Discursos e Intervenções

DISCURSO PROFERIDO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ NO ATO CELEBRADO POR OCASIÃO DO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DA CRIAÇÃO DOS COMITÊS DE DEFESA DA REVOLUÇÃO, NA PRAÇA DA REVOLUÇÃO, A 28 DE SETEMBRO 1962

Data: 

28/09/1962

Companheiros da presidência;

Companheiros dos Comités de Defesa da Revolução (PALMAS):

Completamos este segundo aniversário com uma poderosa organização de massas, digna da esperança que a Revolução depositou nela.  Esse desenvolvimento rápido de uma organização deste género é um testemunho evidente do poder revolucionário das massas, da capacidade do povo para se organizar.

Os Comités de Defesa da Revolução têm-se transformado numa força importante da Revolução e numa trincheira que incute respeito aos inimigos da nossa pátria.  Os Comités de Defesa da Revolução têm-se transformado ainda, numa instituição nova, numa contribuição da Revolução Cubana para a experiência cada vez mais rica da humanidade.

O sucesso dos Comités de Defesa da Revolução tem despertado o interesse de outros povos do mundo pelas suas características, pela estrutura e pelo funcionamento de uma organização de massas deste género.  E não causaria estranheza que outros povos revolucionários, a dada altura, criassem também para combater a contra-revolução Comités de Defesa da Revolução (PALMAS).

Ao completar-se este segundo aniversário, podemos não só dizer que os Comités de Defesa têm cumprido com a tarefa para a qual foram criados, senão que os Comités de Defesa ultrapassaram os moldes das funções que a dado passo inspiraram a sua criação, atendendo a que os Comités de Defesa da Revolução não só tem defendido a Revolução com o seu agir e com a sua vigilância, senão que os Comités de Defesa da Revolução resultaram serem também instrumentos de outro conjunto de actividades sociais.

Os Comités de Defesa da Revolução tem realizado outras muitas tarefas, para além de actuar e de vigiar; os Comités de Defesa tem realizado tarefas no domínio da educação; os Comités de Defesa tem realizado tarefas no domínio da saúde pública; os Comités de Defesa tem realizado recenseamento de vivendas; os Comités de Defesa tem organizado os provimentos.  E dessa forma, tem sido descoberta a virtude desta organização para realizar um conjunto de actividades administrativas, económicas, e, enfim, para realizar um esforço criador para além dos seus objetivos iniciais.

O entusiasmo dos companheiros dos Comités de Defesa da Revolução é proverbial.  Põem em prática imediatamente qualquer tarefa que lhe seja encomendada y se pode contar com o sucesso de qualquer gestão por eles realizada.

O grande mérito deste sucesso radica, fundamentalmente, no facto de esta organização ter tirado os seus quadros das próprias massas.  Não se contou desde os inícios com um grande número de quadros, não é que se contasse desde os inícios com companheiros experientes em organização, senão que na marcha dos trabalhos da organização tem-se ido formando os quadros, na marcha dos trabalhos da organização tem-se ido destacando milhares e milhares de homens e de mulheres da massa, descobrindo as suas qualidades de organizadores.

Por conseguinte, se até ao presente o trabalho desta formidável organização de massas tem resultado sucedido, é de supor que doravante possa prestar serviços ainda mais úteis ao país.  E para tal, tanto a organização política da Revolução, como o Governo Revolucionário, tem-se interessado pela formação de quadros para esta organização de massas.  É assim que já se organizou a primeira escola de quadros (PALMAS)  dos Comités de Defesa da Revolução, com 215 alunos.  Tal significa que a organização está a promover quadros experientes e capazes destinados a melhorar extraordinariamente a sua estrutura e o seu rendimento.

Uma vez finalizado este curso, uma outra promoção de quadros estará em formação nessa escola.

