. 
Portanto, o que a Revolução fez, a Lei de Reforma Agrária, significou para todos aqueles camponeses o desaparecimento de todo temor. A partir daquele momento todo camponês pôde sentir-se seguro em sua terra, sem temor a ser desalojado. 
 
Essa foi a primeira grande vantagem que significou para os camponeses a Lei de Reforma Agrária. Mas, é claro, não significou apenas isso, significou uma política nova com os camponeses em todas as ordens: no campo da educação, no campo da saúde pública, garantias para os preços de seus produtos, o desparecimento dos intermediários exploradores, a contribuição dos créditos por parte do Estado para as colheitas, créditos de reparo e créditos de investimento.  Antes, o banco lhe restabelecia ao camponês uma parte, mas lhe exigia uma série de documentos, de papéis, títulos de propriedade da terra, sem o qual não lhe davam crédito; cobravam-lhe altos juros.  Ao mesmo tempo, o resto dos camponeses era ressarcido pelos armazeneiros, porque os intermediários lhe pagavam barato seus artigos e lhe vendiam caros os produtos. 
A Revolução foi eliminando todo aquele sistema. Naturalmente que o problema que tem uma revolução com todas essas mudanças bruscas, todas essas mudanças radicais, implicam a necessidade de uma grande organização, implicam a necessidade de um grande trabalho. Todas essas mudanças que a Revolução trouxe consigo, foi o povo que se viu obrigado a fazê-las, com homens do povo, que durante esses primeiros anos da Revolução não podiam ter grande experiência no trabalho que estavam realizando. 
Era natural que a obra da Revolução tivesse suas deficiências, tivesse seus defeitos, tivesse seus grandes inconvenientes, porque não se realizam mudanças profundas e mudanças radicais na vida de um país facilmente. Qualquer camponês compreende isso, porque qualquer camponês inclusive quando vai introduzir uma inovação nos métodos de cultivo, tem que adquirir experiência, tem que passar por uma série de provas, uma série de coisas, ou seja, que resulta difícil fazer uma revolução em sua pequena parcela. Imaginem o trabalho que significa e a organização de que precisa toda a mudança profunda que uma revolução significa para a vida de um país. 
Em primeiro lugar, a Revolução implicava uma luta de classes. Que classes chocavam? Chocavam as classes exploradoras com as classes exploradas; chocavam os trabalhadores, isto é, chocavam os operários e chocavam os camponeses contra os terratenentes, os latifundiários, os donos das grandes fábricas; criava-se uma luta de classes. 
Aquelas classes tinham em suas mãos os bancos, o dinheiro do país; tinham em suas mãos os jornais, as estações de televisão, as estações de rádio; tinham mais cultura, porque tinham frequentado as universidades, tinham estudado. E com todos esses recursos, e a ajuda dos reacionários dos Estados Unidos, visto que se enfrentavam aos nossos camponeses e aos nossos operários. 
Naturalmente que em essa luta de classes em que chocam os interesses dos explorados e dos exploradores, os exploradores se valem de todas as armas. Valem-se da mentira, tentam explorar a ignorância da gente, se valem do crime, se valem da sabotagem, se valem das agressões militares, se valem da bomba, se valem, em fim, de todos os meios para tentar destruir o governo que representa os interesses das classes humildes da pátria. 
E cada Lei da Revolução eles tentavam tergiversar, tentavam confundir com cada Lei da Revolução. Quando se fez a Lei de Reforma Agrária, eles pensavam que os trabalhadores não poderiam administrar os grandes latifúndios; que os grandes latifúndios canavieiros, os grandes latifúndios de criação de gado iam deixar de produzir. Eles acreditavam que se não eram eles os que estavam administrando esses bens, os trabalhadores não podiam administrá-los; eles acreditavam que a produção ia diminuir; eles acreditavam que com a ausência deles, nós íamos ter grandes problemas. 
É verdade que temos tido alguns problemas; é verdade que, com efeito, tem fazendas e tem cooperativas que não têm sido bem administradas; é verdade que nossos administradores não têm grande experiência; e é verdade também que nós temos necessidade de preparar homens com a maior experiência e os maiores conhecimentos possíveis para nossa agricultura. Mas o problema fundamental não esteve em que essas terras não produzissem; essas terras têm estado produzindo mais do que antes. 
Por exemplo, vocês têm um cultivo, o do algodão, que não existia em nosso país; a produção avícola está aumentando, antes os ovos eram importados, importavam-se os frangos, importava-se a gordura, importavam-se grandes quantidades de leite condensado; ou seja, que temos tido que resistir o bloqueio imperialista com nossos produtos. 
Como uma prova dos aumentos de produção que tem havido nas terras do nosso país está o fato que apesar do bloqueio imperialista nosso povo não tem passado fome; apesar de todas as dificuldades que nos colocaram com as matérias-primas, com os sobressalentes para os motores, para a maquinaria agrícola, que toda era de procedência norte-americana.  Quando eles suspenderam e proibiram a exportação de sobressalentes, de maquinaria agrícola a nosso país o faziam no intuito de lesar nossa agricultura, visto que apesar do bloqueio, com nossos próprios produtos nos temos arranjado.