Não temos dúvidas de que nos meses vindouros esse esforço se fará sentir, e a efectividade desta organização será cada vez maior; e tal unido aos esforços das restantes organizações de massas, os sindicatos obreiros, a Federação de Mulheres, as organizações camponesas, as organizações estudantis, e, aliás, a pujante organização política da juventude (PALMAS), bem como o avanço dos trabalhos para a formação do Partido Unido da Revolução Socialista (PALMAS), implica que ao completar a Revolução o seu quinto aniversário - quinto aniversário, sim senhor, muito embora isso incomode os reaccionários e incomode os imperialistas!  (PALMAS)—, ao completar o seu quinto aniversário, isto é, a 1 de Janeiro de 1963, tendo em conta que a nossa Revolução marcha com o ano, teremos condições bem superiores àquelas que tivemos neste ano, porque teremos um partido forte e bem organizado (PALMAS), apoiado por um conjunto de organizações de massas que reúne a esmagadora maioria do nosso povo, que com essa força desenvolvida e organizada estará em condições de dar à Revolução um grande impulsionamento. 
Mas, não teremos apenas esses factores ao nosso favor, senão que também teremos o plano económico do ano de 1963, alicerçado nas experiências adquiridas neste ano, será um plano mais completo e, ao mesmo tempo, poderá contar com o conjunto de conhecimentos, a grande aprendizagem que no domínio campo económico temos ido adquirindo durante o ano.  Tal, ligado ao facto de que esperamos também que para 1963 estejam estabelecidas as normas de trabalho, as escalas de salário e os métodos de controlo da produção económica, o nosso país entrará no seu quinto aniversário revolucionário (PALMAS)  em melhores condições do que nenhum dos anos anteriores. 
A Revolução tem feito muitas coisas nestes quatro anos, em virtude do dinamismo do povo, do seu entusiasmo; tem feito muitas coisas; a despeito das circunstâncias adversas, da agressão constante e de todos os obstáculos que os seus inimigos tem tentado colocar no seu caminho. 
Não obstante, o nosso povo pode fazer ainda mais do que isso tudo.  O nosso povo começa a ter qualquer coisa que não tinha no primeiro ano, nos primeiros tempos da Revolução:  o nosso povo começa a ter experiência. 
Em princípio era o entusiasmo, o dinamismo; mas entusiasmo e dinamismo não eram suficientes. 
Fizeram-se grandes alterações, fizeram-se muitas leis revolucionárias, porém as mudanças de estrutura e as leis revolucionárias não funcionam sozinhas.  Os problemas não são resolvidos por geração espontânea; as coisas têm que ser feitas, os problemas tem que ser resolvidos. 
E se ao entusiasmo e ao dinamismo juntamos a organização, juntamos uma consciência superior dos nossos deveres e juntamos a experiência, os avanços da Revolução serão mais sólidos e ainda mais rápidos. 
Na medida em que decorrem os anos, na medida em que compreendemos melhor as nossas obrigações e as nossas tarefas, a nossa segurança cresce, a nossa confiança no futuro cresce, as nossas esperanças de sucesso são ainda maiores. 
E o nosso povo, um povo já mais aguerrido, um povo mais consciente, um povo mais maduro, um povo mais organizado, um povo mais experiente, pode marchar para um futuro de bem-estar e de progresso com passos mais firmes e ainda mais rápidos. 
E o quinto ano da Revolução deve caracterizar-se por isso, o quinto ano da Revolução deve implicar um salto da Revolução. 
É esta uma questão mais do que de discursos, mais do que de palavras, de factos.  E devem ser os factos os que respondam às nossas aspirações.  E nós somos cientes de que os factos vão responder (PALMAS). 
Do ponto de vista das nossas dificuldades económicas, temos estado a atravessar, e vão ficando para trás, as etapas mais difíceis.  Não significa isso que, de repente, desapareçam todas as nossas dificuldades; mas podemos dizer que doravante as nossas dificuldades económicas serão menores, e que o nosso país inicia um processo de crescimento na sua economia (PALMAS).  Tal não significa que de vez vamos ter tudo que precisamos, mas que dia após dia iremos tendo cada vez mais tudo que necessitamos (PALMAS). 
E o facto de que o nosso país tenha atravessado vitoriosamente estes tempos difíceis a despeito do esforço dos seus inimigos, fala muito em favor do nosso povo, e fala muito em favor da solidariedade internacional dos povos (PALMAS). 
É preciso que a gente compreenda que a Revolução significa não o auge do luxo, nem o auge das despesas desnecessárias, não o auge dos privilégios das minorias; a Revolução tem que trabalhar para as massas, e o auge deve ser o auge das massas. 
Não quer dizer que no nosso país tenhamos nos anos vindouros mais viaturas.  O que o nosso país terá nos anos vindouros, será muito mais equipamento agrícola (PALMAS), muito mais equipamento da construção (PALMAS), muito mais camiões (PALMAS), muitos mais barcos pesqueiros, (APLAUSOS), muito mais barcos mercantes (PALMAS); porque o que o nosso povo precisa hoje não são artigos de luxo, não são artigos para minorias (PALMAS).  O que o nosso país precisa são instrumentos de trabalho, muitas mais fábricas (PALMAS), porque esses instrumentos de trabalho são os únicos que podem garantir o progresso não de uma minoria, senão o progresso das massas (PALMAS). 
Quando o trabalho e os instrumentos de trabalho de um país produzem para uma minoria, essa minoria pode ver crescer rapidamente os seus recursos e o seu bem-estar; porém quando os recursos humanos e os instrumentos de trabalho de um país estão em função de toda a nação, e quando aqueles que avançam não são alguns poucos senão todos, e quando o fruto do trabalho é partilhado entre todos (PALMAS), então esse auge será passo a passo, mas todos serão beneficiados desse auge. 
A sociedade que nós conhecíamos não era assim; era a sociedade em que o povo trabalhava para alguns poucos, e esses poucos progrediam e tinham de tudo.  Construíram alguns milhares de palácios, adquiram dezenas de milhares de luxuosas viaturas de passeio, consumiam as melhores coisas do mundo; qualquer um deles não se sentiria bem aqui, isso é compreendido por qualquer homem ou mulher do povo.  Não se sentirá como o camponês que andava descalço, que não sabia ler nem escrever, que não tinha - não já uma viatura— nem sequer uma lâmpada acessa na sua casa, nem um médico, nem um caminho, nem uma ajuda. 
Não é o caso do obreiro de família numerosa que vivia num bairro de indigentes, e hoje pode viver num apartamento de três ou quatro habitações, a pagar uma renda muito baixa. 
Quer dizer que aqueles da minoria que tinham tudo, não se podem sentir bem no meio de um processo revolucionário como este.  Aqueles que não tinham nada e hoje têm alguma coisa, e sabem que cada dia vão ter mais, pensam bem diferente (PALMAS).  Para eles é que se faz a Revolução, por eles luta e trabalha a Revolução. 
E é preciso dizer que essa maioria tem tido uma fe indestrutível na Revolução (PALMAS); há que dizer que essa maioria tem sabido passar as provas mais difíceis da Revolução (PALMAS); há que dizer que essa maioria jamais se desencorajou, nem jamais se amedrontou; há que dizer que essa maioria manteve-se firme (PALMAS). 
A minoria fraquejou, tremeu, fugiu uma boa parte.  Houve quem fraquejou na sua fe, houve quem se desencorajou, houve quem se amedrontou.  A esses não pertence, nem pertencerá jamais o futuro (PALMAS).  A esses não pertence, nem pertencerá jamais a vitória.  Esses não contam para a história (PALMAS).  A vitória é dos firmes (PALMAS), dos corajosos.  Á vitória é e será sempre das massas (PALMAS). 
Pode-    se falar assim.  E temos provas do nosso sucesso, e essas provas estão a ser dadas pelos nossos inimigos. 
Após aquele ataque covarde que teve lugar no mês de Abril do ano passado, os imperialistas concentraram toda a sua fe e todas as suas esperanças nas consequências do bloqueio económico.  Tendo em conta que o nosso país tinha sido privado dos seus mercados tradicionais, que de repente o nosso povo se viu perante o facto de que tinham sido tomadas brutais medidas económicas contra ele, e não só nos mercados de um país, senão que se fez tudo quanto possível para o privar do mercado de outros países, ao passo que ficou-lhe proibida totalmente a exportação de qualquer peça de reposição ou matéria prima para indústrias que tinham que funcionar com essas peças, para um transporte que tinha que funcionar com essas peças, e por vezes, matérias primas insubstituíveis dada a estrutura da fábrica; eles colocaram toda a sua esperança em que nos conseguiriam derrotar, em que nos conseguiriam submeter, em que a fome nos desfaleceria, que a doença e a pobreza se apropriariam do nosso país, e que em resultado disso o nosso povo, longe de afrontar com toda a dignidade essas agressões, insurgir-se-ia não contra os agressores, senão contra aqueles que lutam pelo seu destino e pela sua sorte (PALMAS); que se colocaria contra uma revolução que tem sido regada com o sangue e o heroísmo dos seus melhores filhos (PALMAS), e que libertou a pátria da vergonhosa opressão. 