É verdade que com um trabalho melhor teríamos podido produzir ainda mais, e estaríamos ainda melhor; mas de todas formas, quando se faz o balanço, ressalta o fato de que nosso país, no meio do bloqueio, tem conseguido ir encarando a situação com seus próprios produtos. 
A dificuldade também tem consistido no fato de que no passado podiam comprar todos aqueles que tinham dinheiro, todos aqueles que tinham altas rendas. Mas vocês sabem perfeitamente bem, sobretudo sabem disso os camponeses de Oriente, de Camagüey, de Las Villas, como viviam nossos camponeses, o desemprego que existia nos campos; como transitavam pelos caminhos e pelos carreiros milhares de homens e de famílias mendigando um dia de trabalho; como tinham que suplicar que lhes dessem trabalho, aceitar qualquer jornal que lhes pagassem; como os camponeses careciam de ajuda; como o pequeno agricultor, que queria desenvolver uma fazenda de café, ou queria desenvolver um cultivo determinado, tinha que abandonar seu pedaço de terra para ir trabalhar em uma fazenda canavieira, em uma fazenda de criação de gado, a realizar qualquer trabalho para reunir uns pesos com que poder sustentar sua família enquanto desenvolvia seus cultivos. 
Com a vitória da Revolução veio o aumento do emprego nos campos, de maneira tão extraordinária que ao pouco tempo se começou a notar já a falta de braços nos cortes de cana. Nossa indústria açucareira se mantinha sobre a existência de 500 000 homens do campo sem trabalho; mas, além disso, havia muitos camponeses que tinham que trabalhar também como jornaleiros, isto é, pequenos agricultores que tinham que trabalhar também como jornaleiros. Do momento em que esses pequenos agricultores receberam créditos, já não tinham que abandonar sua terra para ir cortar cana e para ir trabalhar de jornaleiros; do momento em que em grandes fazendas que estavam abandonadas se começaram a desenvolver uma série de cultivos novos, então aquelas centenas de milhares de homens de campo que não tinham trabalho encontraram trabalho garantido, e surgiram esses problemas da falta de braços no campo, que a Revolução agora tem estado resolvendo com a mobilização dos operários de uns sítios para outros, e com o trabalho voluntário, mas que no futuro resolverá com as máquinas de cortar cana. 
Quem se teria atrevido a falar antes de uma máquina de cortar cana? Isso teria provocado uma insurreição no campo: uma máquina de cortar cana.  Esses fatos demonstram os avanços da Revolução, no meio de todos os obstáculos que o inimigo lhe coloca, tem ido avançando. 
Por outro lado, temos o fato de que ao existirem mais centenas de milhares de pessoas trabalhando, os recursos econômicos de que dispõe o povo são muito maiores, e a demanda, portanto, é muito maior. Isso se observou, por exemplo, no arroz. O consumo de arroz, que era de uns 4 milhões, quase se duplicou ao ano e meio da Revolução.  Praticamente se duplicou o consumo dos produtos. 
Em Havana, na época de chuva, quando a produção de leite não ultrapassava os 
400 000 litros, sobrava o leite, e tinham que enviá-lo para as plantas de leite condensado, tinham que enviá-lo para fazer manteiga e para fazer queijo. Contudo, tendo ultrapassado na primavera passada os 500 000 litros, não sobrou um só litro de leite, porque havia capacidade aquisitiva no povo para absorver toda essa produção de leite. 
Naturalmente, depois veio a época de seca e nesse caso temos tido uma das secas mais duras dos últimos tempos, e a produção desceu, em quanto ao leite, motivado por esse problema de ordem climática. A questão é que o povo tem ido exatamente resistindo. 
 
Tem outra coisa.  Antes, o pequeno agricultor, como tinha que pagar um aluguer pela terra, ficava obrigado a vender os frangos, os vegetais, todo animalzinho que criava tinha que vendê-lo, e ia ao mercado. 
Mas todos vocês sabem que não apenas para pagar o aluguer. A falta de assistência médica obrigava os camponeses, quando adoecia um, a vender o porco, a vender os frangos, para pagar o médico e para pagar os remédios.  Do momento em que foi criado o serviço médico rural, que foram construídos cerca de 100 hospitais e dispensários no campo, que tem serviço médico, medicamentos, já não tem camponês que se veja na obrigação de ter que vender o frango, o porco, ou seus produtos, para ir ao médico; nem tem camponês que tenha que vender esses produtos para pagar o aluguer. Sabemos de casos de camponeses aos quais lhes cobravam 50% de qualquer animal que criasse; inclusive ele punha o dinheiro para comprar esses animais, e a metade dos lucros a tinha que partilhar com o dono da terra. 
O quê faz hoje esse camponês? Pois, já não tem necessidade de privar-se de todos esses produtos, e os consome, ou seja, que existe uma série de circunstâncias: muito maior poder aquisitivo no povo; centenas de milhares de homens do campo trabalhando, que não trabalhavam antes; maior renda na família; serviços médicos, de hospitais, de remédios; não têm necessidade de pagar o aluguer, portanto, podem consumir esses produtos. Os camponeses mesmos consomem muito mais do que antes, do que consumiam antes. 
Todas essas causas vão explicando o porquê; vão explicando o porquê era lógico que a Revolução, com todas essas mudanças sociais, com esse melhoramento do nível de vida do povo, no meio do bloqueio dos imperialistas ianques, tivesse dificuldades com os abastecimentos. 