Imaginaram que esse povo se revoltaria não contra aquele que o manteve submetido e que o pretende voltar a submeter, senão contra a Revolução que quebrou as suas algemas.  Acreditaram que essa táctica covarde, essa estratégia desumana de derrotar um povo que não tem cometido outro delito que desejar a justiça (PALMAS), que desejar o seu progresso, que ser dono dos seus próprios destinos, que limpar do solo da pátria a miséria, a incultura, o vício e a exploração desumana na qual vivia, a sociedade repugnante de privilégios na qual vivia (PALMAS), acreditavam que essa estratégia desumana que de tal maneira se assanhou contra um povo pequeno, acreditavam que essa estratégia os conduziria para o éxito. 
Já se passou quase um ano e meio daquela criminosa invasão.  E no entanto, o bloqueio económico, a estratégia de fome, continua sem acusar resultados.  Por conseguinte, os inimigos do nosso povo começaram a desesperar. 
Ao falhar a esperança de destruir a Revolução a fome e através do bloqueio económico, ressurgiram mais uma vez os perigos do ataque armado.  Porém como já o ataque armado não podia ser o ataque de mercenários, tendo em conta que a capacidade de combate do nosso povo tinha crescido de tal forma que quaisquer invasão de mercenários seria varrida em questão de minutos (PALMAS), o perigo que se acentuava não era o das invasões mercenárias, senão o papel de ataque directo. 
Os imperialistas desesperavam-se cada vez mais perante o fracasso da sua estratégia de fome, seguida da estratégia de subversão e de ataque directo que tinham utilizado; o perigo de ataque directo acentuava-se, devido ao falhanço de todas as medidas anteriores, apenas lhes restava a última e desesperada medida de nos atacarem directamente.
Perante esse facto, o que pretendiam os imperialistas?  Que ficássemos de braços cruzados?  O que pretendiam os imperialistas:  que fizéssemos o papel de mansos cordeiros? Que ficássemos desarmados? 
Quem é que desconhece que os imperialistas desde os inícios pretenderam, que não conseguíssemos armar-nos?  Quem não sabe     que enquanto preparavam os seus mercenários na Guatemala, faziam rebentar o navio “La Coubre” para que não pudéssemos receber armas, assassinando ali 80 trabalhadores e soldados?  (PALMAS). 
É lógico que aqueles que pretendem atacar um país não desejem que esse país fique armado. 
Por que dizia que os nossos inimigos, com as suas acções e as suas palavras, estão a reconhecer os nossos éxitos?  Porque se os imperialistas acreditassem que iriam afogar a Revolução a fome, se os imperialistas acreditassem que a Revolução iria fracassar, se os imperialistas acreditassem que a Revolução se afundaria perante os obstáculos, não estariam a falar em tantas invasões, não estariam a proclamar tanto as suas intenções belicistas, porque quando pedem e reclamam para que sejamos agredidos, estão a reconhecer que a Revolução marcha para a frente, que a Revolução está a triunfar (PALMAS), que a Revolução progride; porque se acreditassem naquilo que eles estão a afirmar, se acreditassem que a Revolução se iria afundar perante o impacto das agressões económicas, então para quê enviar soldados, para quê enviar barcos de guerra, para quê estabelecer um bloqueio naval?  Para quê, se a Revolução iria fracassar, se a Revolução se iria afundar? 
O tremendo barulho que tem formado, a histeria que se tem desatado nos círculos governantes dos EUA demonstram, melhor do que nenhuma outra coisa, que eles já não acreditam nisso, demonstram que estão convencidos de que a Revolução Cubana atravessou com sucesso as suas maiores dificuldades, e que a Revolução Cubana está a caminhar para à frente (PALMAS). 
Evidentemente, eles já estavam a compreender isso, e claro que essa realidade era para eles muito dolente, e aproximava-nos, portanto, a todos nós, ao perigo de que num acto desesperado, fracassadas as suas campanhas de subversão, os seus ataques indirectos, as suas agressões económicas, viessem cometer o disparate de invadir militarmente o nosso país. 
E perante isso, ao que parece os senhores imperialistas —que têm uma lógica muito particular e muito peculiar— pensaram que face as suas tentativas agressivas o nosso dever era baixar a guarda e desarmar. 
¿Os imperialistas ficam indignados de quê?  Ficam indignados, simplesmente, de que o nosso povo se esteja a armar e que o nosso povo esteja a tomar toas as previdências para defender a sua segurança (PALMAS). 