É claro que um contra-revolucionário simplista, faz a análise e lhe diz a qualquer: "Não, porque antes tenho leite."  Sim. Tinho leite para ele, dos 250 000 ou dos 300 000 litros que se produziam, tenho leite para ele; ele não calculava todas aquelas famílias que não consumiam leite. E hoje, embora hajam 400 000 litros, não alcança; e embora hajam 500 000 litros, não sobra. E não sabemos onde estará o limite do consumo de leite. Trata-se de aumentar todo o mais possível, e se fazem planos para ultrapassar todas as cifras anteriores; mas ninguém seria capaz neste momento de dizer quantas centenas de milhares de litros de leite consumiria, por exemplo, a Cidade de Havana neste momento. O contra-revolucionário tenta confundir, de desorientar. 
É verdade que nós, diante desta situação, temos o caminho a seguir; mas, além disso, o único caminho: que é duplicar nosso esforço. E isto, é bom dizer aqui, fundamentalmente entre os camponeses; fazer nosso máximo esforço para atender as necessidades da nação. 
A Revolução tem que dedicar à agricultura o máximo interesse e o máximo esforço, e a Revolução está dedicando esse esforço nestes momentos à agricultura. A Revolução precisa da máxima colaboração dos camponeses; nossos operários precisam do esforço dos camponeses. O camponês é o aliado do operário. 
O quê quer dizer esse cartaz, essa frase de "Viva a aliança operário-camponesa"?  Significa que os camponeses e os operários são irmãos, são aliados; que os camponeses precisam dos operários e os operários precisam dos camponeses. Essa aliança operário-camponesa significou para os camponeses a libertação dos alugueres, significou para os camponeses a propriedade da terra, a tranqüilidade, a educação de seus filhos, a alfabetização, hospitais, médicos, professores, caminhos; tem significado incontáveis benefícios. 
Os camponeses desejam elevar seu padrão de vida, precisam de roupa, precisam de sapatos; os camponeses necessitam caminhos, necessitam do professor, do médico; precisam do operário que produz medicamentos, do operário que constrói, que faz escolas, que faz hospitais, que faz vias de comunicação; precisam dos operários que fazem funcionar os serviços de transporte; precisam dos operários que produzem sapatos, que produzem roupa, que produzem mobílias, que produzem os utensílios que o camponês necessita, que produzem charruas, que produzem combustíveis, que produzem todas as coisas que eles consomem. Os camponeses aspiram ter ainda mais. Cada camponês aspira a viver no futuro em melhores condições, melhores casas. Os camponeses aspiram à eletrificação, a terem algum dia luz elétrica em suas casas; aspiram a melhorar suas condições de vida. 
 
Quem são os que produzem esses bens? Quem são os que constroem, os que produzem todos esses bens que os camponeses consomem e os camponeses desejam?  São os operários. 
Esses operários estão concretizando também o plano de industrialização do país.  Em Santa Clara se está construindo uma fábrica de fogões, de geladeiras. No futuro nosso país produzirá rádios, televisores, todos esses artigos. No futuro nossos operários industrializarão o país, nossos operários construirão grandes barragens, facilitarão os serviços hidráulicos, construirão mais estradas, mais casas, mais hospitais, mais médicos irão aos campos, mais mestres irão as escolas. 
Os trabalhadores têm ajudado os camponeses, facilitaram-lhes créditos. Ou seja, os operários, a classe operária, com seu trabalho, com o trabalho que realizam as indústrias, com as poupanças que têm conseguido para o país, têm acumulado recursos para emprestar aos camponeses, para outorgar-lhes créditos aos camponeses. Um camponês vai ao banco, um camponês vai aos escritórios da ANAP e solicita um crédito para plantar, para a colheita, para plantar café, cacau, quando é um crédito de investimento, ou para atender suas culturas até que chegue a colheita e os venda.  Donde sai esse dinheiro, esse crédito que o camponês recebe? Donde sai?  Sai do esforço dos trabalhadores, sai do braço dos trabalhadores, dos operários, sai do suor dos operários, porque as riquezas são criadas pelo trabalho. Os vadios, os lumpens, não criam nada; os parasitos não produzem, mas consomem. Esses créditos que os camponeses recebem saem do trabalho dos operários. 
E só em um ano, só no último ano, os camponeses têm recebido 30 milhões em créditos para investimento, para comprarem equipamentos de lavoura, para fazerem poços, para comprarem animais de trabalho, para plantarem café, para plantarem cacau, para introduzirem melhoras, trinta milhões!  Mas também, têm recebido créditos de produção por 63 milhões (APLAUSOS), sem contar os créditos aos agricultores canavieiros, que os recebem diretamente através das usinas. Refiro-me aos créditos concedidos através da Associação Nacional de Agricultores Pequenos: Somam 93 milhões de pesos!  (APLAUSOS.)
 
Donde têm saído esses milhões? Do esforço da nossa classe operária. Os camponeses têm recebido esses recursos dos operários, dos operários que trabalham em nossas fábricas, dos operários que fazem produzir nossas fábricas e que fazem rentáveis nossas fábricas. Esses recursos para os camponeses têm saído do suor e do esforço dos operários. 