Acho que não vale a pena falar em lógica, não vale a pena falar em razões.  Quaisquer pessoa compreende que os factos e os actos dos imperialistas não se ajustam a nenhuma lógica, não se ajustam a nenhuma razão, não se ajustam a nenhum direito.  Eles falam da sua segurança, e será possível?, Por acaso tem sentido que esse país se refira ao nosso como de um perigo quanto à sua segurança?  Não é este, para além de um argumento ridículo, um argumento covarde?  Não constitui uma vergonha que esses senhores senadores, governantes de um país poderoso que mantém forças militares em dezenas de sítios do mundo e que investe 55 000 milhões de dólares em armamento, fale de que o nosso país representa um perigo para a sua segurança; e que, aliás, ameace com atacar o nosso país por essa razão, isto é, pelo facto de que nós —falando na nossa segurança com mil vezes mais direito que eles—determinemos armar-nos?  (PALMAS).  Porque nós não gastamos 55 000 milhões de dólares em armas e em exércitos.  Como é que eles, que gastam centenas de vezes mais dólares do que nós, podem falar de que o nosso país constitui um perigo para a sua segurança?  Isso para já é tão absurdo e tão ridículo que unicamente entra na mente desses senhores.  A sua falta de argumentos e de razões é tal, que tem que recorrer a semelhante argumento.
O que é que lhes incomoda?  Qual a razão do seu protesto?, Será que por acaso há realmente algum perigo para a segurança daquele país ?  Não!  O que lhes incomoda e a razão do seu protesto é que nos estejamos a armar.  Mas porquê?  Porque eles tencionavam agredir o nosso país.  E, então, apenas quem pretende agredir um país pode protestar de que esse país se esteja a armar para se defender e esteja a tomar as previdências necessárias para se defender (PALMAS).  Protestam de que estejamos dispostos a nos defender.
Porém, para além de que o direito mais legítimo que pode ter qualquer povo é o direito a tomar todas as medidas que necessário para preservar a sua integridade, Quem são os imperialistas para dizer se nós temos ou não direito de nos armar?  (PALMAS)  Quem são os imperialistas para decidir sobre essa questão nossa?  Será que os imperialistas não acabam de entender que Cuba não faz parte do território dos EUA (PALMAS), E que aqui, neste país, as suas leis não têm nenhuma validade, e os seus acordos não têm nenhuma validade.  Desde quando o Senado de qualquer país, o Congresso de qualquer país, ou o Governo de qualquer país, pode dizer a um país livre e soberano aquilo que deve ou não deve fazer?  (PALMAS). 
E que direito tem um país agressor a decidir sobre as medidas que um país agredido tenha direito a tomar para se defender do agressor? 
Indiscutivelmente que o mundo que se encerra no cérebro de um senador ou um representante ianque não é um mundo redondo; é um mundo que tem forma de funil, daí a política de duas medidas. 
É possível que a incultura, a ignorância, a irresponsabilidade...?  Porque esses senhores, para além de ser reaccionários, imperialistas, belicistas, caloteiros, traficantes de mortes (EXCLAMAÇÕES), são uns irresponsáveis; são mais do que irresponsáveis.  E claro como estão próximas as eleições nos EUA, a politiquice entrou no jogo.  Então, o que fazem os politiqueiros?  Tentam estimular o ódio e a histeria, tentam empurrar o país para uma agressão, com o intuito de tirar um proveito político, isto é, de uns partidos contra outros.  E então aí, na Câmara e no Senado, há uma verdadeira concorrência de irresponsabilidade para ver quem grita mais, quem é mais histérico, quem desempenha melhor o “papel de águia” com relação à Revolução Cubana (PALMAS), e em grande parte sob a influência de terem eleições em Novembro. 
E não se importam com estar a brincar com aquilo que estão a brincar, não se importam com estar a brincar com a paz do mundo, não se importam com estar a brincar com os destinos do seu povo e brincam à guerra; dançam no gume da guerra, à beira do precipício, e se fossem eles a caírem nesse precipício...  No entanto, a questão é que à beira desse precipício estão a colocar o seu próprio país. 
Representamos nós um perigo para a segurança dos EUA?  Não!  Tal é tão ridículo que não vale a pena nem o comentar.  Os que constituem um perigo para a segurança dos EUA são aqueles senhores que estão a promover o jogo da guerra, aqueles que estão a promover a histeria contra Cuba (PALMAS), e aqueles que pretendem empurrar o governo desse país para uma aventura belicista; porque esses é que constituem um perigo para a segurança dos EUA.  O perigo constituem-no a sua política, as suas agressões, as suas pilhagens e as suas tentativas agressivas.  Esse é o verdadeiro perigo, o único perigo que pode existir para a segurança dos EUA.  O resto é estupidez, o resto é ignorância, tudo que resta é pura e simples irresponsabilidade. 
Nós, como homens conscientes, como povo consciente, não podemos desejar uma guerra de maneira nenhuma. Nós, como povo dedicado a trabalhar pelos seus destinos e pelo seu futuro, o que precisamos é de paz, o que precisamos é de poder dispor das nossas energias e do nosso tempo para trabalhar, para produzir, para estudar, para progredir. 
Nós, aliás, não só pelos nossos próprios interesses, senão pelos interesses de toda a humanidade, nunca poderemos ser a causa de nenhum conflito, de nenhuma guerra, nunca agrediremos ninguém.  Isso é tão lógico..., isso é que é lógico (PALMAS), e qualquer pessoa consciente o compreende, qualquer pessoa que bata bem compreende isso. 
E para além disso, compreende ainda quais os direitos do nosso povo e compreende que o mundo não tem forma de funil, senão que é redondo, e que, portanto, os nossos direitos não podem ser menos do que os direitos doutros povos, de nenhum país soberano; os direitos do nosso país não podem ser menos do que os direitos dos EUA. 
Se eles acham que têm mais direitos do que nós, é unicamente porque se sentem um país mais poderoso; quer dizer, com mais exércitos, com mais armas, com mais recursos para investir em questões militares.  Isto é, um direito de força. 
Tudo que eles dizem e fazem demonstra que a mentalidade dos governantes dos EUA alicerça na força.  Hoje eles já mostraram totalmente a sua verdadeira face.  Nós já não temos que denunciar os perigos que pairam sobre a nossa pátria, porque eles se encarregaram de provar, perante o mundo intero, toda a razão que nós tínhamos. 
O que eles tem feito, entre a histeria e a confusão destas últimas semanas?  Um conjunto de medidas à toa, uma série de declarações que constituem uma verdadeira maratona de irresponsabilidade, pressões sobre numerosos países do mundo para que os seus barcos não transportem mercadorias a Cuba.  Quanto mérito, quanta glória, quanta honra para um país grande, para um país poderoso, andar a saltitar pelo mundo fora, de governo em governo, a exigir às companhias mercantis que não façam negócios, emperrando um direito e uma norma e um interesse da humanidade!  Porque é interesse da humanidade manter relações comerciais entre os povos, é de interesse da humanidade o tráfico comercial, é interesse de todas as nações comerciar. Muitos países tem na marinha mercante uma das suas principais fontes de receitas. 
E assim os representantes do governo ianque saltitam pelo mundo a pressionar às companhias para que não tragam alimentos para Cuba.  Quanta glória estão chamadas a merecer essas acções!  Quanto prestígio! 
Ademais, tem convocado os chefes da diplomacia da América Latina, a porta fechada, no Departamento de Estado, em conciliábulo secreto.  Tiraram o disfarce! 
Tem aprovado na Câmara e no Senado uma resolução conjunta agressiva, cínica, intervencionista, na qual entre outras cosas, dizem aberta e descaradamente que vão ajudar os contra-revolucionários. 
Por suposto, isso não tem nada de novo; é isso que estavam a fazer.  Era isso que nós dizíamos que eles estavam a fazer e eles pretextavam que eram calúnias nossas.  A única coisa que fizeram, de uma maneira cínica e descarada é demonstrar aquilo que estiveram a fazer até agora (PALMAS).  É isso que tem feito. 
Com efeito, tudo isso cercado de uma atmosfera de desequilíbrio mental, de politiquice, de irresponsabilidade e de ignorância.  Esses senhores não sabem em que mundo estão a viver.  Alguns desses senhores acreditam que estão a viver no mundo de há 80 ou 60 anos atrás. 
Ainda não se inteiraram nem sequer dos anos que se passaram e das mudanças acontecidas no mundo.  Eles acreditam que estão a viver em princípios do século XX quando do início do grande auge do imperialismo, na época em que desembarcavam os seus fuzileiros em qualquer país da América Central ou em qualquer ilha das Caraíbas sem nenhuma consequência? 