Essa é a ajuda que os operários têm oferecido aos camponeses, aos pequenos agricultores. E por isso dizemos que os camponeses precisam dos operários. 
No campo tem mais calma e mais tranqüilidade que na cidade; no campo se pode pensar mais serenamente, mais placidamente. Os camponeses devem meditar em tudo isso. Nas tardes de calma, quando concluem suas tarefas e se sentam lá em seu rancho, devem pensar nestas coisas: como são as coisas da Revolução, o quê faz por eles a Revolução, quem são seus irmãos, quem os ajudam, quem lhes têm enviado os mestres, quem os têm alfabetizado, quem lhes têm construído os hospitais, quem lhes têm enviado os médicos, quem educam seus filhos -que são trabalhadores também-, os mestres, que os ensinam lá na escola rural ou cá, nos centros de ensino superior, nas escolas de bolseiros, nas universidades. E se bem hoje há muito poucos filhos de camponeses nas universidades, porque os filhos dos camponeses não tinham nem escolas para se alfabetizarem, como iam chegar às universidades? Não obstante, não tardarão muitos anos, e já nas universidades se contarão por milhares os filhos dos camponeses, os filhos de vocês (APLAUSOS). 
Não se perderá em nossos campos nenhuma inteligência. E essas centenas de milhares de crianças que antes não tinham acesso nem ao alfabeto, terão acesso aos centros superiores de educação. 
Com que orgulho dentro de 10, dentro de 12 anos, mais ou menos, poderão proclamar muitos camponeses que seus filhos são técnicos universitários, médicos, engenheiros, operários altamente qualificados! Com que orgulho no futuro muitas famílias se encherão de felicidade e se encherão de alegria, ao pensar que já aquela possibilidade deixou de ser para sempre oportunidade de uns poucos para ser direito de todos, e que seu filho —saído do rancho, do rancho humilde— pôde atingir as mais altas cimeiras da cultura e da técnica: escritores, técnicos de todos os tipos, professores!  As portas ficam abertas para todos os filhos dos camponeses!  (APLAUSOS.)
Meditar sobre essas coisas, meditar sobre essas coisas nos momentos de serenidade; pensar quem são seus irmãos, quem abrem para ele todas essas possibilidades, quem construirão as usinas termelétricas que servirão para edificar os campos, para levar a eletricidade até os últimos cantinhos do país, quem construirão suas casas. Pense nisso o camponês. Porque o camponês tem nos operários seus verdadeiros amigos, seus verdadeiros irmãos. 
Mas os operários necessitam também dos camponeses, esse operário que constrói caminhos, que ensina, que cura, que produz medicamentos, que produz roupas, que produz sapatos, que produz os utensílios com que trabalha o camponês, com que cozinham as famílias camponesas, esse operário que produz sabão, que produz combustível, que produz gás, que produz tudo, em fim, todos os artigos industriais que o operário produz, necessitam do camponês, necessitam dos produtos do camponês.  Ele mora na cidade, trabalha na indústria, ele não tem o recurso de ir de manhã arrancar algumas plantas de inhame ou de batata doce, ou cortar um cacho de bananas, ou recolher ovos frescos que põem as galinhas, ou sacrificar uma ave; ele não tem esses recursos, ele não pode ordenhar de manhã a vaca para levar o leite a seus filhos. Ele trabalha, produz sapatos, produz roupas, produz os artigos que vão para o campo; a esse operário lhe pedimos, e cada vez lhe pedimos mais firmemente, cada vez lhe pedimos mais veemente que se esforce em produzir para que nossos camponeses tenham tudo do que necessitam; mas também aos camponeses temos que pedir-lhes que não se esqueçam desses operários. Temos que pedir-lhes veementemente, e recordar-lhes que eles são os que produzem o leite dos filhos desses operários, os alimentos das famílias desses operários, que eles são os que produzem os vegetais, os feijões, a carne, o leite, os produtos que vai consumir no lar essa família operária. 
Nisso é preciso pensar, nisso é preciso pensar com espírito generoso, com espírito de patriota, com espírito de bom cidadão. Mal fazem os que pensam egoistamente; mal fazem os que pensam de forma ruim, os que se esquecem de que aquele operário que produz para ele precisa dos seus produtos, e em vez de pensar como bom irmão, como bom companheiro, como fiel amigo do operário, pensa em especular, pensa em ganhar mais dinheiro e em vender-lhe a um rico que possa pagar muito mais antes que vender esse produto ao organismo que vai levar ao operário que está trabalhando o pão de seus filhos (APLAUSOS), do operário que produz nas fábricas, do mestre que ensina, do médico que cura, do soldado que está de plantão face aos inimigos dos camponeses e dos operários. 
Quando existem organismos que distribuem, existem por isso: porque a Revolução tem a responsabilidade de garantir a cada família que lhe chegue o sustento. Ainda restam parasitos em nosso país, restam parasitos em nosso país que têm dinheiro, e se não existissem esses organismos que distribuem equitativamente, o operário não comia, mas comia o parasito. E que triste é que quem trabalha não coma, e que coma aquele que não trabalha! Que triste que os produtos dos operários e dos camponeses os recebam os parasitos!  Por isso existem esses organismos encarregados da distribuição. 
É claro que a Revolução tenta oferecer a maior facilidade aos camponeses. É verdade o fato de que esses organismos não têm funcionado com toda eficiência, e que às vezes o camponês tem estado esperando porque esse organismo vá comprar-lhe seus produtos. Por isso o Governo Revolucionário tem adotado algumas medidas, tem retificado alguns procedimentos com o propósito de garantir o camponês contra essas deficiências. O quê tem feito o Governo Revolucionário para facilitar ainda mais a situação dos camponeses? Solicita que os camponeses vendam seus produtos aos organismos correspondentes; subscreve contratos com os camponeses no momento em que lhes concede o crédito, adubos, assistência, no intuito de que o camponês, por sua vez, se comprometa a vender uma parte dos produtos aos organismos do Estado. 
Porém ao mesmo tempo, tentando evitar uma série de regulamentações que criam entraves, que criam dificuldades, e com o propósito de evitar —porque eu lhes dizia que o Governo tem retificado, mas tem retificado não medidas do Governo, mas tem retificado muitas medidas inclusive tomadas à toa— uma série de regulamentações que foram criadas à toa —e em virtude das quais era já um problema vender um produto, vender um frango, vender qualquer coisa, e foi criada uma série de dificuldades—, tem tentado de liberalizar o mais possível as condições no campo, de maneira que fique bem claro o que os camponeses podem fazer com o frango, como podem vendê-lo; como os camponeses, se não lhes vão compram seus produtos, podem vendê-los por iniciativa própria; em resumo, uma série de facilidades, visando que os camponeses fiquem garantidos contra as deficiências dos organismos que se encarregam da comercialização dos produtos, uma série de facilidades praticamente com todos os produtos. Só tem um produto no qual se mantém uma regulamentação rígida e é com o gado. 
À economia do país não lhe afeta fundamentalmente que os camponeses vendam todos os frangos que desejem por sua conta, não lhe afeta que sacrifiquem os porcos. Pede-lhes, sim, que os sacrifiquem quando já são grandes, que tentem tirar-lhes o maior proveito, que tentem produzir gordura, auto abastecer-se de gordura, enquanto se desenvolvem os grandes planos de produção suína que a Revolução está concretizando, igual que concretiza grandes planos de produção avícola. 
Isso não afeta a Revolução. Mas ao nosso país lhe afetaria muito que sua base de gado fosse sacrificada, que a produção grande que pode ter no futuro de carne de rês, fosse sacrificada. Naturalmente, com os recursos monetários com que hoje conta o povo, se não fosse regulamentado bem o sacrifício do gado vacum, o resultado seria que ninguém controlaria a matança, que seriam mortos...  Ninguém pode calcular a quantidade de gado que seria sacrificado com pouco peso, o mesmo as fêmeas que os machos. Como poderia garantir a Revolução o abastecimento de carne nas cidades?  É lógico que isto seja bem regulamentado. 
Enquanto se desenvolvem os planos de produção avícola, suína, e os planos de pesca, é lógico que cuidemos da carne de rês, é lógico que cuidemos do gado, porque é preciso abastecer as cidades de carne de rês, é preciso garantir que sacrifiquem o gado com o máximo de peso, é preciso garantir a ceva do gado.  Por isso sim nos afeta que o camponês sacrifique o porco para ele e para seus vizinhos, que sacrifique ou venda os frangos, os pavós, todos esses artigos, sim afetaria muito a matança livre de carne de rês. Claro que teríamos carne alguns anos sem problemas, mas estaríamos sacrificando o porvir, estaríamos sacrificando o futuro, e um povo tem que ser consciente, porque esses anos passarão. 
Se agora queremos resolver esses anos, as dificuldades de agora, sacrificando todo o gado, o lamentaremos muito no futuro. Então amanhã teríamos que chorar nossa imprevisão, nossa irresponsabilidade; em câmbio, se hoje cuidamos do gado...  E por isso não tem mais alternativa do que manter uma regulamentação rígida, porque é preciso salvar nossa riqueza de gado para que no futuro possamos produzir o dobro, o triplo de carne. Mas não só isso, senão que teremos produção de muitas mais aves, porcos, peixes. 
Já no futuro não existirão esses problemas. Existirá tal abundância de todos esses produtos, que não haverá essa urgência que tem agora com a carne, essa necessidade de evitar que se mate um novilho de 500 ou 600 libras. Isso o povo o compreende, isso o compreendem os camponeses perfeitamente bem; por isso o produto que fundamentalmente se regulamenta é a matança, e tem que ter normas rígidas para evitar a destruição de uma riqueza que resulta fundamental para nosso país, que é o gado vacum (APLAUSOS). 
Os camponeses devem compreender isso. Nós constatamos que a qualquer camponês que tem cinco ou seis vacas lhe entram vontade de matar um novilho e estar comendo carne um mês.  O quê não gostaríamos fazer por ajudar os camponeses? Mas se lhe disséssemos aos camponeses: "Sim, matem", estaríamos cometendo um crime contra a economia do nosso país, estaríamos fazendo uma coisa ruim. 
Esse é o porquê é preciso evitar, não se pode permitir a livre matança de carne de rês. 