Por acaso estão a sonhar esses senhores delirantes que ainda vivem na época da colónia espanhola?  Será que se imaginam naquela altura?  Será que estão com saudades daqueles tempos nos quais podiam fazer e desfazer, naqueles tempos em que traiçoeiramente arrancaram ao nosso país a sua soberania, o fruto de 30 anos de lutas heróicas, aqueles tempos em que humilharam os nossos gloriosos generais mambises, em que nos impuseram a Emenda Platt?  Será que sentem saudades daqueles tempos em que a palavra do embaixador norte-americano fazia tremer os políticos e os governantes? 
Outrora falava o embaixador ianque e tremiam os políticos.  Agora fala, não já o embaixador —que não há, foi retirado daqui, era inútil pois já não dava ordens— falam todos os senadores juntos, todos os representantes, todos os seus generais, e ninguém treme, ninguém se assusta com isso.  Para nós é uma coisa tão simples e tão evidente a falta de juízo desses senhores, a ausência total de juízo, é uma coisa tão evidente toda a razão histórica moral e legal que nos assiste, que a nenhum de nós nos prejudica os acordos, as palavras e as ameaças desses senhores. 
Esses senhores são como um tipo de praga, uma espécie de doença.  O imperialismo é a doença do mundo contemporâneo. 
Os perigos que a política de guerra dos imperialistas implica, constituem o mais sério problema para todos os povos nesta época contemporânea; são assim como uma praga, uma doença. 
No mundo actual há enfermidades de todo o género:  pragas, perigos naturais; e a humanidade luta contra isso, não se amedronta perante isso. 
Seria uma desgraça para a humanidade que o jogo da guerra, a política de guerra desses senhores, a política de chantagem, conduzisse o mundo para uma guerra.  Seria lamentável, bem lamentável não apenas para nós, senão para toda a humanidade, seria lamentável não só para o nosso próprio povo e os estantes povos do mundo, senão até para o próprio povo dos EUA. 
Porque esses senhores irresponsáveis, inconscientes, que não compreendem a época que o mundo está a viver, que têm conceitos ultrapassados do direito internacional, constituem um perigo para a humanidade e um perigo para o próprio povo dos EUA, que pode ser vítima dessa política estúpida, dessa política irresponsável. 
E então, nós perante esse perigo, perante esse facto real que põe em causa a humanidade, qual deve ser a nossa atitude?  A nossa atitude, naturalmente, não é a de promover incidentes, não é a de deitar água na fervura, essa não é a nossa atitude.  A nossa atitude é simplesmente a de viver em paz, viver em paz com todos os povos e trabalhar pelo progresso do nosso país (PALMAS). 
Contudo, como é absurda essa situação, como é absurda a política desses senhores, que na mesma altura em o nosso país rubrica um convénio comercial, um acordo científico e de colaboração com a União Soviética para desenvolver a nossa frota pesqueira (PALMAS), esses senhores estão a caminhar pelas paredes, e enquanto o nosso povo praticamente começa a consumir o produto desses acordos, isto é, quando o nosso país começa a consumir mais peixe, os imperialistas ficam ainda mais histéricos.  E continuam com a sua confusão, na sua irresponsabilidade e na sua histeria.  Ficam assustados até dos barcos de pesca! 
Vivem, em abono da verdade, num estado de histeria, de medo, intoxicados com os seus conceitos reaccionários e desesperados perante a realidade dos povos que despertam, e que não se resignam a serem escravizados.  Constituem um perigo, constituem um surto de risco para toda a humanidade. 
Qual deve ser a nossa atitude?  Ficarmos muito sossegados, mas muito firme (PALMAS)  Baixar a guarda?  Não!  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Não!”)  Reforçar a guarda!  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Sim!”)  Desarmar?  Não!  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Não!”)  Armar-nos ainda mais!  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Sim!”)  Cruzarmo-nos de braços?  (EXCLAMAÇÕES DE:  “Não!”)  Tomar todas as providências necessárias (EXCLAMAÇÕES DE:  “Sim!”) para travar os imperialistas, para conter o ataque imperialista! 