Porque às vezes um camponês fala: "Mas por que não vou poder matar esse novilho que o vi nascer?"  Pois, por isso:  porque é preciso garantir a carne para o povo e é preciso salvar a riqueza em gado. Só por isso. Ninguém lhe vai tirar seu novilho (APLAUSOS). 
Precisamente para que amanhã, ele possa comer não só carne de rês, mas também possa comer peixe, possa comer tudo o que deseje comer; é para garantir o futuro. E às vezes não se entendem bem essas coisas, porque já encontrei alguns camponeses que dizem que querem matar o novilho. Imaginem se dizemos: matem à toa, imaginem qual seria o resultado. 
E quando o governo toma essas medidas o faz consciente de sua responsabilidade, de suas obrigações com o povo e de seu dever para com o futuro da pátria, que aspira a que seja um futuro de abundância, um futuro de progresso para todo o povo. 
Os camponeses têm que fazer o máximo esforço, têm que pensar sempre nesse dever que têm de ajudar ao abastecimento. E vocês os dirigentes da ANAP, vocês os membros das associações camponesas, têm que explicar estas coisas ao camponês. 
Existem deficiências na distribuição, às vezes não tem artigos nas lojas. Bom, vocês têm que trabalhar nesse sentido, comunicar-se com as organizações, comunicar-se com os organismos pertinentes. Sim.  Estamos atravessando por essas dificuldades, mas nenhuma das dificuldades são ignoradas pelo Governo Revolucionário; essas dificuldades não são ignoradas, senão que o governo luta e se esforça em todas as frentes por ultrapassar essas dificuldades, o governo está consciente dessas dificuldades e faz o máximo esforço; o povo também, os operários, os camponeses, devem fazer o máximo esforço, porque esta Revolução não é nossa, dos homens do governo, esta Revolução é de vocês, esta Revolução é dos operários, esta Revolução é dos camponeses. 
Cumprimos simplesmente com nossos deveres, com o trabalho que nos corresponde, mas nossas preocupações não são diferentes das suas, e as preocupações de vocês não são diferentes das nossas (APLAUSOS). 
Quando algo funciona mal dói a vocês, mas a nós também nos dói.  Talvez por nossas obrigações nos doam ainda mais as coisas da pátria, que não funcionem como devem, que não marchem como devem; a todos nos dói por igual. 
Não é como antes, antes os governos se despreocupavam, seus interesses eram diferentes aos interesses do povo, em nada lhe doíam as coisas do povo, e em nada lhe doía ao povo a sorte dos governantes. Hoje, não; hoje não é o governo dos poderosos, dos milionários, dos politiqueiros, dos ladrões, dos farsantes, dos entreguistas, é o governo dos revolucionários, é o governo dos humildes, pelos humildes e para os humildes!  (APLAUSOS.)
 
Aqui nenhum homem da Revolução tem fábricas, nem tem negócios, nem tem contas bancárias, salvo que algum possa ter, dos salários modestos que receba, o que pode ter qualquer operário; os homens da Revolução não recebem comissões de ninguém, nem prebendas de ninguém, nem ninguém os suborna, nem ninguém os compra. Os anteriores viviam vendidos ao estrangeiro, vendidos aos milionários ianques. Os homens da Revolução se devem ao povo, se devem aos operários, aos trabalhadores, aos camponeses. E sua sorte é a sorte do povo, e seu destino é o destino do povo, e sua vida é a vida do povo!  (APLAUSOS.)  Com a Revolução correrão todos os riscos, com a Revolução suportarão todos os sacrifícios. 
E se face às dificuldades do povo, os inimigos da pátria, os odiosos agressores estrangeiros, e sua coorte de vende-pátrias, parasitos, farsantes, expulsados como pus do seio da sociedade cubana (APLAUSOS), lombrigas de todos os tipos, sanguessugas, chupadores de sangue, criminais de todo tipo, que matavam com a metralhadora ou matavam com a fome e com a enfermidade, se alguma vez se fizeram ilusões de que possam encontrar fraqueza em nosso povo; se alguma vez se fizeram ilusões de que produto de seus vandálicos atos de agressão e de bloqueio lhes coubesse a mais mínima esperança de voltar implantar seu reinado de fome, de privilégio e de terror sobre o solo da pátria de Martí e de Maceo, sobre o solo da pátria...  (APLAUSOS PROLONGADOS), sobre o solo que tem dado tantos heróis à luta pela independência e pela liberdade; se sonharam por um minuto sequer que podem voltar a tornar párias nossos camponeses, em escravos nossos operários, em seres humilhados os homens e mulheres humildes do nosso povo; se acreditam que podem voltar a implantar seus crimes, seus assaltos, seus abusos, suas injustiças, seus roubos, seus vícios, seus garitos, suas malversações, suas torturas, se acreditaram nisso um só segundo, saibam que os homens da Revolução são isso:  revolucionários, homens que como não fazem revolução senão por vocação —e não como eles, governantes por negócio, funcionários públicos por lucro—, os homens da Revolução vivem em cada latido do coração do povo, sofrem com cada átomo de dor do povo, sofrem a dor do povo (APLAUSOS); com o povo sofrem suas dificuldades, suas esperanças são as mesmas; com o povo vivem o presente, e com o povo pensam no porvir. 
 
Portanto, parasitos vendidos ao imperialismo, se têm alguma ilusão, saibam que para liquidar esta Revolução terão que liquidar o povo de Cuba (APLAUSOS), terão que liquidar os melhores homens e as melhores mulheres da pátria! 
Porque fazemos um apelo ao povo, não ao parasito que fique por aí como sonâmbulo pensando no minuto em que os infantes de marinha possam vir implantar sua odiosa dominação na pátria. Pensamos, quando falamos de povo, naqueles que trabalham, naqueles que produzem, naqueles que têm coração e alma honrados, naqueles que querem sua pátria, sua terra, naqueles que têm vergonha, naqueles que têm decoro, naqueles que têm dignidade. 
E como a Revolução é a vida do povo, a vida e o porvir do povo, a vida e o porvir de todos os revolucionários, com a Revolução teriam que liquidar até o último revolucionário (APLAUSOS). 
Os homens da Revolução somos cientes das dificuldades, das deficiências, e lutamos e lutaremos contra elas. Cada vez somos mais cientes disso, cada vez fazemos maiores esforços, cada vez prestamos mais atenção a esses problemas, cada vez nos esmeramos mais em encontrar os homens e mulheres do povo mais competentes para o trabalho, para o cumprimento de suas obrigações. Por isso, mesmo quando restem muitas deficiências e dificuldades contra as quais lutar, saiba o povo, saibam nossos camponeses e nossos operários da determinação do Governo Revolucionário de envidar seu máximo esforço, de lutar uma a uma contra todas as deficiências, contra todas as dificuldades. 
E saibam os camponeses que têm na classe operária verdadeiros amigos, seus verdadeiros irmãos, seu verdadeiro aliado, que tem feito por eles tudo o que tem estado ao alcance de suas mãos fazer, que para eles deseja o melhor, e que para eles os direitos dos camponeses são sagrados. E por isso a política traçada pela Revolução relativamente aos pequenos agricultores, a política proclamada pela Revolução em relação com os pequenos agricultores, os aliados da classe operária, sua decisão de respeitar, como coisa sagrada, os direitos, os sentimentos, as tradições, os costumes e os desejos dos camponeses. 
 
A Revolução socialista se faz muito mais facilmente nas cidades, nas grandes fábricas.  Na grande fábrica se concentram centenas, milhares de proletários, a socialização praticamente está feita. Não é como no campo, as situações são muito diferentes; é preciso distinguir, e nós distinguimos com toda clareza o que era um grande proprietário do que é um pequeno agricultor.  A diferença, como o pequeno agricultor trabalha ele, trabalha sua família, são produtores, e como tais produtores e tais trabalhadores são dignos da admiração, do respeito e do carinho dos demais trabalhadores, isto é, da classe operária. 
Por isso, quando os contra-revolucionários tentavam plantar o medo e falavam para o camponês: "Vão te cooperativizar", o Governo Revolucionário esclareceu, com toda clareza, sua política para com o pequeno agricultor, de respeito à sua vontade, às suas tradições, aos seus costumes. Seguiu uma política com os grandes latifundiários, praticamente os confiscou, para organizar os centros de produção agropecuária, onde têm encontrado emprego centenas de milhares de trabalhadores; liquidar o tempo morto, dar emprego o ano todo. Organizou as fazendas, organizou as cooperativas canavieiras, mas as cooperativas canavieiras se organizaram em latifúndios canavieiros, diferenciam-se muito pouco das fazendas, são praticamente iguais; e por isso nós em Camagüey explicávamos a conveniência de assimilar o status quo, isto é, as normas das cooperativas canavieiras nas fazendas do povo. A verdadeira associação é a que se produz com os pequenos agricultores, com os camponeses que já tinham terra, como proprietários ou como arrendatários, ou como posseiros; hoje todos são proprietários de suas parcelas. 
Nessas cooperativas canavieiras o governo nomeava o administrador. Na verdade eram proletários agrícolas os que trabalhavam ali, mas a verdadeira associação no campo, a verdadeira produção em cooperação é a que surge do pequeno agricultor, que se reúne com outros agricultores, com os que ele quiser, se ele quiser!  Porque deseje receber os benefícios de uma produção mais técnica; de poder construir um pequeno povoado onde more não uma família isolada, mas um grupo de famílias, de construir melhores casas, de receber a luz elétrica, de utilizar melhor as maquinarias, os equipamentos de rega. O camponês que se junte, se ele quiser, com aquele que ele quiser, sem que tenha que intervir a administração pública para nada, sem que tenha que nomear administradores; porque quando se carecem de quadros, de pessoas experimentadas, como agora, é uma dor de cabeça quando é preciso procurar um administrador, um bom administrador. 
Por isso temos visto com tanto agrado as sociedades agrícolas que têm surgido, devido à união de diversos camponeses, que eles mesmos planejam tudo, organizam tudo, nomeiam ou demitem aquele que os administra, e quem é administrador tem que trabalhar como os demais, e ganha como os demais. Isso significa para a administração revolucionária uma grande vantagem, porque não tem que procurar funcionários, nem nomear administradores, nem preocupar-se de como marcha aquele, porque são os mesmos camponeses os que o organizam, os que planejam, os que fiscalizam, os que controlam; e então o único que tem que fazer o Governo Revolucionário é facilitar-lhes os recursos, os créditos, os adubos, a maquinaria, e comprar-lhe seus produtos. 