Se os imperialistas acham que as suas ameaças nos tiram o sono, respondemos-lhes simplesmente:  “senhores, acordem pá, tirem essas ilusões da cabeça”.  Ao ameaçar-nos, apenas conseguem que nós fiquemos ainda mais em guarda (PALMAS), e tomemos mais providências.  Ao ameaçar-nos, a única coisa que fazem é justificar o nosso direito e dar-nos a razão.  Por acaso esses senhores, que hoje se dedicam a recrutar mercenários descaradamente no exército regular dos EUA, acham que aqui vão-se encontrar frente a um povo cheio de medo?  Não!  Se eles estão espantados a ver fantasmas, nós que não vemos fantasmas, que apenas estamos a ver a cara deles, que são mais do que fantasmas, contudo, não estamos espantados (PALMAS).  Aqui apenas vão encontrar um povo decidido a defender-se, vão encontrar um povo que não vai estar alerta.  Porque, senhores, face a essa concepção do direito baseado na força, nós temos a concepção do direito baseado na justiça e na dignidade (PALMAS); face aos desígnios agressivos dos nossos inimigos, a firme e imbatível decisão de defender-nos.  Este povo não permitirá que a liberdade e a soberania adquiridas a tão alto preço lhes sejam arrebatadas (EXCLAMAÇÕES DE:  “Não!“).  Este povo, que se sente dono dos seus destinos e que vive apaixonado pelo futuro, não vai renunciar a esse futuro (PALMAS); este povo não renunciará a sua dignidade, pelo contrário — será que esses senhores não sabem disso?—, que todo o homem digno e toda a mulher digna da nossa pátria preferiria mil vezes renunciar à vida do que renunciar à dignidade!  (PALMAS).  Preferiria renunciar mil vezes à vida do que à pátria livre!  Preferiria renunciar mil vezes à vida do que ao direito de levar pelo mundo a cabeça bem em alto!  (PALMAS),  Preferiria renunciar mil vezes à vida do que se resignar a viver escravizado, e preferiria mil vezes a morte do que a vida de cão escravo!  (PALMAS). 
Como é isso que sentimos, é mesmo isso que proclamamos.  E será que eles não sabem que desde o século XIX, os nossos mambises escreveram no hino da pátria “que viver encadeados, era viver em opróbrios e afrontas sumidos, e que morrer pela pátria é viver”?  (PALMAS).  Esta pátria nossa —nossa sim senhor!—, estamos decididos a defendê-la com o nosso sangue, com a nossa vida!  (PALMAS); estamos dispostos a defendê-la até ao último alento!;  Estamos dispostos a defendê-la custe o que custar:  o povo, e conjuntamente com o povo, o Governo Revolucionário!  (PALMAS).
E todos encararemos os riscos que necessários, cientes da razão que nos assiste e da honra que nos acompanha!; Porque aquele soldado ianque que morra a invadir esta terra, morrerá como criminoso, morrerá como invasor, morrerá como espezinhador dos direitos de um povo!  (PALMAS); e aquele que tombar morrerá como patriota, morrerá como herói, morrerá a defender a sua terra!  (PALMAS e EXCLAMÇÕES DE:  “Fidel, Fidel!”) 
Ianque que morra a invadir esta terra, morrerá como pirata perante os olhos do mundo, morrerá como bandido!  Cubano que morra a defender a sua terra, perante os olhos do mundo morrerá coroado de glória, acompanhado pelo direito e pelas simpatias de todos os povos do mundo!  (PALMAS). 
E se vierem, se vierem (EXCLAMAÇÕES DE:  “Morrem!”)  ...  muitos ianques vão morrer, porque eles não nos vão apanhar de surpresa (EXCLAMAÇÕES DE:  “Não!”), não nos vão a surpreender desarmados, não nos vão a surpreender descuidados!
Amanhã vamos responder à sua resolução, e o Governo Revolucionário dará cabal resposta à cínica resolução do Governo dos EUA (PALMAS e EXCLAMAÇÕES DE:  “Fidel, seguro, aos ianques dá-lhes duro!”). 
Se os imperialistas atacarem, vão encontrar cada fuzil, cada canhão, cada anti-aérea e cada tanque prontos para responder o ataque!  (PALMAS).  E em todos, em todos os cantos da pátria, os homens e mulheres do nosso povo vão se revoltar contra os agressores e vão lutar até exterminar os agressores!  (PALMAS). 
Para os invasores da pátria cubana não haverá paz nem haverá trégua, porque na consciência de cada homem, de cada mulher, de cada jovem, de cada idoso, estará o dever, o único dever:  exterminar os agressores!  (PALMAS).
Se os imperialistas atacarem, se os imperialistas atacarem os cubanos cumpriremos com o nosso dever.  Se nos calhar o papel de sermos vítimas da agressão, saberemos estar à altura da hora, e saberemos escrever a página de ouro da história que nos calhou escrever.  Os cubanos faremos a nossa parte, e sabemos que as forças que defendem a paz, as forças que hoje resistem e travam as loucas aventuras belicistas, estarão connosco (PALMAS).
Se os imperialistas julgarem de simples palavras as advertências do Governo soviético (PALMAS); se os imperialistas não acreditam —e oxalá acreditem!—; se os imperialistas desestimarem a solidariedade da União Soviética para com Cuba; se estiverem enganados —e oxalá não se enganem!—; se eles não acreditam, se eles não sabem, nós sim sabemos até onde abrange essa solidariedade! 
Pátria ou Morte!
Venceremos! 
(OVAÇÃO)

VERSÕES TAQUIGRÁFICAS