Naturalmente que não é a mesma coisa discutir com 100 000 indivíduos isolados do que discutir com 10 000 associações de 10 indivíduos cada, coloco um exemplo. É muito mais fácil. Quando vier a eletrificação rural é possível levar a eletrificação aonde tem grupos de famílias morando juntas, porque caso contrário haveria que tender, fazer um tendido para cada casa. As escolas servem muito melhor às crianças quando estão onde tem um grupo de casas, os serviços médicos, os serviços dentais, a agricultura é muito melhor quando se faz com tratores, com rega; produz mais, rende mais o trabalho humano. Por isso observamos com interesse as sociedades que têm surgido, como funcionam. E temos notícias verdadeiramente encorajadoras do sucesso que têm tido alguns camponeses. 
Mas, qual é a política da Revolução? O respeito mais absoluto à liberdade, à vontade e aos desejos do camponês, como disse aqui o companheiro Pepe Ramírez; que o camponês era absolutamente livre, que nenhum camponês tinha que preocupar-se nunca, que a Revolução respeitaria sua vontade como pequeno agricultor, como ele disse, se quiser ficar toda sua vida sozinho, cultivar e trabalhar como ele quiser, como ele desejar, como ele considerar que lhe convém mais. A Revolução respeita isso: o que o camponês considere que é sua conveniência, que é sua vontade, que é seu desejo, o que mais ele gostar. 
O camponês tem garantido esse respeito, o pequeno agricultor, quando vier um intrigante a querer confundi-lo, pode replicar-lhe com estas palavras, com esses mesmos argumentos, com a segurança de que a Revolução foi feita para ajudá-lo, para seu benefício em todas as ordens e em todos os campos. 
Não temos pressa. Confiamos no desenvolvimento da Revolução, no avanço dos nossos camponeses, com a educação, com as novas experiências, com as novas gerações de camponeses que se vão formando. Nisso consiste o processo revolucionário. Nessas bases existirá a aliança dos operários e dos camponeses, e isso quer dizer a aliança operário-camponesa; essa mútua ajuda, esse mútuo intercâmbio de produtos e de serviços, essa irmandade, essa união, essa confiança no porvir dos nossos trabalhadores e dos nossos camponeses, que vêem na Revolução sua Revolução, na liderança revolucionária e no Governo Revolucionário seus dirigentes, seus governantes, seus companheiros. 
E vocês, os pequenos agricultores, podem ter essa confiança, podem ter essa segurança. E é a que devem inculcar a seus companheiros, e explicar-lhes, falar com eles, orientá-los; explicar-lhe constantemente e recordar-lhe ao camponês como era no passado, como é o presente, como será o futuro da pátria, e como esse futuro só o poderemos conseguir trabalhando, lutando, sabendo passar por todas as provas presentes, estoicamente, abnegadamente. 
Como podem vir assustar-nos os imperialistas com suas ameaças, com seus bloqueios, com suas agressões, com as dificuldades que tenhamos? Por acaso se esquecem da história deste povo? Por acaso se esquecem que nosso povo lutou durante 100 anos por sua liberdade, que em 1868 começou sua primeira guerra libertadora? Esquecem que este povo é descendente daquele povo que em 1868 lutou 10 anos, e 10 anos batalhou no mato, e 10 anos passou fome e 10 anos morreu em nossos campos? (APLAUSOS). Esquecem que os nossos homens daquela geração morriam nos campos, que seus filhos nasciam nos campos e no meio da guerra? 
 
E este povo nosso resistiu 10 anos de batalha desigual, e regressou à luta e sem se desencorajar face aos reveses; voltou de novo em 1895. E apesar que os imperialistas truncaram suas aspirações; apesar que nossa pátria de colónia espanhola passou a ser colónia ianque, este povo continuou lutando, e lutou. E lutou em todos os tempos; e lutou nas décadas passadas; e lutou contra Machado, e fez aquela revolução que de novo os imperialistas truncaram, que de novo os imperialistas impediram com suas intervenções; e lutou quantas vezes foi preciso, e chegou um dia a conquistar a plena independência que ostenta hoje!  (APLAUSOS); chegou um dia a içar com plena liberdade sua bandeira gloriosa! 
E este povo tem lutado 100 anos, 100 anos. Geração após geração, lutou 100 anos; dezenas de milhares, centenas de milhares de heróis, de mártires, nesse longo caminho por conquistar esta liberdade, por conquistar este direito a chamar-nos povo livre, povo soberano, povo independente, dono de suas riquezas, dono de suas minas, dono de suas terras, dono de suas fábricas, dono, portanto, de seu porvir (APLAUSOS). 
Aquilo que nos levou 100 anos conquistar, 100 anos o estaremos defendendo se for necessário! Cem anos lutando e morrendo, se for necessário! Mas cem anos fazendo sacrifícios, para que já nunca mais nos possam arrebatar a soberania que temos conquistado, a liberdade e a independência que temos conseguido! O direito a levar pelo mundo a testa ao alto e que o mundo nos respeite! 
Pátria ou Morte!
Venceremos!
(OVAÇÃO)

VERSÕES TAQUIGRÁFICAS